Letícia Lins
RECIFE- A ex-senadora Marina Silva (PSB) assumiu ontem um discurso mais agressivo em relação à presidente Dilma Rousseff ao afirmar que a marca do governo da petista é a do "retrocesso" e que a gestão atual trata a economia com negligência "em função da ansiedade política". Marina defendeu a permanência das conquistas econômicas e sociais instituídas nos governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
Segunda colocada na pesquisa Datafolha de intenção de voto à Presidência, mesmo sem candidatura definida, Marina voltou a defender — como fizera em São Paulo na semana passada — a manutenção do tripé geração de superávit primário, câmbio flutuante e metas de inflação, que estaria ameaçado.
— No que diz respeito à política econômica, temos que reconhecer que as dificuldades mundiais têm a ver com a crise. Mas têm a ver com alguma coisa que vem sendo praticada em função da ansiedade política, a partir do segundo governo de Lula e, sobretudo, no atual governo que, no meu entendimento, está fragilizando a política econômica. Tudo que conquistamos foi em função de termos compromisso com a meta da inflação, mas o seu teto está sendo extrapolado — disse a ex-senadora, em entrevista coletiva.
Marina também saiu em defesa da autonomia do Banco Central, mas sem institucionalização, por temer que o Congresso Nacional desvirtue as suas funções:
—Na realidade, no Brasil, a autonomia do Banco Central já pertence a leis que se estabelecem a partir de um consenso político, social e cultural. Imagine se com esse Congresso que nós temos, colocarmos em discussão uma questão como essa, e um grupo decidir que não teremos autonomia? Estaremos diante da fragilização de um dos instrumentos da nossa política macroeconômica, o que não é desejado. A sociedade brasileira não permite que a autonomia, mesmo informal, seja perdida.
Marina criticou ainda a atuação do BNDES, que considera estar voltada ao benefício de meia dúzia de empresários:
— A gente vê o BNDES sendo utilizado de maneira inadequada, para eleger alguns ungidos, que são os que recebem dinheiro. Só para o empresário Eike Batista, foram mais de R$ 9 bilhões, praticamente jogados na lata do lixo. Imagine esse dinheiro sendo dado a jovens empreendedores, a quantidade de oportunidade que poderíamos ter em termos de geração de novos empregos e novos negócios!
Para Marina, a gestão de Dilma retrocede na área de sustentabilidade, não só no meio ambiental, mas na política.
— A marca do governo Dilma tem sido a do retrocesso. Não gostaria que a presidente tivesse essa marca. Ela cumpriu o seu papel, mas o modelo se esgotou, não tem mais para onde ir — disse Marina, repetindo o discurso de Eduardo
Campos no programa de rádio e televisão do PSB.
A ex-senadora afirmou que o governo Dilma, mesmo com 39 ministérios, não hesita em criar novas pastas para manter fiel sua base política:
— E isso é insustentável.
Questionada sobre a ampla aliança de Eduardo Campos em Pernambuco, que tem 14 partidos em sua base, inclusive forças conservadoras, Marina disse não se sentir constrangida. Ela definiu a aliança com o socialista como "um trabalho pioneiro" que vinha sendo minado "por todos os lados". Ela afirmou que o PSB e a Rede estão em busca de uma nova governabilidade, baseada na sustentabilidade e não "na distribuição de pedaços do Estado"
Marina acha que o salto nas intenções de voto em Eduardo Campos na última pesquisa do Datafolha já é consequência do impacto provocado pela união da Rede e do PSB:
— A sociedade está mudando. Tenho esperança que o movimento esteja à altura desse novo sujeito político. Chega de política de curto prazo para alongar o prazo dos políticos.
Dirigentes da Rede começam a defender que o novo partido só volte a pedir sua formalização junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após a eleição do ano que vem. A medida, levantada na reunião da Executiva Nacional, no domingo, objetiva garantir que eventuais mandatos conquistados por simpatizantes da Rede por outras legendas, em 2014, possam ser transferidos para o novo partido sem o risco de processo por infidelidade partidária.
Fonte: O Globo
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