Depois de três anos de encolhimento, o mercado de trabalho reagiu em 2018, acompanhando a recuperação da economia, ainda que tímida. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério da Economia na semana passada, mostraram que o ano terminou com saldo positivo de 529,6 mil postos criados, com expansão em sete dos oito setores acompanhados. Mas a expansão está concentrada em serviços e comércio, que somaram 94% do saldo líquido do ano. Nas demais áreas, que englobam construção civil, serviços industriais de utilidade pública, agricultura, indústria e extração mineral, o crescimento foi menor. Só a administração pública registrou corte de postos. A recuperação foi registrada em todo o país, com maior intensidade no Sudeste e Sul.
Foi o melhor resultado desde 2013, quando o saldo foi positivo em 1,1 milhão de postos de trabalho. O resultado teria sido melhor não fosse a greve dos caminhoneiros, em maio, que afetou principalmente a produção industrial e, em consequência, a atividade econômica e a demanda por mão de obra. Mas o mercado de trabalho ainda está longe de recuperar as perdas dos últimos anos. Em 2015, houve a eliminação de 1,5 milhão de vagas, e em 2016, de 1,3 milhão. Em 2017, o resultado ficou mais próximo ao equilíbrio, ainda assim fechando no negativo em 11,9 mil posições. Somando os três anos, foram perdidos 2,8 milhões de postos. No ritmo de 2018, levaria cinco anos para recuperar as vagas fechadas com a recessão. De acordo com o Caged, o Brasil encerrou 2018 com 38,4 milhões de trabalhadores com carteira assinada, cerca de 2,3 milhões a menos do que o pico de 40,7 milhões, registrado em dezembro de 2014.
A previsão é que a recuperação continuará neste ano, com a criação de mais 700 mil a 800 mil vagas formais de emprego. A estimativa leva em conta um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2% a 3%. Há quem espere a criação de até 1 milhão de vagas se as condições forem extremamente favoráveis. De toda forma, será um ritmo muito aquém do necessário para recompor o terreno perdido na recessão. Para se ter uma base de comparação, em 2010, quando o PIB cresceu 7%, bateu-se o recorde com a criação de 2,6 milhões de empregos formais.
Na quinta-feira, será possível completar o quadro com a divulgação pelo IBGE da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) com o resultado de 2018. No trimestre terminado em novembro, a taxa de desocupação ficou em 11,6%, mostrando um declínio suave desde o pico, quando chegou perto de 14%. O número de trabalhadores ocupados aumentou 1,3% em 12 meses e chegou a 93,1 milhões, o maior registro em quatro anos; e o número de desocupados declinou 2,9% na mesma base de comparação, para 12,2 milhões de pessoas. No entanto, o total de empregados no setor privado com carteira assinada ficou estável em 33 milhões. O que cresceu e garantiu a redução do desemprego, de acordo com a Pnad, foi o aumento do número de trabalhadores sem carteira, de 4,6% em 12 meses para 11,7 milhões, e o de trabalhadores por conta própria, de 3,3% para 23,8 milhões.
Apesar de o Caged e a Pnad Contínua estarem dando sinalizações opostas quanto à recuperação do emprego formal, a indicação comum aos dois é de melhora gradual do mercado de trabalho. Uma razão pode ser a metodologia diferente. Enquanto o Caged é baseado nas informações fornecidas pelas próprias empresas, a Pnad Contínua é uma pesquisa por amostragem, baseada na declaração do entrevistado. Outra razão pode ser a existência de declarações entregues ao cadastro fora do prazo.
Há motivos, no entanto, para alguma cautela. Uma delas é a expansão do trabalho informal, determinante para a recuperação. Somando-se os trabalhadores sem carteira assinada com os que trabalham por conta própria chega-se a 35,5 milhões, número superior ao de 33 milhões de empregados com carteira assinada no setor privado e equivalente a 38% do total de ocupados. Já o número de empregados formais, incluindo do setor público, caiu quatro pontos percentuais nos últimos quatro anos, para 48,1%. Outras indicações são o aumento da parcela de desalentados, que desistiram de procurar emprego, engrossando o percentual dos subocupados e dos que gostariam de trabalhar mais horas. Finalmente, há ainda a estagnação do rendimento real médio, que sinaliza a contratação de trabalhadores por salários inferiores aos que eram concedidos aos que foram demitidos.
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