terça-feira, 29 de novembro de 2016

Opinião do dia – Alberto Aggio

O debate em torno do futuro da esquerda brasileira deve ser mais exigente e se pôr à altura dos desafios do nosso tempo, buscando um novo lugar no mundo para o Brasil, e não se pautar por um catálogo antigo dos pecados cometidos pela esquerda histórica.


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Alberto Aggio é historiador e professor titular da Unesp. ‘O debate à esquerda’, O Estado de S. Paulo, 29/11/2016

Entrevista: Luiz Werneck Vianna

O moderno pactuou com o atraso e a civilidade pactuou com a cordialidade

A trajetória do PT e as ações da Lava Jato, segundo o sociólogo Werneck Vianna, representam, na atualidade, a cordialidade e a civilidade expostas em Raízes do Brasil

Por: Patricia Fachin - IHU On-Line

Raízes do Brasil é um clássico não porque reflete sobre o Brasil dos anos 30, mas porque é uma obra “aberta”, que tem sido “recepcionada de forma diferente” a cada geração, e que tenta compreender o Brasil a partir das tensões entre cordialidade e civilidade, que parecem permear a sociedade brasileira desde o início da sua história. Aliás, diz o sociólogo Werneck Vianna, “quem começou esse tipo de leitura de Raízes do Brasil como obra aberta foi o próprio autor, que ao longo do tempo foi revisitando, corrigindo e revisando sua obra. Ele deixou esse caminho, essa pista para que as gerações futuras pudessem interpretar a obra a seu modo”.

Em um exercício de compreender a atualidade de Raízes do Brasil, o sociólogo sugere que a atualização mais contemporânea da obra pode ser identificada na “ação da Lava Jato”, “que atua no sentido de ser um investimento contra a nossa tradição de cordialidade”, porque os “principais personagens” dessa Operação, diz, fazem parte do “movimento americanista, uma categoria com a qual o Sérgio Buarque trabalha, que estariam em oposição à Ibéria, à cordialidade”. E acrescenta: “Eu diria que o alvo principal da Lava Jato é esse de romper com o patrimonialismo, entre essas relações entre Estado e mercado, Estado e interesses, essas relações cordiais e não civis entre os empresários e os dirigentes políticos do Estado”.

Werneck Vianna pontua ainda que embora Raízes do Brasil aluda a uma civilidade que “prometeria uma sociedade mais impessoal, igualitária, menos patrimonialista”, “a cordialidade permanece, independentemente da obra, como uma presença no nosso enredo, nas nossas estruturas políticas, na nossa cultura, na nossa mentalidade, na nossa formação, a um ponto tal que se pode perguntar se ela é de fato erradicável de tudo”. E conclui: “Eu diria que de todo, a cordialidade não é suprimível entre nós, e o que quer que venhamos a fazer conosco e com a nossa história, ela vai persistir como presente porque ela é uma marca desde o nosso nascimento”.

Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador na Pontifícia Universidade Católica - PUC-Rio. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, é autor de, entre outras obras, A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1997); A judicialização da política e das relações sociais no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1999); e Democracia e os três poderes no Brasil (Belo Horizonte: UFMG, 2002). Sobre seu pensamento, leia a obra Uma sociologia indignada. Diálogos com Luiz Werneck Vianna, organizada por Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto (Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2012).

Confira a entrevista.

Incerteza com reforma atrasa recuperação da economia

• Temer pede paciência: ‘Qualquer fatozinho abala as instituições’

Mercado agora prevê expansão de apenas 0,98% do PIB no ano que vem. Em encontro com empresários, presidente prega otimismo e afirma acreditar que o país voltará a crescer

Economistas já preveem que o PIB de 2017 vá crescer menos de 1%. No auge do otimismo após o impeachment de Dilma Rousseff, a projeção era de uma expansão de 1,36% no ano que vem. A demora na aprovação das reformas e a recente crise política ampliam as incertezas. O governo tentará hoje aprovar em primeiro turno, no Senado, a proposta que cria um teto para os gastos públicos. Em discurso ontem a empresários, o presidente Temer pediu paciência e disse que o país voltará a crescer. “Como não temos instituições sólidas, qualquer fatozinho abala as instituições”, lamentou.

Recuperação sem fôlego

• Crise política e incerteza sobre reformas fazem projeção para PIB de 2017 cair abaixo de 1%

Gabriela Valente, Martha Beck, Ana Paula Ribeiro, João Sorima Neto e Daiane Costa - - O Globo

-BRASÍLIA E SÃO PAULO- A esperada recuperação da economia depois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff não chegou, e os efeitos da crise atual serão sentidos pelos brasileiros em 2017. Os economistas apostam que o Brasil não crescerá 1% no ano que vem, segundo a pesquisa semanal Focus do Banco Central (BC), divulgada ontem. No auge da euforia com a mudança do governo, em junho deste ano, as apostas eram de 1,36% de expansão. O otimismo foi maior do que a capacidade do governo de Michel Temer de recolocar rapidamente o país na trilha da recuperação econômica.

Base já descarta anistia, mas fala em punição a juízes e procuradores

• Movimento para incluir medida é uma reação ao veto anunciado por Temer

Evandro Éboli e Leticia Fernandes - O Globo

-BRASÍLIA- Esvaziadas as chances de aprovar a anistia para crimes que envolvam doações ilegais de campanha — após declaração conjunta dos presidentes da República, da Câmara e do Senado no domingo —, a oposição e parte da base do governo vão apostar agora em incluir no texto do relator Onyx Lorenzoni (DEM-RS) sobre medidas anticorrupção a previsão de punição por crimes de responsabilidade cometidos por magistrados e membros do Ministério Público. Esses parlamentares jogam suas fichas na aprovação de uma emenda do líder do PDT, Weverton Rocha (MA), que prevê dez tipos de crimes para juízes e onze para procuradores. O relatório de Lorenzoni, com 12 medidas, pode ser votado hoje na Câmara.

Pelo texto proposto pelo PDT, o juiz está proibido de conceder entrevista sobre processo ainda a ser julgado ou fazer “juízo depreciativo” sobre despachos, votos ou sentenças. Esses pontos serão considerados crimes de responsabilidade.

Ministério Público quer ter acesso às conversas gravadas por Calero

• Janot vai analisar as provas antes de decidir sobre possível inquérito

Jailton de Carvalho - - O Globo

A Procuradoria-Geral da República pediu à PF os áudios das conversas que teriam sido gravadas e entregues pelo ex-ministro Marcelo Calero (Cultura). Além do ex-ministro Geddel Vieira, Calero teria gravado Eliseu Padilha (Casa Civil) e o presidente Michel Temer. -BRASÍLIA- O procurador-geral da República em exercício, José Bonifácio de Andrada, requisitou ontem à Polícia Federal os áudios das conversas gravadas pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero com o presidente Michel Temer, o ex-ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil). A partir da análise dos diálogos, a Procuradoria-Geral deverá decidir se endossa o pedido de abertura de inquérito contra Geddel, e se o eventual inquérito sobre o assunto será extensivo a Temer e Padilha.

Substituto de Geddel pode ficar para janeiro

• Escolha seria deixada para depois da votação da PEC do teto de gastos

Simone Iglesias, Eduardo Barretto e Júnia Gama - O Globo

-BRASÍLIA- Em meio a especulações sobre quem assumirá a Secretaria de Governo no lugar do ex-ministro Geddel Vieira Lima, o líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), jogou um balde de água fria em deputados do centrão e auxiliares do Palácio do Planalto que têm demonstrado apetite pelo cargo. Após reunião dos líderes da base aliada do Senado com o presidente Michel Temer, no Planalto, Jucá informou que Temer não está com pressa:

— A vaga não é de ninguém, qualquer cargo de ministro é do presidente da República. Qualquer coisa a mais é excesso — disse Jucá.

Segundo assessores da Presidência, uma possibilidade é deixar a decisão sobre o novo ministro para janeiro. Eles argumentam que haverá apenas mais três semanas de funcionamento do Congresso e que a principal votação, a PEC do teto de gastos, no Senado, deve ser aprovada por ampla maioria.

