O Globo
Empacado nas pesquisas, pedetista amplia
ataques a Lula e tenta evitar derretimento às vésperas da eleição
Ciro Gomes está nervoso. Na reta final da
campanha, o candidato do PDT lançou uma cruzada contra o voto útil. Quer evitar
que os eleitores o abandonem às vésperas da eleição.
Na quarta-feira, o pedetista acusou o PT de
fazer “terrorismo” e “fascismo de esquerda” ao pregar o voto em Lula para
encerrar a disputa no primeiro turno. “Sabe qual é uma das maiores fraudes das
eleições democráticas? É o falso voto útil. É uma mistura de mentira e
manipulação grosseira”, esbravejou, em vídeo divulgado ontem nas redes.
Há quatro anos, ele sustentava outra visão do fenômeno. Citava pesquisas eleitorais para defender o voto útil... em si mesmo. Com base nos números, alegava ter mais chances de vencer Jair Bolsonaro do que o petista Fernando Haddad. O discurso de 2018 fracassou, e o de 2022 parece não ter muita chance de colar.
Ciro vive um momento difícil. Sua quarta
candidatura ao Planalto não decolou. Isolado e com pouco tempo de TV, ele foi
incapaz de furar a polarização entre Lula e Bolsonaro. Agora aparenta ter
adotado uma política de redução de danos.
Se a ida ao segundo turno virou missão quase
impossível, o pedetista quer evitar o derretimento antes do primeiro. Um
desempenho abaixo dos 5% enterraria de vez seu sonho presidencial. Embora diga
o contrário, ele pensa em tentar de novo em 2026. Para isso, resolveu apostar
tudo no discurso antipetista, mesmo que a estratégia desagrade muitos colegas
de partido.
Numa democracia, o eleitor é soberano.
Abraçar o voto útil pode ser tão legítimo quanto rejeitá-lo. O importante é
saber o que está em jogo ao decidir.
Em 2022, um presidente de extrema direita,
com projeto francamente autoritário, ameaça contestar o resultado das urnas se
for derrotado. Isso tem levado pedetistas históricos a defender o voto em Lula
para liquidar a fatura em 2 de outubro.
Ciro já disse que voltaria a Paris “com muito mais convicção” para não ajudar o ex-presidente num confronto direto com Bolsonaro. O fundador do seu partido faria diferente. No segundo turno de 1989, Leonel Brizola arregaçou as mangas e transferiu milhões de votos para Lula no duelo com Fernando Collor. Ao anunciar o apoio, provocou: “A política é a arte de engolir sapos. Não seria fascinante fazer agora a elite engolir o Lula, este sapo barbudo?”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário