Ao afirmar ontem em Alta Floresta, em Mato Grosso, que não se pode chamar de "bandido" quem desmatou a floresta nos últimos anos, mas ao mesmo tempo dizer que é preciso conscientizar a sociedade de que, hoje em dia, o desmatamento "joga contra o país", o presidente Lula equilibra-se entre o preservacionismo e o desenvolvimentismo, tentando forjar uma posição que não impeça o crescimento econômico, mas não ofenda a comunidade internacional.
Por isso, o Brasil está preparando cuidadosamente uma proposta para levar para a reunião do clima em Copenhague, em dezembro, um elenco de ações que se propõe a fazer, e que deve incluir mesmo algumas ações unilaterais que dispensarão apoios financeiro e tecnológico externos.
As ações devem estar no Plano Nacional de Mudança de Clima, e estão sendo negociadas pelos ministérios das Relações Exteriores, Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente, cujos titulares já fizeram duas reuniões nesse sentido, e uma terceira está para ser marcada.
Já que 65% das nossas emissões de gases de efeito estufa são devidas ao desmatamento, é bem possível que essas ações tenham a ver com a questão. Ainda mais porque, até lá, o governo pode se deparar com as consequências da medida provisória 458, que regulariza a posse de terra na região.
O temor é que a medida provisória de regularização das posses na Amazônia pode gerar, num primeiro momento, um aumento do desmatamento. O governo está convencido, porém, que em médio e longo prazos a medida será benéfica para organizar o crescimento sustentado da região.
Ontem, o presidente Lula enfrentou as críticas das ONGs, afirmando que não falam a verdade quando afirmam que a medida provisória vai favorecer a grilagem de terras na Amazônia.
As contradições da política energética brasileira estão também registradas em recente artigo publicado por dois especialistas brasileiros na "Energy Policy", ("Política Energética", em tradução livre), uma das mais importantes publicações internacionais, que trata a questão da energia por diversos aspectos, dos econômicos e políticos ao meio ambiente.
Joaquim F. de Carvalho e Ildo L. Sauer, ambos professores da Universidade de São Paulo, demonstram que o país tem condições de montar um sistema de fornecimento de energia através de fontes renováveis não poluidoras.
Joaquim Carvalho critica a decisão do governo, anunciada pelo ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, recentemente em Yekaterinburg, na Rússia, de contratar com a Areva, gigante da indústria nuclear francesa, a construção de quatro centrais nucleares semelhantes a Angra II, a um custo de US$5 bilhões, cada uma.
Assim como se espanta com a programação de construção de 68 termoelétricas a combustíveis fósseis, até o ano 2017.
No artigo, eles apontam estimativas que, segundo Carvalho, são referendadas também por pesquisadores da Unicamp e outras universidades, de que um sistema interligado hidro-eólico-térmico (com bagaço de cana) - aproveitando as sinergias provenientes da complementaridade entre as estações chuvosas, as safras de cana e o regime dos ventos -, ofereceria ao país a possibilidade de extrair indefinidamente de fontes renováveis e não poluidoras, toda a energia elétrica que consome, "desde que adotasse, paralelamente, um programa inteligente, voltado para a economia e racionalização do uso da energia, a exemplo do que vêm fazendo os países ditos desenvolvidos".
Com a economia decorrente do fato de que a eletricidade gerada nas hidrelétricas custará apenas 40% daquela gerada nas nucleares, os autores mostram que sobrariam recursos para "financiar o desenvolvimento de reatores nucleares à altura de serem fabricados e montados pela indústria local, inclusive para equipar uma frota a propulsão nuclear, que será indispensável para assegurar o controle da exploração petrolífera e da pesca ao longo dos mais de 8.000 km da Costa Atlântica e Mar Territorial adjacente".
Segundo eles, "qualquer país que disponha de potencial hidrelétrico e capacidade técnica para explorá-lo, procura aproveitá-lo ao máximo".
Na Europa, por exemplo - apesar da alta densidade demográfica -, as hidrelétricas, de grande, médio e pequeno porte, respondem por 17% do suprimento de eletricidade, indo de 99% na Noruega a 12% na França e na República Tcheca, passando por 76% na Suíça, 65% na Áustria, 51% na Suécia etc.
"Vender dez centrais nucleares para o Brasil, que está aproveitando apenas 28% de seu potencial hidrelétrico, é de fato uma proeza extraordinária", ironiza Joaquim Carvalho.
O diplomata Sérgio Serra, nosso embaixador extraordinário para a mudança do clima, participou da reunião de Bonn, uma das preparatórias para a de Copenhague no fim do ano, quando serão definidas as metas que substituirão em 2013 as do Tratado de Kyoto. Segundo ele, embora lentamente, as conversas dos países em desenvolvimento estão indo bem, já havendo até mesmo um texto base, em que vários países já apresentaram emendas.
O Plano de Bali determina que os países devem adotar ações que precisam ser mensuráveis e verificáveis. E devem ser ações apoiadas financeiramente e ter apoio tecnológico dos países desenvolvidos.
O problema é a discussão das metas do substituto do Tratado de Kyoto para os países desenvolvidos, que tem opositores fortes como o Japão, e depende da expectativa pela posição dos Estados Unidos. (Continua amanhã)
Por isso, o Brasil está preparando cuidadosamente uma proposta para levar para a reunião do clima em Copenhague, em dezembro, um elenco de ações que se propõe a fazer, e que deve incluir mesmo algumas ações unilaterais que dispensarão apoios financeiro e tecnológico externos.
As ações devem estar no Plano Nacional de Mudança de Clima, e estão sendo negociadas pelos ministérios das Relações Exteriores, Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente, cujos titulares já fizeram duas reuniões nesse sentido, e uma terceira está para ser marcada.
Já que 65% das nossas emissões de gases de efeito estufa são devidas ao desmatamento, é bem possível que essas ações tenham a ver com a questão. Ainda mais porque, até lá, o governo pode se deparar com as consequências da medida provisória 458, que regulariza a posse de terra na região.
O temor é que a medida provisória de regularização das posses na Amazônia pode gerar, num primeiro momento, um aumento do desmatamento. O governo está convencido, porém, que em médio e longo prazos a medida será benéfica para organizar o crescimento sustentado da região.
Ontem, o presidente Lula enfrentou as críticas das ONGs, afirmando que não falam a verdade quando afirmam que a medida provisória vai favorecer a grilagem de terras na Amazônia.
As contradições da política energética brasileira estão também registradas em recente artigo publicado por dois especialistas brasileiros na "Energy Policy", ("Política Energética", em tradução livre), uma das mais importantes publicações internacionais, que trata a questão da energia por diversos aspectos, dos econômicos e políticos ao meio ambiente.
Joaquim F. de Carvalho e Ildo L. Sauer, ambos professores da Universidade de São Paulo, demonstram que o país tem condições de montar um sistema de fornecimento de energia através de fontes renováveis não poluidoras.
Joaquim Carvalho critica a decisão do governo, anunciada pelo ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, recentemente em Yekaterinburg, na Rússia, de contratar com a Areva, gigante da indústria nuclear francesa, a construção de quatro centrais nucleares semelhantes a Angra II, a um custo de US$5 bilhões, cada uma.
Assim como se espanta com a programação de construção de 68 termoelétricas a combustíveis fósseis, até o ano 2017.
No artigo, eles apontam estimativas que, segundo Carvalho, são referendadas também por pesquisadores da Unicamp e outras universidades, de que um sistema interligado hidro-eólico-térmico (com bagaço de cana) - aproveitando as sinergias provenientes da complementaridade entre as estações chuvosas, as safras de cana e o regime dos ventos -, ofereceria ao país a possibilidade de extrair indefinidamente de fontes renováveis e não poluidoras, toda a energia elétrica que consome, "desde que adotasse, paralelamente, um programa inteligente, voltado para a economia e racionalização do uso da energia, a exemplo do que vêm fazendo os países ditos desenvolvidos".
Com a economia decorrente do fato de que a eletricidade gerada nas hidrelétricas custará apenas 40% daquela gerada nas nucleares, os autores mostram que sobrariam recursos para "financiar o desenvolvimento de reatores nucleares à altura de serem fabricados e montados pela indústria local, inclusive para equipar uma frota a propulsão nuclear, que será indispensável para assegurar o controle da exploração petrolífera e da pesca ao longo dos mais de 8.000 km da Costa Atlântica e Mar Territorial adjacente".
Segundo eles, "qualquer país que disponha de potencial hidrelétrico e capacidade técnica para explorá-lo, procura aproveitá-lo ao máximo".
Na Europa, por exemplo - apesar da alta densidade demográfica -, as hidrelétricas, de grande, médio e pequeno porte, respondem por 17% do suprimento de eletricidade, indo de 99% na Noruega a 12% na França e na República Tcheca, passando por 76% na Suíça, 65% na Áustria, 51% na Suécia etc.
"Vender dez centrais nucleares para o Brasil, que está aproveitando apenas 28% de seu potencial hidrelétrico, é de fato uma proeza extraordinária", ironiza Joaquim Carvalho.
O diplomata Sérgio Serra, nosso embaixador extraordinário para a mudança do clima, participou da reunião de Bonn, uma das preparatórias para a de Copenhague no fim do ano, quando serão definidas as metas que substituirão em 2013 as do Tratado de Kyoto. Segundo ele, embora lentamente, as conversas dos países em desenvolvimento estão indo bem, já havendo até mesmo um texto base, em que vários países já apresentaram emendas.
O Plano de Bali determina que os países devem adotar ações que precisam ser mensuráveis e verificáveis. E devem ser ações apoiadas financeiramente e ter apoio tecnológico dos países desenvolvidos.
O problema é a discussão das metas do substituto do Tratado de Kyoto para os países desenvolvidos, que tem opositores fortes como o Japão, e depende da expectativa pela posição dos Estados Unidos. (Continua amanhã)
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