quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Conselheiros oscilam entre a desconfiança e a conciliação

• Membros temem que a presidente Dilma não escute as propostas

João Sorima Neto, Letícia Fernandes, Fernanda Krakovics, Maria Lima, Roberta Scrivano, Ruben Berta e Silvia Amorim - O Globo


- RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO - Com 90 nomes que vão de empresários a sindicalistas, passando por estudantes, acadêmicos e uma ampla gama de representantes da sociedade civil, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, deve iniciar suas atividades amanhã entre dois sentimentos. Ao mesmo tempo em que prometem deixar de lado as desavenças para buscar respostas conjuntas que ajudem o país a sair da crise, membros ouvidos pelo GLOBO desconfiam que, na prática, as propostas possam ser pouco ouvidas pela presidente Dilma Rousseff. O clima de conciliação se reflete até em temas mais polêmicos, como a recriação da CPMF, que não chega a ser abertamente repudiada.

— Se ficarmos discutindo quem é o culpado das coisas, ou apenas os problemas do setor automotivo ou de brinquedos, o país continua no buraco. Sou contra o aumento de tributos, mas se é preciso ter a CPMF para cobrir o rombo fiscal, e se o Congresso aprovar, o que vou fazer? É preciso destravar o Brasil, porque enquanto isso não acontece os estrangeiros ocupam o nosso lugar aqui dentro e lá fora do ponto de vista comercial — afirmou o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos ( Abrinq), Synésio Batista da Costa.

Entre os sindicalistas que já acumulam um passado de participações no conselho, há um temor de que as discussões sejam improdutivas pela fama de a presidente de não ser uma boa ouvinte. O presidente da CUT, Vagner Freitas, espera que agora Dilma tenha uma participação efetiva nas discussões:

— A minha expectativa é que ela esteja presente e não que mande representantes. No primeiro governo dela, os resultados não foram a contento. Espero que ao rearticular o conselho, o governo também rearticule o papel dele, porque não adianta ter discussão e pouco ser implementado pelo Executivo — reclamou Freitas.

Citando a suspensão das atividades do conselho durante cerca de um ano, o presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), Ricardo Patah, ressalta que esse instrumento de diálogo poderia ter sido mais valorizado, principalmente num momento de crise econômica profunda.

— É justamente nas épocas mais difíceis que uma postura de diálogo e humildade é ainda mais importante. Não adianta ter um conselho que fale só para o próprio conselho ficar escutando — disse Patah, que acrescentou: — A economia deve ser o principal tema. Precisamos sair desse poço em que estamos, fazer uma ponte factível do plano econômico para pressionar o plano político. Mas não somos congressistas para discutir temas políticos.

Na linha da conciliação para buscar soluções, o presidente executivo da Amil, Edson Bueno, afirmou que a formação do conselho vai criar uma “sinergia entre pessoas que querem auxiliar o país”. Para ele, os nomes até agora apresentados para compor o grupo “têm experiência e capacidade” e ajudarão, com sugestões, o Brasil a passar pela crise e encontrar o rumo do crescimento.

— O importante é que teremos um espaço democrático para debater e buscar soluções inovadoras.

Há também quem já busque aliados para as suas ideias, como o escritor Fernando Morais, que pretende fazer uma reunião prévia com os integrantes “progressistas” do Conselhão, como o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, para que o grupo apresente uma proposta comum:

— O conselho é muito heterogêneo, é um mosaico da sociedade. Seria importante trabalharmos em conjunto para consolidar propostas concretas, senão cada um faz um discurso.

Entre os novatos, ainda há os que estão em compasso de espera, como a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral:

— É importante que o governo tenha uma agenda positiva para apresentar. E, a partir daí, seja montada uma pauta de discussão. Nos últimos tempos, o que vemos é só um governo acuado, na defensiva, diante de uma agenda política.

Já a presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas ( Fenatrad), Creuza Oliveira, admite que primeiro terá que entender exatamente o papel do conselho para depois poder colaborar com propostas:

—É a primeira vez que participo. Então, primeiro temos que conhecer, saber até onde podemos ir.

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