‘Qualquer fatozinho abala instituições’, diz Temer

• Três dias após a demissão de seu articulador político, presidente vê órgãos de Estado ‘não muito sólidos’ e afirma que instabilidades ‘não podem ser levadas a sério’

Tânia Monteiro, Carla Araújo e Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Três dias após a queda do ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), o presidente Michel Temer afirmou nesta segunda-feira,28, que “qualquer fatozinho abala as instituições”. Diante de uma plateia de empresários, Temer disse que o Brasil não tem instituições muito sólidas, mas classificou as instabilidades como “passageiras, que não podem ser levadas a sério”, sem citar diretamente a crise.

“É interessante que de vez em quando há uma certa instabilidade institucional, um fato ou outro. Como nós não temos instituições muito sólidas, qualquer fatozinho, me permitam a expressão, abala as instituições e o investidor fica um pouco assustado”, discursou o presidente em seminário sobre o futuro do País, em Brasília.

Ministro nega orientação 'institucional' da PF para Calero fazer gravações

• Ministro da Justiça lembrou que Marcelo Calero relatou ter sido orientado por amigos a registrar os diálogos com a cúpula do governo Temer e disse que áudio está sendo analisado

Francisco Carlos de Assis - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O ministro da Justiça e Cidadania, Alexandre Moraes, negou nesta segunda-feira, 28, que o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero teria sido orientado pela Polícia Federal (PF) a fazer gravações de suas conversas com o presidente da República, Michel Temer (PMDB), e com outros ministros.

Planalto quer identificar quem da PF orientou Calero a gravar conversa com Temer

• Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, prefere não comentar o caso

O Estado de S. Paulo

O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, disse por meio de sua assessoria que não vai comentar as declarações do ex-ministro Marcelo Calero ao programa Fantástico , da Tv Globo, de que foi orientado por "amigos da Polícia Federal" a fazer gravações que respaldassem suas acusações contra o presidente Michel Temer, o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e o ex-ministro Geddel Vieira Lima.

O Estado apurou, contudo, que o Palácio do Planalto estranhou a afirmação do ex-ministro e busca identificar quem da Polícia Federal orientou Calero a gravar o presidente da República e outros envolvidos no episódio.

Articulação por anistia ao caixa 2 deve migrar para Justiça

Por Raphael Di Cunto e Fabio Murakawa – Valor Econômico

BRASÍLIA - A mudança no clima político enterrou a possibilidade de aprovar emenda mais explícita para anistiar o caixa dois eleitoral e crimes conexos, como lavagem de dinheiro, peculato e corrupção, avaliam parlamentares, mas não encerrou as articulações para inocentar os acusados de receber doações não contabilizadas, o que ameaça mais de uma centena de políticos com a delação da Odebrecht. As tratativas se darão agora no Judiciário.

A Câmara tentará votar o projeto das "10 Medidas de Combate à Corrupção", que prevê a tipificação do caixa dois eleitoral como crime. Com o argumento de que o próprio Ministério Público Federal (MPF) "reconheceria" que receber doações eleitorais "por fora" não é crime, por isso a iniciativa de defender a criminalização no Congresso, políticos pretendem argumentar no Judiciário que não podem ser acusados de um crime que não existia na época.

Temer define próximos passos

Por Andrea Jubé, Bruno Peres, Lucas Marchesini e Vandson Lima - Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer definiu os próximos passos para tentar neutralizar a crise política, agravada pelos desdobramentos das acusações do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero - agora sob investigação da Procuradoria-Geral da República -, em um jantar na residência do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no domingo à noite. Um primeiro gesto será apressar o envio da reforma da Previdência Social ao Congresso, além de outros movimentos que evidenciem foco nas medidas econômicas. Hoje, o presidente participará de solenidade para sanção do projeto que muda as regras de exploração da camada de pré-sal.

Temer vai acumular com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, as funções do ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima, até a escolha do sucessor. Ontem Temer e Padilha comandaram a reunião com líderes da base no Senado, no Palácio do Planalto, para articular a votação em primeiro turno da PEC do Teto dos Gastos públicos. Hoje Padilha comandará uma reunião com líderes governistas na Câmara.

Câmara deve abandonar anistia a caixa dois em votação

Ranier Bragon, Daniel Carvalho – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Após tentar por duas vezes aprovar a anistia a políticos alvos da Lava Jato, o plenário da Câmara pode votar nesta terça-feira (29) o pacote anticorrupção apresentado pelo Ministério Público Federal em março.

