Folha de S. Paulo
O que diferencia o tratamento dado a
ucranianos e o que foi dado aos sírios?
A guerra da Rússia contra a Ucrânia expôs o
eurocentrismo vigente. Há conflitos armados em quase 30 países. Populações na
Síria, no Afeganistão, na Nigéria, em Mianmar, no Congo, no Iraque, na Somália,
no Paquistão… vivem em clima de constante instabilidade, rodeadas pelo medo,
pela destruição e pela morte.
No Iêmen, onde segundo a ONU está instalada a mais grave crise humanitária do planeta, mais de 10 mil crianças foram mortas ou mutiladas
num conflito que se arrasta há sete anos.
Ainda assim, nunca se viu tamanha comoção ou mobilização como a causada pela "operação militar especial" na Ucrânia, uma guerra que conta com transmissão simultânea e já levou mais de um milhão de pessoas a cruzar fronteiras.
Me solidarizo com os ucranianos. A essa
altura da civilização, povo algum deveria enfrentar a barbárie da guerra, que
jamais será justa sob a ótica humanitária. Porém a humanidade demonstra sua
dificuldade de aprender com os próprios erros.
Mas a Europa respondeu ao sofrimento e ao êxodo dos
ucranianos de maneira muito distinta ou "com dignidade
humana", como definiu o jornal espanhol El País. "A União Europeia
tem agora a oportunidade de corrigir os erros cometidos na crise dos refugiados
de 2015 (...) uma vez que não foram aplicadas as normas vigentes e não foi
possível chegar a acordo sobre um novo sistema comum de asilo", dizia
trecho de editorial da semana passada.
Os refugiados da vez não precisam vagar por
praças ou ruas de países estrangeiros como ocorreu com os sírios. Felizmente
estão sendo acolhidos por Estados vizinhos e seus cidadãos. A questão é por
quê?
A mudança de atitude seguramente foi
motivada pelo identitarismo entre demandantes e demandados, num evidente
contraste com a xenofobia e o racismo verificados antes em
casos similares e na decisão de dificultar a ultrapassagem de fronteiras por
negros atualmente. Embora nem todos os olhos sejam azuis, todo sangue é
vermelho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário