Folha de S. Paulo
Você pertence ao setor de proteína animal
porque consome um bife?
Pesquisa da Genial-Quaest divulgada na
quarta (15) revela mais do que a opinião de 82 executivos do mercado
financeiro. Expõe o núcleo do reacionarismo nacional, um pedaço da economia de
mercado corroída pelo "mercadismo" burro, a contaminação desses luminares
pelo bolsonarismo troglodita, o flerte com um país ética e
moralmente degenerado e, adicionalmente, um provável descuido com o dinheiro de
terceiros.
Nota: há certo esforço para tornar "Uzmercáduz" um ente metafísico. Nos termos de Gil Vicente, seriam "Todo Mundo" e "Ninguém". Assim, se você tem uns caraminguás depositados, seria mercado também. Conversa mole. A Quaest ouviu 82 pessoas. Acertadamente, não estou na lista. E você? A composição da amostra, ademais, não é a de uma pesquisa eleitoral. O fato de que seríamos todos punidos por um calote da dívida não nos torna parte "d’Uzmercáduz". Não atuo no setor de proteína animal só porque como um bife, embora seja certo que, sem boi, não tem carne.
Antes que se conclua o terceiro mês do
governo Lula, 98% dos bravos pensam que a política econômica está errada. Como
não são entes etéreos, é provável que concordassem com a de Guedes-Bolsonaro.
De que "política econômica" estão a falar agora? Antes que se tenha o
novo arcabouço fiscal —o próprio presidente só conhecerá detalhes da proposta
nesta sexta (16)—, como ser judicioso a respeito? É só reacionarismo disfarçado
de juízo técnico. Quando souberem, vão gostar? Respondo ao fim do texto.
A demonizada PEC
da Transição ainda pesa nessa avaliação. Sem ela, teria sido
impossível, por exemplo, retomar o Minha Casa Minha Vida no país dos
soterrados. Afirmam que a política fiscal não vai gerar sustentabilidade da
dívida pública 90% dos exegetas da própria ortodoxia. É só terrorismo
influente.
Outro dado encantador: para 68%, o governo
não estaria preocupado em combater a inflação, sabe-se lá por quê. Talvez a
correta crítica de Lula à Selic alimente
essa opinião. Segundo 90%, o BC acertou ao manter a taxa a 13,75%. Dez por
cento dizem confiar em Fernando Haddad, ministro da Fazenda; 38% não. Ficam com
um "mais ou menos" 52%. Os Belzebus são Gleisi
Hoffmann e Aloizio Mercadante, presidentes, respectivamente, do PT e
do BNDES. Não confiam neles 98%.
A reserva é até compreensível no caso de
Gleisi, sem entrar no mérito de suas opiniões. À frente do principal partido da
base, vai para o embate. E no caso de Mercadante? Que decisão tomou ou que
declaração fez que afrontaram a responsabilidade fiscal? O índice negativo de
Lula, nesse quesito, é de 94% —o de Bolsonaro é menor: 74%. Cuidado! Nada menos
de 20% dos que teoricamente velam por sua grana confiam no cara das pistolas
& diamantes. Que lama!
Não diminuo a importância dessas pessoas.
Existem e podem provocar grandes estragos. Espetaculares 68% apostam no taco de
Roberto Campos Neto, presidente do BC. Comanda a instituição que elevou a Selic de
2% para 13,75% em dois anos, indo de uma taxa real negativa de 0,75% para uma
positiva em torno de 8% agora. Como canta Angela Ro Ro em "Gota de
Sangue", não se deve confundir carinho com desejo. Nem confiança com
gratidão.
A mão invisível "duzmercáduz"
anda trêmula. Dois bancos americanos e um europeu foram para o vinagre. São as
tais falhas regulatórias em que se homiziam pilantras impunes. Joe Biden e o
Banco Central da Suíça garantem: ninguém solta a mão de ninguém, não importa o
valor depositado. Afinal, os mercados são o povo, né? A razão é elementar para
a entrada da mão visível do Estado: se não houver a garantia dos depósitos
integrais, correntistas fugirão dos bancos menores, e surge o fantasma da crise
sistêmica.
Continuo fã dos mercados, "como alguns
de vocês", aludindo à
coluna da semana passada. Sigo atento à sua capacidade de produzir
maravilhas —se contido por parâmetros éticos— e horror, se entregue à própria
natureza. Assim é com tudo o que é humano. Por aqui, muito horror se produziu
em quatro anos, o que maravilhou os nossos gênios, saudosos da "destruição
destruidora".
Essa gente vai gostar da proposta de
arcabouço fiscal? Camões responde com outra interrogação: "Qual será o
amor bastante de ninfa, que sustente o dum Gigante?"
7 comentários:
E o cara é o autor do verbete dicionarizado "Petralhas", a união de PT e do nada infantil "Irmãos Metralhas".
Que mudança!?
Não será ele por certo que baixou os juros na marra e decreto para a concessão de empréstimos consignados aos aposentados
Como o mercado é livre e vive de demanda e remuneração, 70% da disponibilidade desapareceu. Ou seja, o artigo não passada de um ponto de vista oficial do governo que quer criar dinheiro que não cai do céu para as prioridades sociais e estruturais do estado
"Núcleo do reacionarismo nacional" é uma boa definição para o grupo de 82 endinheirados entrevistados na pesquisa. "Gente" preocupada apenas com seu patrimônio e com a fortuna que espera ganhar nos próximos anos. Não pensam no país, nos desempregados, nos agricultores familiares que produzem a comida que vai chegar nos seus finos pratos, nos milhões que sobrevivem com o auxílio federal, nos milhões que sobrevivem com o salário mínimo ou pouco mais.
Lembrete: Uzmercáduz é que bancam esses diamantes ora contrabadeados em nome de sua ex-Excelência Jair Grojanaro
Ele chamava o Lula de Apedeuta, agora baba as bolas do mesmo. Eh nojento ler o Bostevedo.
Tadinho, e vc acha que o Lula pensa? Kkkkk peteba!
Não, ele chegou 3 vezes à presidência mas, tem razão, quem pensa é você.
Bozo, só uma.
Percebe-se que vc é um ser pensante.
Azevedo e sua guinada à esquerda.
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