Devido à análise de que as manobras de bastidor pró-anistia repercutiram de forma negativa na sociedade, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e os líderes dos principais partidos decidiram abandonar a ideia.

Em linhas gerais, a Câmara tende a aprovar alterações para tornar processos mais ágeis, dificultar prescrição de crimes, aumentar penas e colocar na legislação a tipificação específica do crime de caixa dois –movimentação de dinheiro de campanha sem conhecimento da Justiça.

Gestão Temer lança ofensiva para tentar reverter crise

Temer faz ofensiva por reformas para reverter desgaste na política

Valdo Cruz, Julio Wiziack, Gustavo Uribe – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer lançará nesta semana uma ofensiva para fazer avançar suas reformas econômicas, numa tentativa de reverter o desgaste político que sofreu na semana passada e demonstrar a empresários e investidores que tem apoio no Congresso para aprová-las.

O governo conta com uma vitória folgada na votação da proposta que limita o crescimento dos gastos públicos, no Senado. Além disso, planeja anunciar medidas para a indústria do petróleo, regras para a privatização de aeroportos e detalhes de seu projeto de reforma da Previdência, que promete enviar ao Congresso em dezembro.

O presidente quer superar a criseaberta pela saída do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, que acusou Temer e seu governo de pressioná-lo a favorecer interesses pessoais do ex-ministro Geddel Vieira Lima, que deixou a Secretaria de Governo na sexta-feira (25).

Para o Planalto Eliseu Padilha deve ser o novo alvo

• Auxiliares do presidente Michel Temer não escondem a preocupação com o conteúdo das conversas gravadas pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

O governo avalia que o próximo alvo da crise será o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Nos bastidores do Palácio do Planalto, auxiliares do presidente Michel Temer não escondem a preocupação com o conteúdo das conversas gravadas pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero.

Embora Temer tenha dito querer que esses áudios “venham à luz”, na prática existe o receio de que Padilha e o secretário de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha, tenham feito alguma afirmação que possa ser interpretada como “advocacia administrativa” em favor do ex-ministro Geddel Vieira Lima.

Serra e Freire participarão do funeral de Fidel

• Chanceler disse que cubano foi 'uma das lideranças políticas mais emblemáticas do século XX', mas criticou desrespeito a direitos humanos na ilha

O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O ministro das Relações Exteriores, José Serra, acompanhará as cerimônias de homenagem ao ex-líder cubano Fidel Castro, em Havana. O chanceler viajou à capital da ilha ainda na noite desta segunda-feira, 28. Após o anúncio da morte do comandante da Revolução Cubana, no sábado, 26, Serra afirmou que Fidel “marcou profundamente a política cubana e o cenário internacional”.

Obedecendo à vontade de Fidel, seu corpo foi cremado no fim de semana e as cinzas ficarão em Havana por dois dias. Na quarta-feira, 30, será iniciado o transporte delas para Santiago de Cuba em procissão que percorrerá 13 das 15 províncias do país.

Em uma nota enviada à imprensa, o chanceler brasileiro disse que a trajetória do líder cubano "resume os dolorosos conflitos e contradições" do período e que nem sempre o "desenvolvimento e justiça social se conciliaram com o respeito aos direitos humanos e à democracia". Além de Serra, o novo ministro da Cultura, Roberto Freire, deve representar o Brasil.

O debate à esquerda - Alberto Aggio

- O Estado de S. Paulo

• Lula tornou-se um poderoso obstáculo para que a esquerda se reinvente no País

Dentre os vários ensinamentos que a história e a sociologia política nos legaram está a noção de que “conceitos são palavras em seus contextos”. Tanto mais se o conceito em questão guarda uma polissemia construída historicamente.

É esse precisamente o caso da noção de “esquerda”, assimilada como um conceito que, no plano político, deve ser pensado de maneira relacional. Assim, em relação à esquerda talvez não se deva buscar nem uma normativa fora da história nem uma suposta evolução conceitual que derive em significados absolutos e imutáveis.

