quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Papel das Forças Armadas divide cientistas políticos

Maiá Menezes* Enviada especial
DEU EM O GLOBO


Divergência é sobre como o Brasil deve exercer sua liderança na América do Sul

CAXAMBU (MG). Discussões sobre o papel das Forças Armadas no país e as implicações da liderança do Brasil na América do Sul esquentaram ontem os debates entre intelectuais reunidos no 33oEncontro anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu.

Para a cientista política Maria Celina D’Araújo, da PUC-RJ, o Brasil precisa primeiro arrumar a casa para, depois, exercer esse protagonismo local. Segundo ela, há um “mantra” que cobra o exercício dessa liderança: — É uma visão de Brasil que acaba relegando os problemas internos. Isso me incomoda: o Brasil tem que exercitar sua liderança, e a educação continua a mesma coisa, as pessoas estão morrendo nas filas dos hospitais... O país pode liderar uma região se ele não é capaz de tratar bem seu povo? Do ponto de vista estratégico, o Brasil, segundo a pesquisadora, vem se equiparando, nas escolhas feitas pelos planos de Defesa, à Venezuela e à Bolívia. E se distanciando de modelos mais modernos, como o do Chile.

Apesar de frisar que o país ainda não chegou à situação já vivida nos países andinos, onde as Forças Armadas estão sendo usadas para “projetos políticos”, ela disse considerar preocupante que o país mantenha na Estratégia Nacional de Defesa o conceito da instituição como “berço da cidadania”, como se estivesse pronta para um ataque inimigo.

A cientista social Maria Regina Soares Lima, do Iuperj, defendeu que o papel de liderança do Brasil é inevitável, mas que pode ser exercido de forma coercitiva ou cooperativa. Usou números para atestar o crescimento do país na região: de 1980 a 1984, o PIB argentino era 27% do da América do Sul e o brasileiro, 34%. Hoje, o argentino corresponde a 11% e o brasileiro, a 50%.

— Certamente, a América do Sul sempre será pequena para o tamanho da economia brasileira — avalia a pesquisadora.

O cientista político Tullo Vigevani, da Unesp, diz que o papel brasileiro é fundamental neste momento da América do Sul: — Há uma mudança de atitude da sociedade sul-americana em relação ao Brasil. Isso já vinha se desenvolvendo no governo Fernando Henrique. Hoje, a exigência em relação ao Brasil é que se torne um líder. Ainda que (a exigência) tenha contradições e se manifeste na forma de luta contra o imperialismo brasileiro, caso da Bolívia, do Paraguai

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