O que menos importa na nova rodada da pesquisa de opinião do Instituto Sensus para a Confederação Nacional do Transporte (CNT) é a queda registrada na popularidade do presidente Lula, simplesmente porque não está caracterizada uma tendência nesse sentido. Na rodada divulgada em junho, 81,5% dos brasileiros aprovavam o desempenho de Lula, e agora esse índice caiu para 76,8%, quase cinco pontos percentuais, acima da margem de erro da pesquisa, que é de três pontos percentuais.
As razões para essa queda são muitas, segundo o Sensus: desde a gripe suína até a disputa entre a ministra Dilma Rousseff e a ex-secretária da Receita Lina Vieira, passando pela crise no Senado. Mas toda a badalação propagandística e o nacionalismo anacrônico da campanha sobre o petróleo do pré-sal podem perfeitamente recuperar a popularidade do presidente.
Provavelmente ele já "precificara" essa perda quando entrou de cabeça na defesa do senador José Sarney, se ligando tão ostensivamente a políticos como Renan Calheiros e Collor e os que formam a "tropa de choque" da base governista.
Se levarmos em conta, no entanto, que Lula já teve, em janeiro, uma aprovação de 84%, veremos que lentamente sua cotação vai caindo, embora ainda se mantenha em patamares bastante altos para a média histórica dos governantes brasileiros.
O que pode indicar que nem mesmo o mito Lula pode abusar da opinião pública como ele vem fazendo.
O mais importante da pesquisa, no entanto, é confirmar que a candidatura oficial da ministra Dilma Rousseff não decolou, e nem o ex-ministro Antonio Palocci nem o deputado federal Ciro Gomes parecem ter condições de vir a preencher essa lacuna petista.
A queda de Dilma - de 23,5% em junho para 19% hoje - é agravada por outros dois dados da mesma pesquisa. A candidata oficial já é amplamente conhecida do eleitorado - apenas 17,1% dizem não saber quem é - e ela tem um índice de rejeição que a coloca muito próxima da inviabilidade eleitoral.
Os técnicos do Sensus dizem que candidato com 40% ou mais de rejeição não emplaca. Dilma está na faixa de 37,6%, enquanto Serra tem 29,1%. Heloísa Helena com 43%, Ciro Gomes com 40%, Marina com 39% e Palocci com 46% são os outros candidatos na zona de rebaixamento da pesquisa do Sensus.
Se um dos fatores para a queda de popularidade de Lula foi a disputa entre Dilma e a ex-secretária da Receita, e levando-se em conta que a maioria dos pesquisados acredita mais em Lina Vieira do que na ministra, não é errado inferir que a imagem de mentirosa e arrogante que a oposição colou em Dilma está tendo receptividade na opinião pública, e será preciso um forte trabalho de marketing para que a candidata oficial passe a ter uma imagem mais simpática, o que não é tarefa simples.
Outro dado relevante da pesquisa é que a ministra Dilma Rousseff aparentemente atingiu o teto no que se refere à transferência de votos do presidente Lula. Há dois anos ele vem levando Dilma pela mão de palanque em palanque, primeiro colocando-lhe o título de "mãe do PAC", o que parece que não deu certo, até mesmo porque as obras do PAC não deslancharam.
Agora, a estratégia é jogar toda a força do apelo nacionalista do pré-sal literalmente em seu colo. Mas aí entrou em cena também a candidatura da senadora Marina Silva pelo PV, que desarticulou completamente a estratégia do lulismo de transformar em plebiscito a eleição do próximo ano.
Além de ser uma petista histórica, o que Dilma não é, a ex-ministra é a encarnação da luta pela preservação do meio ambiente, o que lhe vale um alto índice de rejeição, mas também muita simpatia.
Certamente não é por acaso que a ministra Dilma Rousseff perdeu de junho para cá 4,5% pontos percentuais, praticamente o mesmo índice registrado por Marina Silva na primeira pesquisa do Sensus de que participa (4,8%).
O governador José Serra manteve-se dentro da margem de erro - de 40,4% para 39,5% -, o que indica que a candidatura "verde" retira mesmo votos da candidatura petista.
Para confirmar essa percepção, quando o candidato tucano é o governador de Minas, Aécio Neves, e a senadora Marina Silva está no páreo, Dilma, embora fique em primeiro lugar, cai 4,8 pontos percentuais, enquanto Marina vai para 8,1%.
Uma das críticas que se fazem ao projeto do governo de exploração do pré-sal é que ele não prevê qualquer atuação mais forte para usar esse "tesouro" para alavancar políticas de defesa do meio ambiente.
O deputado Chico Alencar, do PSOL, lembra que uma vantagem no debate dos projetos do pré-sal, "que inclusive impõe que não seja feito a toque de caixa", será forçar o Congresso a pensar estrategicamente, a "olhar o futuro, a fazer a grande política, a vincular matriz energética com cuidado ambiental e recursos a serem geridos com transparência e controle público".
Já o ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP) David Zylbersztajn tem sugerido em diversos fóruns que "parte dos recursos de uma fonte de energia finita e suja seja usada para a pesquisa e desenvolvimento de fontes renováveis, onde o potencial nacional é imenso e nosso atraso nos investimentos tecnológicos idem".
Acontece que o governo e a Petrobras estão trabalhando com a hipótese, que tem base em estudos da Opep, de que não haverá mudanças na matriz energética mundial até pelo menos 2030.
O consumo de petróleo continuará nas mesmas bases de hoje, de 85 milhões de barris/dia, e a demanda que exceder a esse limite é que será atendida pelas novas fontes renováveis de energia.
O governo, portanto, omite-se de atuar com uma visão de longo prazo para a proteção do meio ambiente, e aposta em uma visão estratégica que pode ser boa para a Petrobras, mas não necessariamente para o país.
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