Olhando historicamente, é constatável que a esquerda pode, muitas vezes, estar ausente ou ser muito rarefeita num determinado sistema de forças políticas, tornando difícil sua identificação. Não é incomum que a esquerda se mostre dividida em vários grupos, sem que se possa dizer qual deles é mais representativo ou autêntico. Também não são poucas as ocasiões em que a esquerda se expressa como uma força antagônica ao sistema social, ou como conciliatória no sistema político, não se descartando até mesmo uma combinação, às vezes surpreendente, entre ambas.

Desnecessário dizer, portanto, que estamos diante de um universo de possibilidades quase infinito.

Os defeitos do PMDB - Merval Pereira

- O Globo

Não há a menor possibilidade de o presidente Michel Temer vir a ser impedido pelo Congresso por causa do caso do apartamento do ex-ministro Geddel Vieira Lima. Mas ele precisa urgentemente, se é que pode, se livrar das amarras que o prendem a seus companheiros de longa viagem do PMDB.

Oque aconteceu nesse caso revela como funciona o compadrio na política nacional contra os interesses da sociedade. Certamente seria encontrada uma saída para o caso da liberação da construção do monstrengo arquitetônico na Praia do Porto da Barra, em Salvador, se o Ministério da Cultura estivesse ocupado por um dos muitos acólitos políticos do governo.

Mas o ministério estava ocupado por um novato político, que não entendeu a lição que lhe deu de graça Temer, um velho político acostumado às vicissitudes e benesses do poder. “A política tem dessas coisas, tem dessas pressões”, consolou-o o presidente da República. Ninguém é presidente do PMDB por tanto tempo e três vezes presidente da Câmara, impunemente.

Duas versões, uma crise - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

• Temer e Calero falam a mesma coisa, mas a interpretação deles é bem diferente

Quem prestar atenção às falas do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero e do presidente Michel Temer, sem radicalismo e sem ideias preconcebidas, faz uma constatação interessante: os dois estão dizendo a mesma coisa, fazendo o mesmo relato sobre as três conversas que tiveram na semana do pedido de demissão de Calero. A confusão toda está em como cada um deles sentiu e interpretou essas conversas.

Temer, em entrevistas e diálogos com interlocutores, e Calero, em entrevistas e no depoimento à PF, contam que se encontraram num jantar no Alvorada na quarta-feira, voltaram a se falar no dia seguinte e, por fim, trocaram palavras protocolares por telefone, na sexta, quando o ministro já tinha articulado a primeira entrevista bombástica sobre o apartamento de Geddel Vieira Lima e o depoimento oficial à PF no Rio (antes mesmo de se demitir oficialmente).

Pagar para ver - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• Temer é considerado presidente fraco, mas tinha gerado expectativas de que faria a coisa certa do ponto de vista ético

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, porá em votação hoje, no plenário da Câmara, o relatório do deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS) que criminaliza o caixa dois eleitoral, com penas de prisão de dois a cinco anos. Ou seja, o texto aprovado pela comissão especial, depois de muitas negociações com os procuradores federais. Maia nega a existência de um substitutivo e afirma que vai submeter a proposta à votação nominal.

Na semana passada, deputados enrolados na Operação Lava-Jato articulavam a aprovação, em plenário, de uma anistia irrestrita ao crime de caixa dois e a retirada da proposta do crime de responsabilidade para promotores e magistrados. A votação ocorrerá sob forte desconfiança da opinião pública, ainda que o presidente da República, Michel Temer, e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no domingo, ao lado do próprio Maia, tenham anunciado o compromisso de barrar qualquer tentativa de anistiar a prática de caixa dois nas eleições passadas.

A boia do xadrez - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

A esperança de Michel Temer era que a melhora das expectativas após o impeachment de Dilma lhe desse fôlego para atravessar os primeiros meses. Ele conseguiria ainda algum oxigênio extra com a aprovação das reformas, e isso deveria bastar até que a economia começasse a reagir positivamente. É da recuperação que seu governo extrairia a legitimidade que não conquistou nas urnas. Se a Lava Jato não acertasse em cheio o núcleo duro de sua administração, Temer poderia sonhar até com reeleição. Bem, não está dando certo...

