Revista Veja
Boas soluções devem ser implementadas sem
preconceitos
Pergunta-se, com frequência, se Joe Biden é
de direita ou de esquerda. A indagação está contida em uma matéria publicada
pelo UOL na semana passada. A resposta, como esperado, é a de que o
presidente dos Estados Unidos é centrista, o que, de forma imprecisa, significa
que ele pode adotar no país soluções propostas por ambos os polos ideológicos.
Aliás, as maiores potências adotam uma
mescla de atitudes baseadas em seus interesses estratégicos. Por exemplo, a
China financia pesadamente a expansão de suas indústrias e pratica uma espécie
de capitalismo de Estado. Os Estados Unidos distribuíram dinheiro e estímulos
em todas as graves crises deste século.
As melhores soluções para a economia e para o governo não devem ser discutidas ideologicamente, o que, considerando as circunstâncias do mundo, trata-se de um retrocesso. O dogma ideológico é uma forma arcaica de medir a efetividade de políticas públicas. É como querer usar bússola magnética navegando no espaço.
O Brasil de hoje resulta de uma mistura de
conceitos de direita e de esquerda postos em sucessivas mesas de negociação. Os
avanços dependem de consensos ou de crises. A mistura de conceitos e a
necessidade de consenso amenizam radicalismos, mas, ao mesmo tempo, mitigam
avanços.
No entanto, as crises levaram o senso de
urgência para a mesa. Foi assim, por exemplo, com as reformas implementadas por
Fernando Henrique Cardoso em seu primeiro mandato, com a sanção da Lei de
Responsabilidade Fiscal, em 2000, e com o advento do teto de gastos, em 2016,
entre outras. As crises nos impulsionaram a fazer reformas e buscar aperfeiçoamentos.
Hoje, no Brasil, estamos em uma
encruzilhada determinada pela possibilidade de sérios problemas internos e
externos. Dependendo das escolhas, podemos tomar o caminho virtuoso do
crescimento sustentável ou cair na armadilha dos atalhos perigosos.
O que o Brasil deve fazer agora? Em
primeiro lugar, promover uma leitura adequada do momento no mundo e no país,
considerando os desafios políticos, as sequelas da pandemia e as suas
repercussões sociais e fiscais. O segundo passo é entender que o Brasil pode
estar contratando uma crise grave se não tomar as devidas providências nos
campos fiscal, tributário e econômico.
O terceiro passo é admitir que existem boas
e más soluções em praticamente todos os campos ideológicos. Muitas das soluções
são as mesmas, ainda que venham embaladas em rótulos diferentes. As boas
soluções devem ser implementadas sem preconceitos, por isso a preferência
ideológica deve ser relativizada. O quarto passo é o de reduzir a
temperatura política. É hora de governar e deixar o palanque para trás.
As devidas providências, acima mencionadas,
apontam para: prudência fiscal; simplificação tributária com o reequilíbrio de
sua carga; privatizações e concessões tendo em vista mais investimentos;
reforma administrativa, para melhorar o perfil do gasto público e promover
maior eficiência da máquina pública; desburocratização radical dos
investimentos; implantação de programas assistenciais eficientes; e maior
segurança jurídica para investimentos. Pragmaticamente, não há muito o que
fazer fora desse cardápio.
Publicado em VEJA de 22 de fevereiro de
2023, edição nº 2829
5 comentários:
Muito limitado e pobre este cardápio!
"O que o Brasil deve fazer agora? Em primeiro lugar, promover uma leitura adequada do momento no mundo e no país,..."
Na opinião do autor, o q consta acima é o q o Brasil deve fazer. Só q...leitura adequada pra quem?
O autor parece ter feito tal leitura. Vejam:
"As devidas providências, acima mencionadas, apontam para: prudência fiscal; simplificação tributária com o reequilíbrio de sua carga; privatizações e ..."
Impressiona a cara de pau. O autor tenta vender sua ideologia como óbvia e necessária. Ainda q ninguém negue q tal ideologia defendida pelo autor possa dar certo. Não deu com Collor nem com o bozo.
Mas pode dar.
Porém, existem outras ideologias. Privatizar ou não é ideológico.
Nada há neste país q não tenha o dedo do Estado.
Embraer: Estado.
Petróleo: Estado.
Agro: Estado. Enlouqueceu? Agro é Estado?
Sim, é o bom e velho BB q financia o Agro. Tentem comprar uma colheitadeira com juros do Bradesco ou Itaú. Perderão a fazenda.
A EMBRAPA q desenvolve tecnologia. Sem isso, por ex., a soja não seria plantada no país inteiro. Nem o gado teria se espalhado.
Digam apenas um, unzinho exemplo de algo do Brasil q tenha conquistado o mundo q seja exclusivamente privado.
Nem a Natura, nem o Boticário e muito menos o Agro.
Insisto. Citem um.
Um, unzinho exemplo de algo do Brasil q tenha conquistado o mundo q seja exclusivamente privado:
PELÉ = Edson Arantes do Nascimento!
Pelé estudou em escola pública. Certeza.
Pelé veio de Três Corações para Santos em rodovia pública. Certeza.
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