"A primeira reação de quem se incomoda com a corrupção é apontar um culpado. Culpados, evidentemente, existem. Ninguém que esteja numa função de responsabilidade deixa passar como rotina certos procedimentos explosivos que deslocam a tomada de decisões para a beira do precipício. Governar ou administrar são operações delicadas e quem vacila no cumprimento das obrigações e abre espaços para lobistas inescrupulosos, parentes vorazes, protegidos e amigos, ou deseja testar os limites da legalidade, não pode merecer perdão. Por bem menos muitos cidadãos são presos ou têm a vida reduzida a pó. Não há ingênuos na alta administração, muito menos anjos. Todos sabem distribuir favores, castigos e recompensas com a mesma desenvoltura. Ninguém rasga dinheiro, assina cheque em branco e pode alegar ter sido enganado. Porém, se sempre há culpados, nem sempre é fácil descobri-los ou atribuir as devidas responsabilidades na cadeia de comando da corrupção. Punições exemplares e cortes de cabeças coroadas são importantes, mas não desmontam esquemas."
Marcos Aurélio Nogueira, professor Titular de Teoria Política do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da UNESP. A soma de todos os nossos malfeitos. O Estado de S. Paulo, 26/11/2011.
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