Este final de abril, mês da primavera no Hemisfério Norte, decididamente, se revelou um desastre para a Espanha e não foi apenas para seus melhores clubes de futebol, eliminados da Copa dos Campeões em seus próprios templos esportivos.
Ontem, por exemplo, números oficiais revelaram um avanço na inflação anual, que foi de, 8%, em fevereiro, para 2,0%, em março. Entre tantos dados negativos, este pode ter sido o menos preocupante.
Também ontem, o Instituto Nacional de Estatística (INE) do Ministério da Economia e Competitividade da Espanha revelou que o desemprego no país saltou de 22,85% da força de trabalho (dados do quarto trimestre de 2011) para 24,44% (no primeiro trimestre de 2012). São 5,6 milhões de pessoas de braços cruzados em 23,1 milhões que constituem a população ativa. A destruição de empregos cresce a 4% ao ano. Pior que isso é o futuro de mãos vazias. Nada menos que 52% dos jovens (com 25 anos ou menos) não encontram trabalho.
A agência de classificação de riscos Standard & Poor"s, ainda ontem, rebaixou em dois degraus os títulos de dívida da Espanha, colocando-os, ainda, em perspectiva negativa. Ou seja, é provável que dentro de mais alguns meses o rebaixamento prossiga.
Até o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schauble, condenou essa perda de posições da Espanha: "A decisão torna a situação que já era crítica ainda mais crítica". Mas tanto agências de rating como auditores não são pagos para botar panos quentes, mas para apontar problemas - ainda que agravem as coisas.
A percepção de que aumentou o risco de calote dessa dívida terá duas graves consequências imediatas. A primeira delas é a tendência à elevação dos juros a serem cobrados pelos tomadores de títulos da Espanha nos próximos meses. Juros mais altos, por sua vez, tendem a aumentar o déficit público, hoje é de 8,5% do PIB.
O segundo efeito é a deterioração patrimonial dos bancos espanhóis, que já enfrentam, em conjunto, 184bilhões de euros em ativos podres, cerca de 60% dos quais pertencentes às carteiras imobiliárias. Cálculos não oficiais dos analistas apontam para a necessidade de capitalização das instituições financeiras espanholas de nada menos do que 100 bilhões de euros. Se o Tesouro espanhol tiver de intervir, serão mais despesas não previstas e uma pressão adicional para o crescimento do rombo orçamentário.
Toda a indignação das ruas se volta neste momento para as medidas de austeridade implantadas pelo primeiro-ministro Mariano Rajoy. Mas os problemas vêm lá de trás, das políticas descuidadas dos governos anteriores.
As análises conduzem para a conclusão de que a Espanha não é a Grécia e que as condições para a recuperação da economia são muito melhores. Além disso, os mecanismos de socorro já estão bem mais estruturados na Europa, em situação de circunscrever a crise. O problema é que o tempo dos mercados é diferente do tempo dos políticos. Qualquer fagulha pode detonar novo desastre.A propósito, desastrado é aquele que não conta com a proteção dos astros. E esse pode ser o caso da Espanha.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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