Senadora deixa liderança do MDB e é pressionada a rejeitar disputa avulsa se não for escolhida candidata do partido
Daniel Carvalho, Ricardo Della Coletta e Gustavo Uribe | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Adversária de Renan Calheiros (MDB-AL) na disputa pela preferência do MDB para disputar a presidência do Senado, Simone Tebet (MDB-MS) sofreu uma derrota durante reunião da bancada nesta terça-feira (29) e deixou a liderança do partido na Casa.
A decisão sobre quem será o candidato do MDB só será tomada na quinta-feira (31), véspera da eleição, marcada para as 18h de sexta-feira (1º). Diante da falta de consenso, o presidente nacional do partido, Romero Jucá (MDB-RR), deu início a uma operação para minimizar danos provocados pela fragmentação da legenda, a maior da Casa, com 13 senadores.
Há temor de que, pela falta de unidade, o partido perca a presidência do Senado, já que tanto Renan Calheiros como Simone Tebet insistem em suas candidaturas.
Além disso, a reação de quem for derrotado na bancada é imprevisível e o partido ainda não discutiu qual será o prêmio de consolação para quem não for escolhido pela legenda.
Na saída do primeiro encontro, Tebet anunciou que havia renunciado à liderança do partido por ter sido derrotada pelos correligionários ao defender voto aberto no dia da eleição. O voto secreto favorece Renan, já que alguns senadores têm dificuldade em apoiá-lo abertamente.
"Há uma maioria que acha que a votação é fechada. Eu, num processo de democracia, não tenho problema de externar o meu voto e declarar voto aberto. Consequentemente, como a maioria pensa de um jeito e eu penso de outro, renunciei à liderança do MDB por não comungar com a maioria", disse a senadora em um vídeo divulgado após a reunião. O novo líder é José Maranhão (MDB-PB).
Na reunião, também houve uma manifestação contra candidaturas avulsas, mas Tebet resistiu em responder se havia possibilidade de ela disputar sem apoio oficial do partido, caso seja vencida na bancada. Até a semana passada, a senadora não descartava esta possibilidade.
“Disputo para valer na bancada para ganhar ou para perder”, disse a senadora na entrevista que concedeu ao lado de Renan, que, provocando, fez coro aos jornalistas também questionando a colega: “Mas descarta [concorrer avulsa]?”.
Nesta quarta-feira (30), emedebistas vão conversar com representantes de outros partidos para aferir a receptividade aos nomes dos dois candidatos.
O alagoano é tido como o favorito por sua experiência e habilidade política. Mas as mobilizações populares contra ele podem dificultar a chegada do parlamentar ao comando do Senado pela quinta vez.
Pesa contra Renan o fato de já ter sido alvo de 18 inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal), nove deles arquivados.
Para aumentar suas chances, Renan Calheiros vem procurando engordar a bancada com aliados que estão em outros partidos.
Recentemente, voltou a convidar a senadora Kátia Abreu (PDT-TO) para ingressar no MDB, mas o convite, ao menos por enquanto, foi recusado.
Renan também tem feito acenos ao governo de Jair Bolsonaro, afirmando que o “novo Renan” é diferente do “velho Renan” e que os dois ainda não conversaram.
“O velho era sobrevivente, mais estatizante. Este novo é mais liberal, está querendo fazer as reformas do Estado. Quero colaborar com este momento excepcional que o Brasil está vivendo e fazer as mudanças e reformas”, disse o alagoano, em uma fala que deixou preocupados integrantes do PT, partido que pode decidir nesta quarta quem vai apoiar.
Os adversários de Renan têm se articulado numa frente contrária à candidatura dele. Sete oponentes —Tebet, Davi Alcolumbre (DEM-AP), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Esperidião Amin (PP-SC), Alvaro Dias (PODE-PR), Major Olímpio (PSL-SP) e Angelo Coronel (PSD-BA)— reuniram-se no fim da tarde de segunda-feira (28) em um hotel em Brasília para unificar alguns posicionamentos. Defenderam voto aberto e eleição em dois turnos, caso ninguém consiga 41 votos na votação.
Simone Tebet tem a seu favor o discurso de renovação política, que garantiu a reeleição de apenas 8 senadores e trouxe 46 novos nomes para o Congresso.
Mas esta bandeira é minimizada por senadores mais antigos do MDB.
“Esta história de renovação, não vou nesta conversa. Isso é conversa para iniciado e eu não sou iniciado. Já tenho alguma estrada. Não vou atrás de conversa fiada”, disse o reeleito Jader Barbalho (MDB-PA).
Contra os dois candidatos há o jogo duplo que senadores da legenda têm feito. Existem nomes que aparecem na contabilidade dos dois candidatos, o que provoca incerteza nos dois gabinetes.
Mesmo quem conhece Jucá afirma ser difícil dizer quem o presidente do partido, que não conseguiu se reeleger senador, irá apoiar.
Ao mesmo tempo que ele emite sinais que podem ser lidos como favoráveis a Tebet, pessoas próximas ao presidente do partido veem uma sintonia maior entre ele e Renan.
“Estamos tentando construir uma convergência. Se Deus quiser, vai dar tudo certo. Estou trabalhando, como presidente do MDB, para unir a bancada. Unidade para atrair outros partidos”, disse Jucá, pouco antes de conversar com Jereissati, pré-candidato que tem simpatia pelo nome de Tebet.
Na tentativa de passar uma imagem de unidade, Jucá reuniu os dois adversários na mesma foto, durante a filiação do senador eleito Eduardo Gomes (TO), que deixou o SD e ingressou no MDB.
Além disso, tem conversado individualmente com os dois oponentes de seu partido.
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