
Os quase 400 mortos oficialmente reconhecidos nos conflitos que tiveram origem na praça Tahrir podem alterar a 96ª posição que o Egito ocupa entre os 100 países mais violentos do mundo. Quanto a Alagoas, não há notícias do arrefecimento do tráfico de drogas, apontado como a âncora da violência que, no último ano de registro (2008), vitimou 1.887 pessoas num dos menores Estados do país.
O documento, produzido em parceria entre o Ministério da Justiça e o instituto Sangari (www.sangari.com/mapadaviolencia), informa que a taxa de homicídios deixou de crescer significativamente, mas estacionou em patamar ainda alto demais para padrões mundiais (26,4 mortes/100 mil habitantes). O Brasil ficou em 6º lugar, ultrapassado por países como El Salvador (1º) e Guatemala (4º), onde o crime estaria sendo dominado pelo que o relatório chama de "gangues juvenis".
Na década, morreram de morte matada meio milhão de brasileiros, cifra que rivaliza com a dos grandes conflitos mundiais do período, como as guerras do Iraque e do Afeganistão, mas não move um ponto sequer das bolsas de valores.
Alagoas lidera, mas o prontuário que registra o maior crescimento (367%) no número de homicídios na década é o do Maranhão. Em 1998, o Estado era o mais pacato do país, hoje, junto com a fronteira agrícola, já avançou para a 21ª posição.
Na década, três Estados ingressaram no clube dos 10 mais violentos do país: Bahia, Paraná e Pará. É neste último que fica o canto mais violento do território nacional, Itupiranga, município da região de Marabá com 42 mil habitantes onde, ao lado dos tradicionais crimes de pistolagem, assaltos a banco por quadrilhas armadas de fuzis e metralhadoras viraram rotina.
A violência se espraia no território nacional, mas é cada vez mais concentrada entre brasileiros negros de 15 a 24 anos. Apenas um terço dos óbitos jovens da década registram morte natural. Somem-se aos homicídios os acidentes de trânsito que, pelo crescimento exponencial da frota nacional de selvageria motorizada, já ultrapassam os índices pré- Código Brasileiro de Trânsito.
Além de jovem, o brasileiro assassinado é cada vez mais negro. No Brasil dos brancos a violência caiu 22%. No dos negros cresceu quase na mesma proporção. A cor da pele duplica as chances de um basileiro ser morto. Apesar de a violência crescer a taxas significativas em todo o país, a estabilidade na taxa nacional de homicídios - o crescimento na década foi de 1,9% - deve-se aos dois Estados mais populosos. Em São Paulo a taxa de homicídios caiu 56% na década e no Rio a redução foi metade da paulista.
A redução da violência em ambos os Estados esteve fortemente ancorada nos indicadores de suas capitais. São Paulo hoje é a capital mais segura para se viver no Brasil. Dez anos atrás era a sexta mais perigosa. O Rio, que locupleta a catarse nacional em torno do tema, era, no início da década, a quinta capital brasileira mais perigosa. Hoje apenas sete são mais seguras - Palmas, Florianópolis, Boa Vista, Campo Grande, Teresina e Rio Branco, além de São Paulo.
Coordenador do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cuja última edição é de novembro do ano passado, Renato Sérgio de Lima, relaciona a redução dos homicídios das capitais brasileiras, que o Mapa da Violência registra em 17%, ao crescimento nos gastos municipais com segurança pública. Lima explica que os prefeitos passaram a se envolver mais diretamente - chegando até a pagar aluguel de delegacia e quentinha para policial - porque a deterioração das áreas afetadas acaba exigindo um dispêndio ainda maior do poder municipal.
Segundo o anuário, o poder público mais do que duplicou seus gastos nesta rubrica a partir de 2003, sendo o maior aumento das despesas federais (202%), seguido pelas municipais (168%) e dos Estados (96%), titulares, pela Constituição, desta atribuição. A União passou a gastar mais para coordenar as ações nacionais de segurança pública. No detalhamento dos cortes do Orçamento, que só esperava a aprovação do salário mínimo para acontecer, essas despesas estarão na mira. É a melhor maneira de se dar a guerra por perdida.
Maria Cristina Fernandes é editora de Política.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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