Eurico de Lima Figueiredo, cientista social e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) |O Globo
As assembleias legislativas funcionam nas democracias como caixas de repercussão das demandas da sociedade. Os partidos funcionam como elos de transmissão entre as demandas da população em seus diversos segmentos.
Portanto, partidos não fazem parte do estado; eles representam a sociedade. Eles não estão sempre no poder, a não ser que você tenha um regime autoritário.
Dito isso, há, na situação do Rio de Janeiro, um paradoxo que não existe no governo federal. Na União, vemos um Executivo com ampla base parlamentar que não tem o apoio da população.
No estado, a situação é mais grave porque o governo não tem aceitação popular nem base parlamentar. Isso implica numa dificuldade muito grande no processo de tomada de decisão.
Estamos passando por uma crise muito grave, e não temos uma liderança capaz de arregimentar acordos. Os poderes Executivo e Legislativo não estão encontrando pontos de negociação em comum.
E a consequência perversa disso é o agravamento da crise politica, com suas repercussões sociais e econômicas. O cidadão quer que os serviços públicos funcionem. À medida que essas lideranças politicas não conseguem desatar os nós da negociação, quem paga é a população.
Acho que a votação do pacote será um desgaste para todo mundo; para o governador, para a Assembleia Legislativa e para a população. A crise não é benéfica para ninguém. Mesmo numa crise, é preciso ter espaços para uma conciliação. Será que temos condições para isso? Não sei. Pacote duro tem que ser negociado. Não é simplesmente o que o governo quer fazer.
O estado precisa ter sensibilidade e competência para saber quando avançar e quando recuar. Talvez haja, na Assembleia Legislativa, quem aposte que a solução é o aprofundamento da crise, o que levaria a um mandato tampão no governo estadual.
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