Isolado por aliados, ministro do PDT deve ser mantido pelo Planalto até fevereiro, mas mesmo governistas admitem que imunidade não resistiria a uma nova denúncia
Paulo de Tarso Lyra
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, conseguiu sobreviver, a duras penas, a mais uma semana de tiroteio. Depois de fotos e um vídeo mostrarem que ele voara em uma aeronave King Air ao lado do empresário Adair Meira, presidente da Fundação Pró-Cerrado, até mesmo o partido de Lupi, o PDT, jogou a toalha e admitiu que o melhor seria procurar outro nome para o ministério. Dilma, no entanto, subverteu as expectativas, chamou Lupi para uma nova conversa no Palácio do Planalto, e decidiu dar-lhe uma nova chance. Como confidenciou ao Correio um interlocutor da presidente, Dilma está "com uma paciência enorme com o ministro, embora ele não esteja imune a uma nova denúncia".
A novela Lupi repete, até o momento, o roteiro de outros ministros que acabaram sendo exonerados. Surge uma denúncia, o ministro exonera pessoas próximas, promete empenho nas investigações, é chamado pela presidente e dá as primeiras explicações. O bombardeio prossegue até que se torne insuportável. "Todo mundo sabe o fim dessa novela", lembrou um assessor palaciano.
A presidente, no entanto, tenta surpreender os analistas e manter Lupi na pasta até a reforma ministerial prevista para o início do ano que vem. Ela não quer ceder às pressões de parte do PDT, que se mobiliza para indicar um novo nome. Além disso, segundo pessoas próximas da presidente, o receio de Dilma é ceder mais uma vez e ficar refém da rotina de denúncias contra integrantes do primeiro escalão. "No dia em que Lupi for demitido, os mesmos jornais que estamparem a notícia vão trazer novas denúncias contra um outro ministro. E tudo vai começar novamente", ressaltou um aliado de Dilma.
A boa vontade de Dilma com Lupi não significa uma relação política anterior. Apesar de a presidente ter começado sua carreira política no PDT, eles não eram próximos nos tempos em que dividiam a mesma legenda. Dilma militava no Rio Grande do Sul e foi secretária dos governos de Alceu Collares (PDT) e de Olívio Dutra (PT). Lupi foi tesoureiro do partido e vice-presidente da legenda. Com atuação mais concentrada no Rio de Janeiro, só aparecia nos Pampas acompanhado do presidente pedetista Leonel Brizola.
Neopetista
Quando o PDT rompeu com o governo Olívio, Dilma recusou-se a deixar o posto no governo e teve de pedir desfiliação do partido. Ela foi muito criticada pela direção nacional do PDT e acabou, pela sua lealdade ao então governador gaúcho, filiando-se ao PT. A divisão seguiu em 2002, quando Dilma apoiou Lula e o PDT coligou-se com Ciro Gomes.
Quando Brizola morreu, em junho de 2004, Lupi assumiu a direção partidária e conseguiu unificar os diretórios gaúcho e fluminense, que viviam às turras por ciúmes mútuos do fundador da legenda. Em 2006, Dilma e Lupi começaram a se aproximar um pouco, quando o então presidente do PDT convenceu o partido a, no segundo turno, apoiar Lula contra o tucano Geraldo Alckmin, apesar dos protestos de Paulo Pereira da Silva.
Dessa vez, foi Lupi quem teve a lealdade premiada. Lula o escolheu para ser ministro do Trabalho. Em 2010, o PDT manteve o passo ao lado dos petistas e se estabeleceu como primeira legenda a anunciar apoio à candidatura de Dilma Rousseff a presidente. "Lupi costurou esse apoio antes mesmo de o PT confirmar que estaria com ela", lembra o deputado Vieira da Cunha (PDT-RS), um dos cotados para a pasta em 2012.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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