O Estado de S. Paulo
O problema não é PT nem mercado, é o centro, ou melhor, o Centrão do Congresso
O presidente Lula aproveitou a
broncopneumonia para calar a boca, parar de falar besteira e dar a largada no
plano fiscal, recebido bem à direita, pelo mercado, e à esquerda, pelo PT. O
problema é com o centro e o Centrão e, se o pior momento de Lula pode ter
passado, o plano vai chegar ao Congresso com a Câmara, o Senado e os partidos
em chamas.
A B3 voltou a subir acima dos 100 mil
pontos, o dólar caiu e, agora, o mercado está como Roberto Campos Neto, do BC:
aguardando o texto protocolado no Congresso, com todos os detalhes,
principalmente sobre a mágica para aumentar a arrecadação, espinha dorsal e
grande dúvida do pacote.
O PT, dentro e fora do governo, botou a
boca no trombone durante a elaboração do plano, mas com o compromisso de calar
depois do anúncio. E, se o mercado acha o conjunto de ideias engenhoso e que a
questão fiscal está bem tratada, o PT de Gleisi Hoffmann e Rui Costa se dá por
satisfeito com o tratamento para programas sociais, Educação e Saúde.
A preocupação está no centro, ou melhor, no Centrão do Congresso. As cúpulas, com Arthur Lira na Câmara e Rodrigo Pacheco/Davi Alcolumbre no Senado, estão em sintonia com Fernando Haddad e reagiram bem ao plano. Mas, além da crise entre as duas Casas por causa das MPs, está pegando fogo dentro das próprias Casas.
O fio da meada foi Lula atrair gregos e
troianos, mas excluindo a alma do bolsonarismo no Congresso, PP e PL. O PP é
justamente o partido do imperador da Câmara e é dividido entre o próprio Lira e
o senador Ciro Nogueira, “coração” do governo Bolsonaro. Ciro morde, Lira
assopra. Curioso, aliás, porque os dois não dão um passo sem combinar.
Assim, o PP puxa o União Brasil, que também
não é confiável e tem força na Câmara e Senado, três ministérios e a Codevasf,
estatal do Vale do São Francisco, um cabide e tanto para políticos. Juntos, os
dois tentam atrair PSDB/Cidadania e – o que não é fácil – PSB e PDT.
É Centrão x Centrão, e o Republicanos, a
terceira perna do tripé bolsonarista, se alia com MDB, PSD, Podemos e PSC, para
chegar a 142 votos na Câmara, posar de “independente” e não só dividir o poder
com Arthur Lira como se tornar indispensável para o governo Lula.
A pergunta é: quais as chances do plano
fiscal? Resposta: boas. Além da importância das medidas, essa brigalhada é
interna, disputa de poder no Congresso e de posições para as eleições
municipais de 2024, e não necessariamente atrapalha as votações de governo, só
pode custar mais caro. A lógica política é poder e, no fundo, o que todo mundo
ali quer é... ser governista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário