sábado, 11 de outubro de 2008

A campanha não segura a crise


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL

AS FICHAS QUE O GOVERNO APOSTOU no segundo turno da campanha para a eleição de prefeitos e vereadores estão caindo no pano da decepção. E a briga pelo voto é decidida na correria de três semanas, com a votação no domingo, dia 26. Uma semana passou com a velocidade da pista encharcada pela inclemência da chuva que não prejudicou a articulação das alianças que obedeceram ao rito da coerência. A estréia dos debates que devem cumprir a obrigação de esquentar a temporada não peca pela modéstia e, ao contrário, assusta pelo risco de passar da medida e maltratar a paciência do eleitor.

Nas manchas no rendilhado municipal em que a fatura foi liquidada no primeiro tempo, sobrou para a população a comodidade de espectadores da disputa na vizinhança, seja pela mídia que transmitirá os debates ou pelo horário de propaganda eleitoral, que promete ser mais animado e de melhor nível do que a baixaria deprimente do primeiro turno. Nem tudo está perdido. Afinal, qualquer eleição deve interessar a todos. E, como a próxima, em 2010, mobilizará o país na campanha para a sucessão do presidente e dos governadores e para senadores, deputados federais e estaduais, estamos na preliminar, com o alinhavo das alianças que antecipam o modelo de polarização do nosso falido esquema político, atolado na crise sistêmica que envolve os três poderes, com o destaque do distúrbio ético que aflige o Legislativo.

Antes de bater ponto no dia de amanhã, a ameaça da recessão mundial, afinal admitida pelo presidente Lula e pela dupla que embaralha as cartas, formada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega e pelo presidente do Banco Central, Domingos Meirelles, que desistiu do quebra-cega dos truques para ousar as primeiras medidas para valer, com injeções maciças de bilhões no mercado. Seguiram o rastro da redução dos juros pelos bancos centrais dos três continentes, em inédita decisão que sinaliza a gravidade da crise financeira desencadeada pelos Estados Unidos.

A choradeira ensopa os lenços em todo o mundo e pinga nos prognósticos de escassas esperanças. O Fundo Monetário Internacional (FMI), pela voz rouca do seu conselheiro econômico Oliver Blanchard, puxa o crepe e anuncia tempos difíceis, com crescimento zero e até negativo ­ o que não é crescimento, mas encolhimento ­ regado com o pífio consolo de longínqua recuperação que comece lá por 2009. O presidente George Bush buscou alivio dos seus remorsos e fracassos em um a bate-papo pelo telefone com o presidente Lula. Pela versão oficial, a voz chegou pelo fio no tom de otimismo: "o Brasil tem uma plataforma sólida para enfrentar a crise devido aos bons fundamentos da economia", deu o recado.

Lula retribuiu o agrado, saudando a aprovação do pacote de socorro do sistema financeiro americano. Em meio a tal turbação, sobra uma beirada no tabuleiro para o movimento no jogo de dama da política doméstica. Mas, não vamos sepultar a esperança de alguns dividendos com a eleição dos novos prefeitos e dos vencedores do mano a mano das urnas eletrônicas do dia 26.

As alianças que estão sendo firmadas ou ainda nas preliminares não prometem correções significativas na bagunça da incoerência dos blocos de interesse estaduais e municipais. Na nossa abandonada ex-capital do país e que não parece capital do Estado do Rio de Janeiro, a surpresa da classificação de Fernando Gabeira, do Partido Verde, pelo menos coloriu a campanha com o toque do inesperado.

O favoritismo do candidato do PMDB, ampliado com os acordos firmados com PT, o PSB e o PSC, vai enfrentar o teste dos debates, que prometem sacudir a cidade até o limite da saturação.

Mais de 20 estão agendados pelas redes de TV, emissoras de rádio e pela mídia. Além dos 10 minutos diários para cada um no horário eleitoral. Por todo o país, em todas as capitais e municípios em que a eleição será decidida no segundo turno, com as suas peculiaridades, a população será atraída para o espetáculo democrático do debate de idéias e até do xingamento entre os finalistas que conquistaram a vaga na primeira rodada. E até é o caso de lamentar pela oportunidade perdida ou adiada.

Na próxima eleição, com toda a certeza teremos uma nova legislação eleitoral. E uma das modificações inadiáveis atingirá o horário de propaganda eleitoral para acabar com o ridículo desfile dos candidatos a vereador e estimular o debate sobre programas e idéias. Quem viver, verá.

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