O Globo
Lula ainda não havia completado um mês no
Planalto quando Juscelino Filho estreou nas páginas policiais. Em janeiro de
2023, o jornal O Estado de S. Paulo informou que o ministro das Comunicações
tinha usado verbas do orçamento secreto para beneficiar uma fazenda da família
no interior do Maranhão. O presidente deveria ter afastado o auxiliar, mas
preferiu deixar para lá. A história se repetiria por dois anos e três meses,
numa incrível sucessão de escândalos com o mesmo protagonista.
Juscelino foi acusado de ocultar patrimônio da Justiça Eleitoral. De usar avião da FAB e embolsar diárias para assistir a um leilão de cavalos. De pendurar o gerente de seu haras na folha de pagamentos da Câmara. De falsificar dados sobre voos de helicópteros custeados pelo fundo partidário. A cada suspeita, o ministro ganhou um novo voto de confiança do chefe. Mesmo quando sua permanência já se mostrava insustentável.
Em junho de 2024, a Polícia Federal indiciou
Juscelino por desvio de emendas parlamentares. As investigações apontaram um
combo de irregularidades. Além de usar verba pública para asfaltar o caminho
até sua propriedade privada, o ministro foi acusado de cobrar propina e manter
“relações criminosas” com um empreiteiro responsável que se valia de empresas
de fachada.
Instado a opinar, Lula se saiu com mais uma
defesa da presunção de inocência. “O fato de o cara ter sido indiciado não
significa que ele cometeu um erro”, pontificou. A frase soou como uma confissão
de fragilidade. Sem uma base parlamentar sólida, o presidente se assumia refém
de políticos fisiológicos, pouco confiáveis e enrolados com a polícia.
Juscelino não é o único ministro a se encaixar nesse perfil.
As acusações se referem ao governo passado,
quando o maranhense exercia o cargo de deputado. Isso não livra Lula do
desgaste por ter feito vista grossa por tanto tempo. A blindagem de Juscelino
só ruiu ontem à noite, depois da notícia de que ele foi denunciado pela
Procuradoria-Geral da República.
Os áulicos do governo dirão que o presidente agiu rápido. Entre o indiciamento pela PF e a demissão, ele levou 301 dias para se livrar do aliado encrencado.
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