É verdade que a saída de Dilma melhorou as expectativas, mas as reformas vêm num ritmo muito mais lento do que o necessário. E, nesse meio tempo, o cenário econômico mudou para pior. Ainda não apareceram sinais inequívocos de recuperação, e os analistas já reveem para baixo as previsões para 2017. A eleição de Trump adiciona mais algumas incertezas que não ajudam o Brasil.

O difícil acordo dos Estados com a União - Raymundo Costa

- Valor Econômico

• O risco de nada fazer é ficar à mercê do populismo em 2018

Os Estados voltaram à mesa de negociação com a União, apenas cinco meses após o governo federal concordar em alongar as dívidas estaduais por mais 20 anos e suspender o pagamento das parcelas mensais até o fim de 2016. Já em junho a negociação parecia com problemas, pois menos de 15 dias depois do anúncio feito por Michel Temer, à época presidente interino, os governadores do Nordeste reclamavam uma ajuda extra da União de R$ 7 bilhões sob a alegação de perda de receita causada em boa parte por ações do governo federal.

Na prática, os governadores da região sentiram-se então discriminados pela União, que abriu os cofres para São Paulo, Rio de Janeiro (duas vezes) e Minas Gerais, os Estados que mais devem, e deixou a região à margem de ajuda federal. Isso, quando toda dívida do Nordeste com a União representa apenas 4% do total [devido pelos Estados]. O ressentimento está do mesmo tamanho que em junho. No calor das negociações, alguns governadores chegaram mesmo a lembrar aos representantes federais que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é bem votado no Nordeste não apenas por causa das políticas sociais dos governos do PT como o programa Bolsa Família. Sem muito êxito, aparentemente.

Canais interditados - José Paulo Kupfer

- O Estado de S. Paulo

• As condições objetivas para a retomada do crescimento são adversas

Não foi a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos ou os respingos no presidente Michel Temer da crise produzida pela tentativa de interferência do secretário da Presidência, Geddel Vieira Lima, em outro ministério, em nome de interesses pessoais, que determinaram a agora mais disseminada volta do pessimismo com o futuro próximo da economia. Esses eventos, aos quais se poderia adicionar o desconforto geral com as manobras para aprovar no Congresso uma anistia aos políticos envolvidos em esquemas de caixa 2, às vésperas de uma anunciada superdelação premiada de executivos da Odebrecht, ajudaram a compor o clima, mas nenhum deles pode ser responsabilizado pelas novas projeções de recuperação mais lenta e mais tímida da economia.

Nova queda do PIB - Míriam Leitão

- O Globo

O Banco Central vai decidir amanhã a nova taxa de juros no mesmo dia em que o IBGE divulgará a sétima queda consecutiva do PIB. Hoje, o governo enfrentará o desafio de aprovar a PEC do teto de gastos no Senado no meio do agravamento da crise política. As projeções para o crescimento de 2017 voltaram a cair, e a alta do dólar freou a queda das estimativas da inflação. Há mais dúvidas sobre a recuperação.

A agenda da semana está carregada de eventos importantes para a economia. As apostas para o corte de juros na reunião do Copom já foram de meio ponto percentual, mas agora virou praticamente consenso que a dose será menor, de 0,25. Ainda há dúvidas sobre a aprovação do ajuste fiscal pelo governo Temer, e a eleição de Donald Trump, nos EUA, deixou o cenário mais difícil para as economias que passam por dificuldades, como é o caso do Brasil.

O veto à anistia – Editorial/O Estado de S. Paulo

“Queremos fazer uma comunicação, por termos feito, o Executivo e o Legislativo, um ajustamento institucional com vistas a, se for possível, impedir a tramitação de proposta que vise a chamada anistia.” Ladeado pelos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, o presidente da República, Michel Temer, anunciou à nação que, atento à “voz das ruas”, o governo está disposto a impedir que se concretize no Congresso Nacional a manobra que objetiva, no momento em que se anuncia iminente a divulgação da delação premiada da Odebrecht, blindar os políticos contra a punição da prática do caixa 2.

Nos últimos dias Michel Temer tentou não se envolver publicamente em dois casos constrangedores. Um terceiro escândalo – o confronto entre os ex-ministros Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, e Marcelo Calero, da Cultura –, tratado inicialmente pelo presidente de forma vacilante, jogou-o num turbilhão do qual custou a sair.

