sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Bruno Boghossian - Lula começou pelo Congresso

Folha de S. Paulo

Autorização de gastos extras dará pistas sobre relação com Lira e disciplina de possíveis aliados

O terceiro governo Lula começou pelo Congresso. A primeira medida da equipe de transição foi uma proposta para contornar o teto de gastos e garantir o pagamento do que os petistas voltaram a chamar de Bolsa Família. A votação desse projeto será o teste político inaugural da gestão do futuro presidente.

Dirigentes dos principais partidos da Câmara e do Senado entendem que uma proposta que tem como objetivo a sustentação de um programa social tende a enfrentar resistência limitada. Eles apontam, no entanto, que as negociações podem ser determinantes para antecipar movimentos políticos que só seriam feitos a partir de 2023.

A votação força o estabelecimento de uma relação de boa vontade entre o futuro governo e o presidente da Câmara, Arthur Lira. Ainda que o deputado não tenha sinalizado ser contra a proposta, ele tem nas mãos o poder de ditar o ritmo de sua tramitação. Petistas têm pressa porque a folha de pagamento de janeiro do Auxílio Brasil roda já em dezembro.

Durante a campanha, Lula criticou Lira e falou que o país tinha o pior Congresso da história. A eleição não mudou o rol de deputados e senadores do país de maneira significativa, o que sugere que o próprio Lula pode ser obrigado a mudar.

O plano original do PT era driblar o centrão, formar uma aliança alternativa e desalojar Lira. Agora, alguns integrantes do partido falam em aceitar uma composição com o atual presidente da Câmara, sob novos critérios. A votação da proposta que autoriza gastos extras pode dizer até que ponto uma relação amistosa é viável —e qual será o custo.

No mesmo processo, legendas interessadas em fazer parte da base de Lula (MDB, PSD e União) poderão dar uma amostra da disciplina que são capazes de obter em suas bancadas para entregar votos.

Por fim, será possível ter uma dimensão da oposição sistemática feita por bolsonaristas, além de mapear o comportamento de partidos que sustentam o governo (PL, PP e Republicanos) e, agora, podem se dividir.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Pois é,Bolsonaro,tudo passa...