Indefinição
em relação às reformas e impasse no Congresso para instalação da Comissão de
Orçamento aumentam a insegurança Dos investidores na nossa economia
O
Ministério da Economia anunciou que não pretende pagar o 13º. Bolsa Família
neste ano, ao contrário do que aconteceu em 2019, por decisão do presidente
Jair Bolsonaro, talvez o primeiro sinal de que não se sente confortável com o
programa social criado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
carro-chefe da sua reeleição, em 2006. O cobertor está muito curto e a
prorrogação do auxílio emergencial até dezembro, que virou a principal ação
social de enfrentamento da pandemia de Covid-19, já está deixando o governo de
língua de fora.
O
Bolsa Família é um auxílio para as famílias de baixa renda, que beneficia
àquelas consideradas (1) extremamente pobres: com renda mensal de até R$ 89 por
pessoa; e (2) pobres: com renda mensal de até R$ 178 por pessoa, mas que
incluam gestantes ou crianças e adolescentes de até 18 anos. No valor de R$ 89
mensais, pode ter parcelas adicionais de R$ 41 para crianças, adolescentes e
gestantes; e R$ 48 para adolescentes de 16 ou de 17 anos. O valor total não
pode ultrapassar R$ 372 por família, mas a média está em R$ 190, portanto, bem,
abaixo dos R$ 300 do auxílio emergencial previsto para este último trimestre do
ano.
Se
pudesse, Bolsonaro trocaria o Bolsa-Família pelo Renda Brasil (ou outro nome
que o governo resolva dar), já a partir de janeiro, mas não tem recursos em
caixa para garantir o benefício sem romper a Lei do Teto de Gastos. Entre idas
e vindas, o presidente da República acabou cedendo às preocupações do ministro
da Economia, Paulo Guedes, que tenta conter os gastos do governo para evitar um
descontrole total da economia. O cenário para o próximo ano é preocupante. O
governo está tendo dificuldades para financiar a dívida pública, que deve
chegar a 100% do PIB até o final do ano. Em setembro, a dívida aumentou 2,6% e
chegou a R$ 4,5 trilhão.
Para
financiar essa dívida, o Banco Central vende títulos da União, porém, está
pagando juros anuais de 7,6% para os títulos com vencimento em dez anos,
portanto, muito acima da taxa Selic, que está em 2%. Para reduzir essa
diferença, reduziu o prazo de resgate para dois anos, obtendo taxa de juros de
4,57%, o que continua sendo muita coisa, ainda mais tendo que pagar esses
títulos em 24 meses. Os juros no mercado futuro são pressionados pela alta do
dólar, que ontem fechou a R$ 5,71, com impacto também nos preços ao consumidor.
O IPCA acumulado nos últimos 12 meses está em 3, 14%, acima da meta de
inflação, que é de 2,5%. Nesse rumo, o Banco Central terá que aumentar a taxa
Selic para conter a inflação.
Orçamento
A
economia mundial sofre o impacto da pandemia, mas aqui no Brasil a indefinição
do governo em relação às reformas e o impasse no Congresso para instalação da
Comissão de Orçamento da União colaboram para aumentar a insegurança. Além
disso, a desastrada atuação do governo na questão ambiental afugenta
investimentos. É um um quadro muito preocupante, porque o governo não tem como
financiar a dívida pública de curto prazo sem uma política fiscal mais
rigorosa.
Há
uma certa esperteza do presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre
(DEM-RJ), ao não convocar a reunião da Comissão de Orçamento, pois empurra o
ajuste fiscal para depois das eleições municipais. Aproveita o impasse criado
pela queda de braços entre o líder do PP, Artur Lira (AL), e o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pela presidência da comissão, para a qual o
Centrão indicou a deputada Flávia Arruda (PL-DF). O candidato de Maia é o
deputado Elmar Nascimento (DEM-BA). A disputa é uma espécie de preliminar para
o embate que haverá na eleição da Câmara. Lira pretende suceder Maia, com apoio
do Palácio do Planalto, mas o atual presidente da Câmara apoia o líder do MDB,
Baleia Rossi (SP).
A criação da Renda Brasil passa pela Comissão de Orçamento, cujo relator é o senador Marcio Bittar (MDB-AC), que tentou antecipar a criação do programa. Não conseguiu por causa das divergências entre a equipe econômica – que quer extinguir outros programas sociais – e o próprio presidente da República, além de algumas impropriedades jurídicas, como a utilização de recursos destinados ao pagamento de precatórios. Quando a Comissão de Orçamento for instalada, a discussão sobre o novo programa social será retomada, mas pode enfrentar mais dificuldades ainda, por causa dos impactos da pandemia na economia.
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