sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Hélio Schwartsman - Foi mais fácil vencer a eleição do que será governar

Folha de S. Paulo

Presidente eleito precisa entrar em campo antes mesmo de assumir o mandato

Vencer a eleição foi a parte menos difícil. O verdadeiro desafio de Luiz Inácio Lula da Silva será governar. Ele não pode se dar ao luxo de errar e sabe disso. Jair Bolsonaro foi derrotado; restou, porém, uma massa de 49% dos eleitores, com diferentes preferências ideológicas, mas unidos pelo antipetismo. Uma fatia deles nem esperou as urnas voltarem aos almoxarifados para ir às ruas defender um golpe contra o presidente eleito.

Jair Bolsonaro, que não terá mandato e corre sério risco de perder seus direitos políticos e de ser preso, deve ter um pouco de sua influência reduzida. Trump perdeu, embora, ao contrário de Bolsonaro, domine seu partido. O fato, inconteste, é que Lula não poderá ignorar esses 49% do eleitorado que lhe são antipáticos ou até hostis. O Congresso, que caminhou algumas casas para direita, não ignorará.

Até aqui o petista joga bem. Tem enfatizado em seus discursos que governará para todos, buscará a união do país e dividirá o poder com outras forças políticas. Já deu sinalizações de que fala a sério, como entregar o comando da transição a Geraldo Alckmin e não a algum petista histórico. Essa, porém, é a parte fácil. O jogo fica mais difícil daqui em diante, quando Lula começar a fazer escolhas, de nomes e de políticas, que criarão perdedores.

Lula precisa entrar em campo antes mesmo de assumir o mandato. Se o Congresso lhe legar um Orçamento inexequível, inviabilizará seu governo "ab ovo". O Parlamento, embora tenha se tornado mais conservador e mais radical, está aberto a negociações. E, para aprovar emendas constitucionais, Lula precisará trazer para seu campo, ainda que só circunstancialmente, nacos do que foi a base parlamentar de Bolsonaro.

Se alguém tem capacidade política para navegar entre tantos obstáculos, é Lula, mas isso não é garantia de sucesso. Não há nenhuma lei da física estabelecendo que seu governo vai necessariamente dar certo.

2 comentários:

Anônimo disse...

49% do eleitorado não são apenas antipáticos ou hostis a Lula, uma parte razoável é EXPLICITAMENTE GOLPISTA, como demonstram centenas de manifestações pelo Brasil, e Lula ainda nem tomou posse!

ADEMAR AMANCIO disse...

Os ''hostis'' são os golpistas,claro.