Folha de S. Paulo
Neste mês, variações de voto e rejeição
foram ínfimas, debate do voto útil vai esquentar
Desde o final de agosto, a variação
do voto para presidente é mínima ou ninharia mesmo, segundo os números das
pesquisas Datafolha.
Na prática ou na fria estatística, não há mudança na rejeição a Jair
Bolsonaro (PL) e a Lula da Silva (PT),
nem em suas votações. A avaliação do governo está na mesma. O petista pode
levar no primeiro turno, mas é improvável —depende de pescar 2,5 milhões de
votos em outras candidaturas.
A conversa
sobre o voto útil vai ficar mais intensa e tensa. Abstenções podem
fazer diferença na decisão em primeiro turno. Fazendo piada, mas não muito, até
a previsão do tempo no domingo de votação pode ser relevante, caso o cenário
permaneça inalterado até a véspera do voto. Uma onda de chuva ou de "fake news"
e baixarias podem render décimos de porcentagem de votos.
Cerca de 90% dos eleitores decidiram em quem votar faz mais de um mês, pelo que dizem agora ao Datafolha (entre os ora "totalmente decididos"). Apenas 6% desse eleitorado diz ter decidido o voto para presidente neste mês. A parcela de eleitores "totalmente decididos" quanto a seu voto muda um tico a cada semana, para cima, ora em 78%.
A decisão precoce, ou assim declaram os
eleitores, parecia notável desde junho, como se observava nestas colunas
("Eleitor
está mais decidido e mudou muito desde Lula 1"): "Mas houve
outras eleições em que havia tantos ou mais votos nulos, brancos e indecisos no
meio do ano. Na campanha de 2022, o nível de abstinência eleitoral e indecisão
é do mais baixo na redemocratização".
Não se trata, claro, de um prognóstico de
que haverá pouca mudança até 2 de outubro, dia do primeiro turno. Quer dizer
apenas que: 1) Com as informações disponíveis e com as emoções do momento, o
eleitor tem se declarado pouco disposto a mudar de ideia; 2) Restam
pouquíssimos eleitores declaradamente indecisos ou poucos propensos a trocar de
candidato).
Dos cerca de 21% ainda propensos a mudar de
ideia, 20% teriam Lula como alternativa; 15%, Bolsonaro. Nos maiores laguinhos
de voto ainda à disposição, os dos eleitores de Ciro Gomes (PDT)
e Simone
Tebet (MDB), Bolsonaro tem rejeição majoritária e muito maior que a de
Lula.
Por falar em rejeição, as aversões no
primeiro turno também continuaram estáveis (53% contra Bolsonaro, 38% contra
Lula), outro mau sinal para a campanha bolsonarista. Desde o início do mês, os
ataques a Lula renderam quase nada em termos de aumento de repulsa ao petista.
No primeiro turno, Lula tem ora 48% dos
votos, ante 35% de Bolsonaro. Em um possível segundo turno entre os dois, o
petista leva por cerca de 59% a 41% dos votos válidos. A fim de empatar o jogo,
Bolsonaro teria de tirar uns 10 milhões de votos de Lula.
Desde meados de agosto, a avaliação de
Bolsonaro está na mesma. Cerca de 44% dos eleitores dão a nota
"ruim/péssimo" para o governo (de 18 de agosto até 15 de setembro,
variou entre 42% e 44%). Para cerca de 31%, o governo é "ótimo/bom"
(desde meados de agosto, variou entre 30% e 31%).
O Auxílio
Brasil mais gordo praticamente não rendeu votos extras para Bolsonaro.
Talvez tenha evitado a perda de eleitores. O grosso das melhorias na economia
da vida cotidiana já ocorreu (emprego, queda mínima na inflação com nível de
preços ainda muito alto, salário médio ainda em queda real, embora
despiorando).
Na campanha, mal se falou de planos.
Vota-se, pelo jeito, no histórico ou na ficha corrida dos candidatos
principais, mais do que nunca se vota em "imagem" de nomes muito
conhecidos para a maioria. Voto útil e pancadaria feia devem ser os assuntos
finais desta campanha.
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