Por ora não convidem
para a mesma mesa o ministro Joaquim Barbosa, que esta semana assume a
presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), e Ricardo Lewandowski, que será
seu vice. Os dois brigam desde que teve início em agosto o julgamento do
mensalão. Recomenda-se também que não convidem para a mesma mesa Joaquim e Dias
Toffoli, Joaquim e Rosa Weber , Joaquim e qualquer um dos advogados dos réus.
TOFFOLI FOI advogado
das campanhas presidenciais de Lula, empregado de José Dirceu na Casa Civil e
Advogado Geral da União. Joaquim votou em Lula para presidente mesmo depois de
Roberto Jefferson ter denunciado o escândalo do mensalão. A restrição que
Joaquim faz a Toffoli é a mesma que faz a quase todos os seus pares no STF:
falta-lhes independência. Genuína independência.
ROSA WEBER é ministra
da cota pessoal de Dilma, amiga do ex-marido dela. Dá sinais de que tem votado
como quer . Mas Joaquim faria gosto se ela votasse como ele quer . Faria gosto
se todos votassem como ele quer . A lei autoriza que ministros do STF recebam
representantes de partes interessadas num julgamento. Joaquim é o único que se
recusa a receber . Os advogados o detestam.
FOI DO PAI que
Joaquim herdou o temperamento belicoso. A trajetória profissional de Joaquim
também contribuiu para que ele fosse do jeito que é. No STF não há um único
ministro para o qual seja estranha a arte de fazer política. E todos fizeram
para chegar onde estão. Joaquim, não. Submeteu-se a concursos para conquistar
cargos. E não pediu a ajuda de ninguém para ser promovido a ministro do STF .
ESTAVA NO canto dele
quando uma pessoa ligada a Lula o procurou ainda em 2003. Num espaço curto de
tempo, Lula seria obrigado a indicar quatro ministros do STF . Queria que um
deles fosse negro. O outro, mulher . O outro nordestino. E o outro paulista. O
STF virou uma espécie de parque temático. Nenhum jurista negro tinha currículo
superior ao de Joaquim. Nada deve a Lula, portanto. Nem se sente devedor .
QUANDO OLHA em torno,
mesmo levando em conta o conhecimento jurídico de cada um dos seus colegas,
Joaquim se vê cercado por ministros em dívida com muita gente que os empurrou
ladeira acima. Não só presidentes, mas amigos de presidentes e amigos de amigos
deles. Na hora de votar certos assuntos, como podem fazê-lo sem se sentir no
mínimo constrangidos? Lula peitou alguns para adiar o julgamento do mensalão.
O ANTÍDOTO contra a
ação de Lula misturou Joaquim, a pressão da opinião pública e a extensa
cobertura do julgamento feita pela mídia que o PT chama de golpista. Deu certo.
Só que o julga-mento ainda não terminou. Chegará ao fim com Joaquim acumulando
sua relatoria e as presidências do STF e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Em breve, haverá questões delicadas a definir .
A PRIMEIRA: a data da
prisão dos réus condenados. O Procurador Geral da República defende que eles
sejam presos sem que se espere o julga-mento de futuros recursos impetrados em
seu favor . O STF jamais admitiu a prisão antecipada. A segunda questão: são
três os deputados federais condenados. Caberá à Câmara decretar a perda do
mandato deles? Ou ao STF? Joaquim ainda não adiantou o que pensa a respeito.
TEM UMA bomba de
elevado poder de destruição que Joaquim deverá detonar no CNJ. Hoje, advogados
não podem atuar em processos cujo destino dependa de juízes que sejam seus
parentes. Joaquim quer apertar mais o torniquete. Advogados ficariam proibidos
de atuar nas cortes onde tivessem parentes juízes. Se Joaquim for bem-sucedido,
a quantidade de advogados condenados à orfandade será absurda!
A ERA Joaquim Barbosa
no Judiciário promete fortes emoções.
Fonte: O Globo
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