Desigualdade diminuiu, mas melhoria é temporária – Editorial/Valor Econômico

A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) trouxe um retrato controverso da renda, igualdade social e emprego em 2015, que reflete o forte impacto da queda de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) na vida da população e explica em parte a crescente rejeição ao governo da então presidente Dilma Rousseff. Se alguns resultados são definitivamente ruins, outros apresentados como positivos são discutíveis. Pela primeira vez em 11 anos, o rendimento total, incluindo salário, aposentadoria, benefícios sociais, aluguéis, juros e dividendos, caiu 5,4%. O rendimento apenas do trabalho recuou 5%; e o domiciliar nada menos que 7,5%. Em todos os casos, foi uma queda superior à da variação do PIB, que atingiu tanto o trabalhador com carteira assinada como quem trabalha por conta própria e empregados domésticos.

A diminuição do rendimento atingiu todas as faixas, mas foi mais intensa entre os que ganham mais, o que deu mais um empurrão na trajetória de redução da desigualdade, medida pelo Índice de Gini (quanto mais perto de um, mais desigual). Ou seja, a desigualdade diminuiu não porque os mais pobres passaram a ganhar mais, mas sim porque os mais ricos ganharam menos. A metade da população com maiores rendimentos perdeu 5,7% dos ganhos em relação a 2014; os outros 50%, com os rendimentos mais baixos, tiveram perda média de 4%. Assim, levando em conta todas as fontes de rendimentos, o Índice de Gini passou de 0,497 em 2014 para 0,491 em 2015; para os rendimentos de trabalho, o índice caiu de 0,490 para 0,485 e, no caso do rendimento domiciliar, variou de 0,494 para 0,493.

Governo Temer atrás de uma agenda positiva – Editorial/O Globo

• Assolado por crises, Planalto precisa tomar a iniciativa, com a base parlamentar, para superar a tensão política e garantir a aprovação de medidas essenciais

Pode haver quem veja por trás da sucessão de problemas internos no governo Temer um mau alinhamento dos astros, uma trapaça do destino. A saída de seis ministros em seis meses não é mesmo fato trivial. Tampouco o pano de fundo ético por trás de algumas demissões. Entre elas, a destituição do senador Romero Jucá (PMDB-RR), do Planejamento, por ter sido gravado em conspiração contra a Lava-Jato, a primeira defenestração da série; e as duas últimas, de Marcelo Calero, ministro da Cultura, devido a pressões do colega Geddel Vieira, da poderosa Secretaria de Governo, para que resolvesse um problema privado seu no Iphan, e por isso ele também terminou fulminado pelo escândalo que patrocinou.

Só mesmo a total ausência de senso de responsabilidade pública faz um ministro jogar o peso do cargo na liberação de um projeto imobiliário visivelmente irregular, numa área tombada pelo patrimônio histórico em Salvador. A história ganhou fermento, porque Calero saiu atirando.

Fidel Castro – Editorial/Folha de S. Paulo

Não se limitou aos setores mais dogmáticos da esquerda o fascínio que, durante décadas, cercou a figura de Fidel Castro na opinião pública latino-americana.

Estranhamente, mesmo entre grupos já desiludidos em definitivo pelo sistema soviético, o modelo de Cuba —nada mais que sua tradução em paisagem tropical— continuava e continua a provocar relativa simpatia.

Surgindo para o mundo numa aura de herói romântico, capaz de com um punhado de homens iniciar a derrubada da ditadura de Fulgêncio Batista, Fidel Castro assumiria posteriormente o papel de um símbolo anti-imperialista, liderando de sua pequena ilha uma impressionante resistência às investidas do poderio norte-americano.

Primeiro Motivo da Rosa - Cecília Meireles

Vejo-te em seda e nácar,
e tão de orvalho trêmula, que penso ver, efêmera,
toda a Beleza em lágrimas
por ser bela e ser frágil.

Meus olhos te ofereço:
espelho para face
que terás, no meu verso,
quando, depois que passes,
jamais ninguém te esqueça.

Então, de seda e nácar,
toda de orvalho trêmula, serás eterna. E efêmero
o rosto meu, nas lágrimas
do teu orvalho… E frágil.

Papel de Pão - Jorge Aragão