sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Ruy Castro - O futuro presidiário

Folha de S. Paulo

Se Bolsonaro escapar da grade, será para esta que deveriam ir os que o absolverem

O ex-imbrochável está com medo. É o que se deduz da afinada de Bolsonaro junto aos caminhoneiros, de sua acoelhada visita ao STF e das consultas desesperadas a advogados. Ele busca uma fórmula que o salve de, despojado de suas imunidades como presidente, ver seus processos caírem na primeira instância, onde serão julgados como os de um criminoso comum — o que ele é. Se não conseguir, seus seguidores terão de acrescentar ao epíteto de ex-presidiário, que conferiram a Lula, um novo epíteto, a aplicar a ele: o de futuro presidiário.

Bolsonaro disse um dia que só três alternativas o tirariam do Planalto: ser preso, ser morto ou perder a eleição. "A primeira alternativa não existe", arrotou — frase que eu gostaria de vê-lo repetir agora. A terceira já se confirmou. E ninguém lhe deseja a segunda. Ao contrário, todos o querem vivo para pagar por seu legado. Pena Bolsonaro não ter tempo de vida para cumprir todas as sentenças que receber, devido ao número de quesitos em que a lei pode enquadrá-lo. Eis alguns.

Homofobia, xenofobia, racismo, desvio de verba pública (rachadinhas), formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, peculato, estelionato, corrupção passiva, crime hediondo (suas atitudes na pandemia), charlatanismo (como garoto-propaganda da cloroquina), prevaricação, vazamento de dados sigilosos, uso de milícias digitais, propagação de fake news, ofensas e ameaças ao STF, abuso do poder, incitação à baderna, tentativa de golpe de Estado e, não por último, crimes contra a humanidade.

Até 1º de janeiro, Bolsonaro deverá sua liberdade a dois presidentes da Câmara, Rodrigo Maia e Arthur Lira, cujos traseiros sufocaram centenas de pedidos de impeachment, e ao PGR Augusto Aras, que protagonizará os alívios cômicos nas futuras biografias de Bolsonaro.

Se, depois de tudo, ele escapar da grade, será para esta que deveriam se destinar os que o absolverem.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Magnífica coluna! Parabéns ao escritor e ao blog que o divulga! Está tudo aí, vamos aguardar pra breve os processos contra o GENOCIDA e finalmente os seus JULGAMENTOS! Como o colunista demonstrou, SÃO MUITOS CRIMES!! O canalha não pode escapar impune!

ADEMAR AMANCIO disse...

Bolsonaro tinha medo de perder justamente porque sabia que seu caminho para prisão era certo.