A
última sucessão presidencial salvou o PT e o ex-presidente Lula de
irem longe demais e ficarem sem volta no desvio fatal chamado terceiro mandato,
a que um e outro se consideravam com direito líquido e certo. Lula deu tratos à
bola e, para não bater de frente com o
partido que se considera de esquerda (e não sabe a diferença que o fez dobrar à direita), optou
pela saída que ainda não superou o impasse com a candidatura de Dilma Rousseff
(que não fazia arte do jogo).
Entre
a falta de resultados convincentes e obras que não saíram do papel nos dois
mandatos de Lula, sobressaiam as
previsíveis dificuldades de encaminhar uma candidatura condizente com o
presidente que se recusava a ser ex-presidente. A solução que ocorreu a Lula, e
não chegou a ser discutida senão por ele com ele próprio, foi confundir
adversários e petistas com uma candidatura feminina valorizada pela surpresa e
dispensada de ouvir o PT na tomada de decisão. Lula lançou Dilma Rousseff, no
tranco, para sucedê-lo e ficar lhe devendo a gentileza. Havia razões que o tempo
apontaria e outras que até hoje não interferiram. É como se não existissem.
A
partir daí ninguém mais seguraria o ex-presidente, cujo cálculo relativo à candidatura Dilma incluiu a
dependência eleitoral dela a ele, que esbanja voto como novo rico num país de
classe média politicamente ainda canhestra. Assim foi e continua, mas sem a
garantia do que sucederá, considerando que o mensalão vive os últimos
estertores. A sucessão se fará no mesmo espaço social. Para não sucumbir à
nostalgia do poder, Lula preveniu-se, primeiro, com o comando da campanha
eleitoral, para manter o PT afastado. E,
sem olhar para trás no tempo, onde estão sepultadas candidaturas que não faturaram
proveito eleitoral.
A
presidente não passou recibo e fez que não ouvia o que se dizia, até que a necessidade lhe propôs a questão
ética, à qual nada deve. Mas Lula se intrometia na seara do governo e falava
por ela, sem que uma voz ponderada o advertisse. O presidencialismo não
comporta ventríloquos no exercício do poder. O dueto dos dois desafinou pelas
razões a que a razão fecha os olhos para não piorar a situação.
Lula gosta de falar, e fala mais do que o
indispensável quando se sente presidente por conta própria. A sucessora de Lula
encontrou a saída do impasse doméstico graças ao pendor moralista revelado no
exercício do poder presidencial, no país em que acaba de desembarcar a nova
classe média diplomada às carreiras
Por
enquanto, equilibram-se em expectativa duas candidaturas à próxima oportunidade:
Lula espera como retribuição a desistência de Dilma Rousseff a seu favor,
mediante troca do segundo mandato dela pelo terceiro dele. Claro, dependendo
das variáveis e dos imprevistos. Mas, Lula repete com freqüência que a segunda
candidatura é direito natural de Dilma Rousseff. É aí que a suspeita assina o ponto. Se não for
para reeleger Dilma, a oportunidade será dele. É só, por enquanto, fazer por
onde. Da contradição fez um método que explica o ex presidente melhor do que
qualquer concepção científica dentre as que valorizaram o Século 20. Morder e
soprar é remédio antigo.
Pelo
lado de Lula, a sucessão está definida: a candidata é Dilma Rousseff, ele fica
de suplente. Ela guarda o lugar para ele. Se
não agüentar os trancos, ele se apresentará porque a segunda
oportunidade lhe reserva, como alternativa, o terceiro mandato. Se a situação
econômica e seu reflexo social pedirem mobilização de opinião pública, ele
conta certo com a nova classe média que, a seu ver, cede prioridade ao voto e,
pelo terceiro mandato, deixa o consumo para depois.
Fonte:
Jornal do Brasil
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