Lula derrotou o bolsonarismo e afastou a
ameaça de golpe, mas ainda patina para cumprir outro desafio de seu terceiro
mandato: restaurar o presidencialismo no Brasil.
O sistema tem regras simples: o Judiciário
julga, o Legislativo legisla e o Executivo governa. Nos últimos tempos, o
Legislativo passou a legislar e governar. Sequestrou o Orçamento e esvaziou o
poder presidencial.
Num país em que falta dinheiro para o básico,
a verba reservada às emendas parlamentares quase triplicou em cinco anos. Em
2024, o valor previsto é recorde: R$ 47,5 bilhões. Passaria de R$ 53 bilhões,
não fosse o veto de Lula no início da semana.
O corte de R$ 5,6 bilhões nas emendas de comissão gerou um clima de motim no Congresso. O chefe da grita é o deputado Arthur Lira, que ameaça derrubar o veto e impor outras derrotas ao Planalto.
Para espantar o risco de impeachment, Jair
Bolsonaro criou o orçamento secreto e entregou a chave do cofre ao Centrão. Os
parlamentares avançaram sobre as atribuições do governo, enquanto o capitão se
ocupava com lives e motociatas.
“O ex-presidente não tinha governança nesse
país. Quem governava era o Congresso”, disse Lula na segunda-feira. É verdade,
mas ele ainda parece longe de restaurar os poderes do cargo.
O sequestro do Orçamento dilui o papel do
presidente. Ele ainda nomeia os ministros, mas vê deputados e senadores
decidirem onde o dinheiro dos impostos será alocado.
Se as emendas sempre existiram, seu inchaço
criou um sistema disfuncional. A lógica do parlamentar é abastecer sua base
para facilitar a própria reeleição. O compromisso é com a clientela, não com o
programa de governo escolhido nas urnas.
Desde que voltou ao Planalto, Lula pena na
relação com o Congresso. Sua tentativa de governar sem o Centrão fracassou. Com
a faca no pescoço, ele aceitou entregar três ministérios à turma de Lira. Mesmo
assim, continua sem uma base estável.
Em entrevista à Rádio Metrópole, o presidente disse que negociar com a Câmara é “sempre um prazer e sempre difícil”. Se não recuperarem as emendas perdidas, os deputados farão de tudo para reduzir o prazer e aumentar a dificuldade.
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Fato.
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