Fernando Gallo, Roldão Arruda
A direção do PT está sendo pressionada por setores mais à esquerda do
partido e pelos filiados condenados no mensalão para que haja novas
manifestações oficiais contra o julgamento do Supremo. Movimentos sociais
próximos dos petistas também se articulam nessa direção.
A Consulta Popular, organização política que reúne representantes de
movimentos sociais de 17 Estados, lançou ontem uma convocação à "sociedade
brasileira", para que una suas forças e lute "pela revogação das
condenações e das penas ilegalmente impostas". A nota, definida ao final
de uma reunião plenária de três dias, comparou os ministros do STF a feitores
de escravos e a agentes da ditadura militar.
A cúpula petista, porém, trata o assunto como encerrado. Acredita que
prolongar a discussão significa "prolongar a sangria".
Mesmo que sejam instados, na próxima reunião do diretório nacional, em
dezembro, a promover atos para se contrapor ao Supremo, os dirigentes definiram
que a nota divulgada na quarta-feira, na qual o partido afirmou que o STF
tentou criminalizar o PT, foi sua última manifestação.
O mensalão deve aparecer na reunião do diretório, mesmo que vocalizado por
pequena parte dos seus 84 integrantes, como ocorreu na reunião anterior, quando
o ex-ministro José Dirceu, que acabara de ser condenado, propôs que o debate
ficasse para depois das eleições municipais. O ex-deputado José Genoino
defendeu na ocasião que o PT deveria fazer frente às decisões do STF. Tanto ele
quanto Dirceu são membros do diretório.
Outro integrante do diretório, o radical Markus Sokol, vê "insatisfação
na base do partido" com a condução da discussão. Ele defende a realização
de atos públicos para "manifestar repúdio à sentença". Segundo o
militante, "para além do apenamento, há uma agressão ao PT. Se ficar sem
resposta, outras organizações que incomodam a elite dominante não poderão se
sentir garantidas".
Ex-secretário sindical do PT, João Felício entende que o PT deve fazer uma
campanha nacional em defesa do julgamento do valerioduto tucano.
Dois atos já foram convocados. Um terá a presença de Genoino, que comporá no
próximo sábado uma mesa com Sokol e outros petistas à esquerda do partido, como
o deputado Fernando Ferro (PT-PE) e o presidente da CUT, Vagner Freitas.
O outro ato foi convocado pelo deputado João Paulo Cunha (PT-SP), que fará
uma plenária de seu mandato na sexta-feira.
"Já foi julgado, vamos em frente. O partido não tem mais o que
fazer", diz o deputado Devanir Ribeiro, defensor da ideia de que o assunto
já se esgotou.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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