Folha de S. Paulo
País decide presidente neste domingo (19) e
o futuro de 30 anos de convivência civilizada e alternância no poder
Os chilenos definem neste domingo seu próximo presidente.
Decidem entre o direitista José Antonio Kast e o esquerdista Gabriel Boric. O
primeiro é um extremista, pinochetista e admirador de Bolsonaro. Quanto ao
segundo, seria errado classificá-lo como extremista, mas vem de uma ala da
esquerda bem mais radical do que a dos últimos presidentes chilenos que se
colocavam no campo progressista. Dados os currículos, a escolha me parece
fácil, mas é forçoso reconhecer que algo deu errado no Chile.
O país, afinal, vinha experimentando um
ciclo de mais de 30 anos de alternância entre dois grupos, um de
centro-esquerda e outro conservador, mas ambos inequivocamente comprometidos
com a democracia.
Mais importante, quando chegava ou voltava ao poder, nenhum deles se punha a desfazer o que a coalizão rival realizara. Essa convivência civilizada é um dos ingredientes do longo período de crescimento econômico vivido pelos chilenos, que fez com que o PIB per capita saltasse dos US$ 11 mil, no início dos anos 2000, para mais de US$ 25 mil em 2019. A pobreza extrema, que atingia 36% da população, despencou para 8,6%.
Tais êxitos estão longe de significar que o Chile se tornou um país justo ou sem problemas.
Aliás, se tudo estivesse bem, os chilenos não estariam diante de uma eleição
tão complicada. Mas é mais fácil tentar resolver as questões sociais com
estabilidade política e crescimento econômico do que sem.
O que se discute, no fundo, é como um país
se torna próspero e justo. Devemos
apostar em revoluções que promovem mudanças radicais ou em ganhos incrementais
que se acumulam? Eu não diria que exista uma receita única e eficaz
para todos os casos, mas há alguma evidência de que o gradualismo funciona
melhor. Quem duvida do poder que alterações incrementais têm de promover
grandes mudanças só precisa olhar para a biologia: seres unicelulares deram
lugar à baleia azul.
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