Folha de S. Paulo
Governadores-candidatos do campo bolsonarista
estão fazendo o contrário do que deveriam para democracia brasileira recobrar a
saúde
O mundo é mesmo um lugar injusto. Enquanto a
direita brasileira padece do problema de excesso de candidatos para o pleito
presidencial de 2026, a esquerda amarga a velha dependência de Lula, que é um
outro jeito de dizer que, sem o nome do petista na urna, ela se veria em
apuros.
Se Lula optar pela aposentadoria e a esquerda
se dividir entre candidatos de peso eleitoral semelhante, corre o risco de nem
passar para o segundo turno.
Se olharmos para nomes individuais, também encontraremos problemas. Fernando Haddad é visto como um sucessor natural de Lula. Mas, se o presidente decidir não concorrer, será porque a economia não vai bem. E, se ela não estiver bem, Haddad, que é o ministro da Fazenda, não teria a menor chance.
Outro nome muito citado é o de Flávio Dino,
mas há dúvidas de que ele trocaria um cargo vitalício no jardim das delícias do
Judiciário pelas incertezas de um processo eleitoral. Uma solução mais
heterodoxa seria o campo governista sair com um nome não exatamente da
esquerda, mas da coalizão lulista, como Geraldo
Alckmin ou Simone Tebet,
mas parecem nulas as chances de o PT chancelar
algo assim.
Já a direita, vista em bloco, está em melhor
situação. Eu pelo menos não consigo visualizar um cenário em que ela não esteja
no segundo turno. As dificuldades começam quando consideramos a situação
pessoal de cada um dos postulantes.
Para chegar ao segundo escrutínio, eles
precisam dos votos dos bolsonaristas. Com isso, o ex-presidente, que já está
inelegível e possivelmente estará preso no ano que vem, os faz de reféns. Exige
dos potenciais candidatos que
lhe batam continência e defendam a anistia, sob pena de se verem
exorcizados dos círculos bolsonaristas e perderem a passagem para o turno
final.
Esse é um estado patológico. Para a
democracia brasileira recobrar a saúde, a direita republicana precisaria romper
de vez com o golpismo bolsonarista e reafirmar seu compromisso com as
instituições.
Os governadores-candidatos estão fazendo exatamente o avesso do que deveriam.
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