A chamada da coluna de hoje tomei emprestada do livro escrito por meu irmão,
Jose Roberto, e publicado recentemente pela Editora Campus. Nele estão
presentes alguns dos artigos escritos por ele sobre o crescimento econômico no
Brasil. José Roberto é um observador qualificado das coisas da economia no
Brasil e o título de seu livro é bastante atual nestes anos de Dilma Rousseff.
Estamos chegando ao fim de 2012 sem que os analistas consigam ter uma visão
clara do crescimento nos próximos doze meses. Os mais otimistas falam em algo
entre 4 a 4,5%; os mais pessimistas não acreditam em um crescimento muito acima
de 3%. Eu, que me colocava no primeiro grupo, estou agora em dúvida e, se
pressionado, falaria em 3,5%, no máximo. Minhas incertezas sobre o ritmo do crescimento
da economia brasileira estão centradas em duas questões principais.
A primeira tem a ver com a onda de pessimismo que tomou conta das empresas
nas principais economias de mercado do mundo e que levou a uma queda acentuada dos
investimentos. Esse movimento aprofundou-se nos últimos meses com a questão do
ajuste fiscal de mais de 4% do PIB já contratado para 2013 nos Estados Unidos.
Sabemos que, quando o chamado espírito animal dos empresários entra na
geladeira, a volta dos investimentos só ocorre muito tempo depois de superadas
as fontes de insegurança. Se tudo der certo nas negociações políticas que serão
comandadas pelo presidente Obama nas próximas semanas, somente no segundo e
terceiro trimestre do ano próximo é que poderemos ter a normalização dos
investimentos.
Será no front do investimento, privado, que a batalha pelo crescimento
econômico terá lugar
E o Brasil entrou claramente para o clube das economias de mercado com seus
empresários assustados com o futuro e pouco dispostos a grandes desembolsos
para a compra de máquinas e equipamentos. Com isso, falar em 4,5% de
crescimento do PIB para o ano fechado de 2013 me parece um pouco exagerado. No
máximo poderemos ver esse nível de crescimento a partir do segundo semestre.
Mas existem outras questões internas, independente dessa verdadeira greve de
investimentos que ocorre no mundo ocidental, e que também tem travado nosso
crescimento. A primeira delas é representada por uma série de gargalos, no lado
da oferta, e que vêm criando atritos cada vez mais graves no funcionamento de
vários mercados importantes. Com isso, as respostas às medidas de estímulo ao
consumo que formam o eixo principal da política econômica do governo Dilma - e
que fizeram o sucesso dos anos Lula - estão sendo cada vez mais débeis. Os
principais itens desse grupo de redutores do crescimento são: a taxa de
desemprego muito baixa, principalmente nos segmentos de melhor formação
profissional, gargalos na infraestrutura e que provocam custos crescentes de produção
no Brasil e um endividamento dos consumidores que já chegou ao limite de sua
renda disponível.
Para mostrar ao leitor do Valor como estão agindo esses limitadores de
crescimento apresento o gráfico com a expansão do crédito ao consumo nos
últimos anos. Até meados de 2011, tínhamos um crescimento anual real de 10%;
depois dessa data ele está estagnado. Com isso uma das forças auxiliares
importantes dos anos Lula deixou de agir sobre o consumo das famílias e, daqui
para frente, seu crescimento vai estar relacionado diretamente com a renda
real. Outra implicação importante desse fato é o aumento da dependência do
consumo à estabilidade da inflação. Toda vez que houver uma aceleração não
prevista na taxa de inflação - como ocorreu recentemente com o choque de preços
agrícolas - a massa de salários perde valor real e o consumidor não consegue
honrar seus compromissos financeiros. A inadimplência sobe e o consumidor e os
bancos pisam no freio.
Essa diferença estrutural entre os anos Lula e agora não foi devidamente
entendida pelos formuladores da política econômica do governo e ainda vai dar
muita dor de cabeça à nossa presidenta. É preciso entender que nos próximos
anos será no front do investimento, principalmente privado, que a batalha pelo
crescimento econômico terá lugar. E para ter êxito nessa missão o governo vai
precisar rever tanto sua agenda de ações como seu comportamento em relação ao
setor privado.
No caso da política econômica o foco principal precisa ser mudado - como
disse acima - para o lado da oferta de bens e serviços, com ações que melhorem
as condições produtivas das empresas brasileiras, principalmente no setor
industrial. No caso do comportamento do governo em relação ao setor privado
será preciso mostrar mais respeito pela preservação de contratos e aceitação da
legitimidade da busca de lucros nas atividades empresariais. Essas mudanças não
parecem fáceis de acontecer dado o histórico dos primeiros dois anos do mandato
da presidenta Dilma Rousseff.
Mas como diz meu irmão José Roberto, crescer não é fácil não.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é
diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro
das Comunicações.
Fonte: Valor Econômico
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