Congresso
precisa retomar os trabalhos. A agenda do País é urgente demais para esperar
Cacique
do MDB,
o senador Renan Calheiros chamou
pelas redes sociais de “pasmaceira que não resolve nada” o quadro atual em que
problemas pendentes se acumulam exigindo resposta do Congresso para o plano de
vacinação contra a covid-19, o auxílio emergencial e
o Orçamento deste
ano.
A
cobrança do senador e de um número cada vez maior de parlamentares é pelo fim
do recesso parlamentar para o enfrentamento da situação de calamidade que passa
o País e
que não terminou com a virada de 2020 para 2021. Já há requerimento para uma
convocação extraordinária do Congresso para discutir um novo decreto de
calamidade e a prorrogação do auxílio.
Era
de se esperar que isso de fato fosse acontecer para o Congresso acompanhar de
perto e pressionar o governo a correr com as medidas necessárias nesse janeiro
tenebroso.
Vamos lembrar que no início da pandemia o Congresso teve papel fundamental na aceleração da ação do governo Bolsonaro para a adoção das medidas que impediram um desastre ainda maior. Mais uma vez, porém, uma eleição está no caminho das decisões urgentes.
Como
aconteceu, no ano passado, na campanha eleitoral municipal, a eleição do
Congresso empurra com a barriga os problemas. É por isso que o ano entrou sem
uma solução para o fim do auxílio. O mês de fevereiro virou o novo mote da
salvação. Mas é para depois da eleição, viu leitor!
De
um lado, Renan, o presidente Rodrigo Maia, o candidato Baleia Rossi e tantos outros
parlamentares da Câmara e do Senado que têm o interesse de acabar com recesso
parlamentar por estratégia eleitoral para seus candidatos.
Candidato
à presidência da Câmara, Baleia Rossi já defendeu a prorrogação do auxílio
emergencial e a convocação do Congresso para a aprovação das medidas.
Do
outro lado, Jair Bolsonaro, Davi Alcolumbre, lideranças
governistas, o candidato Arthur Lira e aliados não querem
dar palco para os opositores. Mas e daí?
Daí
que o presidente Bolsonaro já editou uma Medida Provisória que traz medidas
excepcionais relativas à compra de vacinas, insumos, bens e serviços de
logística e que trata do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação.
Outras MPs podem ser adotadas e têm vigência imediata.
O
governo federal também tenta impedir ações de combate à pandemia pelos Estados
e municípios, como a de requisitar seringas e agulhas compradas pelo
governo João Doria,
destinadas à execução do plano estadual de imunização, o que já foi impedido
pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal
Federal (STF), que está de plantão e deferiu medida
cautelar solicitada pelo Estado de São Paulo.
O
cálculo político do primeiro grupo é o de que na data da eleição, no início de
fevereiro, a pandemia estará mais forte e com a vacinação (na melhor das
hipóteses) apenas começando. Essa piora da pandemia terá impacto na eleição.
No
governo, a expectativa é que o seu candidato ganhe as eleições e lidere essa
agenda. Por isso, prefere esperar para agir depois do resultado da eleição, no
início de fevereiro.
Baleia
Rossi acenou com a prorrogação do auxílio. E Arthur Lira falou, logo em
seguida, que é preciso cuidar dos mais pobres reorganizando os programas de
renda mínima, “mas sem abrir mão da austeridade fiscal e do teto de gastos”.
Lira
disse que a “demagogia fiscal sempre custa caro para o País e em especial para
os mais pobres”. O mais provável, porém, é que o discurso fiscalista de agora
caia por terra daqui a pouco com os números do avanço da pandemia. Não vai
demorar muito porque a pressão dos parlamentares e governadores é crescente
também para o seu lado.
Como
na disputa política entre o presidente Bolsonaro e o governador de São Paulo,
João Doria, pela vacina, a corrida pela prorrogação do auxílio e medidas
urgentes para a vacinação vão dar o tom da campanha. Não tem como ser
diferente.
O
mercado financeiro tem reagido às declarações de apoio à prorrogação do auxílio
como um risco fiscal que piora os indicadores econômicos. A fala de Baleia em
apoio ao benefício esta semana, no dia da formalização da sua candidatura à
sucessão de Maia, causou apreensão. Fato comemorado pelo governo. Baleia,
inclusive, já teve que fazer ajustes no seu discurso ao pregar também
responsabilidade fiscal. Estranhamente houve uma inversão de papéis.
Não
deve adiantar, porém, a reação do mercado. Chega uma hora que não dá para
brigar com os acontecimentos. É o mesmo script do início da pandemia. O
auxílio deverá ser prorrogado e decretada nova calamidade. A questão agora é
saber quem vai comandar essa agenda, controlar o seu alcance e timing: antes ou
depois das eleições.
Independentemente dos interesses que cercam as eleições do Congresso, é preciso prontidão máxima que o controle da doença exige neste momento. Não só pelo auxílio, mas, sobretudo, pela vacinação dos brasileiros o mais rápido possível. O Congresso precisa retomar os trabalhos. Esse recesso é totalmente despropositado. A agenda é urgente demais pra esperar. O uso político que se pode fazer de uma convocação desse tipo é efeito colateral. Não se pode deixar de fazer a coisa certa por receio do efeito colateral. Porque aí significa o rabo abanando o cachorro.
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