O Estado de S. Paulo.
Não é por estar à frente nas pesquisas que Lula vencerá sem dizer o que fará na economia
A possibilidade de o ex-governador Geraldo
Alckmin ser o candidato a vice na chapa do ex presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) tem feito muitos se perguntarem se essa eventual aliança política
para as eleições de 2022 pode se estender ao campo econômico ou ficaria
restrita aos acordos para a formação dos palanques regionais.
Líder nas pesquisas com uma distância
grande do presidente Jair Bolsonaro, Lula tem dado poucas pistas de como será o
seu programa econômico. Em 2003, ele montou uma equipe econômica que passou por
cima de muitas das ideias defendidas pelos economistas mais influentes do
partido.
A estratégia agora do PT está sendo a de
seguir com o debate interno (muito acalorado e disputado) em torno do programa
e deixar para bem mais tarde posicionamentos sobre o que pretende fazer em 2023
na economia, caso confirme o atual favoritismo e ganhe as eleições.
“Na campanha paralela dos economistas, temos neoliberalismo selvagem de discurso: Guedes neoliberalismo progressista de planilha: Meirelles, Pastore, Arminio e Cia (C’est là même chose) novo desenvolvimentismo fiscalista: Marconi e Benevides e no PT o debate segue”, postou essa semana o ex-ministro da Fazenda do PT Nelson Barbosa, numa mensagem quase subliminar para dizer o seguinte: não é agora.
Por enquanto, a presidente do PT, Gleisi
Hoffmann, diz que o partido não pretende divulgar plano econômico e que Lula é
o seu próprio porta-voz na área com um histórico a mostrar.
O PT não tem ainda um programa, mas conta
com um documento – o Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil – que
contém propostas, embora seja claro ao dizer de antemão que todas as sugestões
podem ser revisitadas.
Durante a pandemia, o PT fez várias
sugestões e apresentou uma PEC para aumentar os investimentos com um orçamento
específico. Já dá para ter uma ideia que aumentar os investimentos públicos
será prioridade para ativar o crescimento. O oposto do que tem feito a equipe
de Bolsonaro com Paulo Guedes.
É compreensível que agora
Lula não queira cair na armadilha dos que
cobram uma fala sua para diminuir incertezas fiscais. Ele não é governo, e os
problemas atuais são de responsabilidade de Bolsonaro.
Mas se iludem os que acham que, como ele
está muito à frente nas pesquisas, vai ganhar as eleições sem fazer nenhuma
sinalização econômica. Para quem quer ter uma ideia do que Lula pretende fazer,
é melhor prestar atenção com quem ele não está conversando, mais do que com
quem conversa.
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