sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Bernardo Mello Franco – O preço do Centrão

O Globo

Nas democracias mais funcionais, as eleições dividem os políticos em dois grupos. Quem ganha vai para o governo. Quem perde vai para a oposição. No Brasil, a regra é diferente. Quando as urnas se fecham, os derrotados entram na fila para aderir aos vencedores. Ninguém quer ficar fora da distribuição de cargos.

No ano passado, o Centrão pediu votos para Jair Bolsonaro. A fidelidade ao capitão durou até a noite do segundo turno. Parte da tropa desertou entre a eleição e a posse. Agora é a vez dos retardatários, comandados pelo deputado Arthur Lira.

O chefão da Câmara passou o primeiro semestre com a faca no pescoço de Lula. Após o recesso de julho, começa a colher os frutos da pressão. Ontem ele desfilou no Planalto como padrinho do novo ministro do Turismo, Celso Sabino. Até o fim do mês, deve emplacar mais dois aliados na Esplanada.

A posse de Sabino marca o embarque oficial do Centrão no governo. O ministro é filiado ao União Brasil, mas chegou ao cargo como representante de Lira. “Hoje é o dia de celebrar a vida deste amigo irmão”, derramou-se, no último aniversário do alagoano.

Resolvida a novela do Turismo, Lula deve abrir espaço para mais dois partidos: PP e Republicanos. As siglas já indicaram seus candidatos a ministro. Resta saber as cadeiras que eles vão ocupar. As negociações não têm passado pelos currículos ou pelas ideias dos escolhidos. Trata de temas mais práticos, como o orçamento das pastas e a quantidade de votos que cada legenda promete entregar.

O Republicanos tem três sonhos de consumo: Esporte, Portos e Aeroportos e Ciência e Tecnologia. O PP desejava a Saúde, mas aceita ficar com o Desenvolvimento Social. Como prêmio de consolação, também exige a presidência da Caixa.

Lula prometeu governar com uma frente ampla. Agora passa à fase da frente amplíssima, com a nomeação de ex-bolsonaristas para cargos de primeiro escalão.

O presidente sabe que nenhum acordo com o Centrão é definitivo. O bloco continuará à espera de uma crise para reajustar o preço do apoio. Mas o adesismo da turma sempre conspira a favor de quem veste a faixa presidencial.

 

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