- O Estado de S. Paulo
Ainda que a inflação desacelere nos
próximos meses, o Banco Central precisará adotar uma postura mais firme porque
será difícil reduzi-la em 12 meses para menos de 6%
Não é só o avanço do PIB que vem
surpreendendo. Surpreendeu, também, desta vez negativamente, a inflação de maio, que foi
de 0,83%, depois do 0,31% de abril, acima das estimativas correntes, que eram
de 0,65% a 0,76%.
Com isso, a inflação acumulada no ano ficou em 3,22% e, em 12 meses, em 8,06%. A meta deste ano para a qual o Banco Central deve calibrar os juros básicos (Selic) é de inflação de 3,75%. Como o intervalo de tolerância dessa meta é de 1,5 ponto porcentual tanto para cima como para baixo, o limite superior é 5,25%, que vai sendo amplamente estourado pela inflação em 12 meses e pelas projeções do mercado.
Ainda que, nos próximos meses, a inflação mensal tenda a ser bem mais baixa, será difícil reduzi-la em 12 meses para menos de 6,0%, especialmente agora que se agrava a crise hídrica e que a disparada dos preços no atacado tende a ser repassada para o varejo (custo de vida).
Um dos pontos de maior preocupação é a
grande disseminação da inflação. O índice de difusão ainda é alto, embora tenha
caído de 66% em abril para 64% em maio. Isso significa que 64% dos itens que
compõem a cesta de consumo apresentaram alta no mês. A difusão de itens
alimentícios reduziu de 67% em abril para 60% em maio, porém a dos outros itens
subiu de 64% para 68%.
O Banco Central tem e não tem razão nos
seus diagnósticos. Tem razão quando afirma que a causa central dessa alta é o
choque de custos e não o aumento da demanda por mercadorias e serviços.
De fato, não tem sentido afirmar que esse
aumento de preços é consequência de maior demanda quando a renda está
comprimida, há 14,8 milhões de desempregados e 6 milhões que nem mais
procuram emprego porque estão entregues ao desalento e,
portanto, não estão nas estatísticas. As Contas Nacionais (números do Produto Interno
Bruto (PIB) já haviam mostrado que, no primeiro
trimestre deste ano, o consumo das famílias sobre o trimestre anterior caiu 0,1%
e o do governo 0,8%. Portanto, não pressionou a demanda.
Essa distinção entre inflação de demanda e
inflação de custos não é apenas uma tecnicalidade. É que a inflação de custos –
a que é provocada pela disparada internacional das commodities e dos produtos
eletrônicos – não pode ser combatida com redução de moeda na economia (alta dos
juros), recurso que freia o consumo. Exige espera para que o tempo faça boa
parte do serviço.
Mas o Banco Central não tem razão quando dá
pouca importância, como deu até agora, ao impacto desse choque de oferta sobre
o resto da economia, como mostra a forte disseminação da alta.
Por isso, também, o Banco Central
está atrasado nas projeções da
inflação para este ano. Como se lê no comunicado da última
reunião do Comitê de Política
Monetária (Copom), passou a trabalhar com uma inflação de
5,10% para todo este ano. Ou seja, o Banco Central não vem conseguindo ancorar as expectativas dos fazedores de preços,
que consideram sua política mole demais.
Para o dia 16 está agendada nova reunião do
Copom para revisão dos juros. Uma alta de 0,75 ponto porcentual, para 4,25% ao ano,
são favas contadas porque o Banco Central já avançou essa decisão. Falta saber
se virá acompanhada ou não de mais firmeza, quando a própria política eleitoral
espera mais dinheiro rolando no mercado.
A inflação mais alta não produz apenas
erosão do poder aquisitivo do consumidor e das aplicações financeiras em renda
fixa. Também produz efeitos colaterais macroeconômicos que podem ser
considerados positivos.
O mais importante deles acontece na área
fiscal. Como o imposto é cobrado sobre os preços, quando estes estão em alta,
tendem a aumentar a arrecadação e, assim, reduzir o rombo. Uma das
consequências é certa redução da dívida pública, que é beneficiada, também,
pelo forte avanço do PIB. A mais prazo, é um efeito positivo ilusório, porque
nos exercícios seguintes, as despesas públicas também aumentarão pelo simples
efeito inflacionário e o rombo seguirá do mesmo jeito ou até pode aumentar.
Nesta quinta-feira sai a inflação dos Estados Unidos, o CPI (Índice de Preços ao Consumidor, na sigla em inglês). Se for confirmada também uma inflação mais alta do que o 0,40% esperado, o mercado financeiro pode sofrer certo impacto, porque, nesse caso, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) tenderá a optar por aumentar os juros mais cedo do que pretende e esse tratamento levará todo o mercado global a se defender.
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