O Globo
É sintoma preocupante do grau de corrosão
do tecido institucional a que assistimos que seja necessária uma ação do
Consórcio de Veículos de Imprensa neste dia 7 de junho questionando se a
democracia sobrevive sem liberdade de imprensa. Por outro lado, é sinal da
vitalidade e do alerta da imprensa com esse avanço sobre as liberdades que essa
campanha esteja sendo veiculada em conjunto, em alto e bom som.
Nunca os ataques ao exercício do jornalismo
profissional foram tão sistemáticos e violentos, e são coordenados pela
principal autoridade do país, como agora. Jair Bolsonaro figura como o autor da
maior parte das agressões a órgãos de imprensa e a jornalistas, na pessoa
física, nos dois últimos anos em balanço feito pela Federação Nacional dos
Jornalistas.
Trata-se de um método que ele não inventou, mas que usa como ninguém ousou desde a redemocratização. Atentar contra a credibilidade do jornalismo profissional é uma das lições básicas do manual internacional dos candidatos a autocratas, é uma condição essencial para minar os pilares que formam o estado democrático de direito.
Bolsonaro faz isso ao mesmo tempo em que
traveste de “jornalismo” uma milícia digital a serviço justamente desses ataques
às instituições, e trata a necessária contenção desses crimes contra a
democracia como cerceamento da liberdade de expressão.
Para o público leigo e muitas vezes
convertido, a confusão de conceitos faz com que se deixe de dar valor à
imprensa profissional, aquela que checa as informações, publica o contraditório
e responde legalmente por aquilo que veicula. Esse desgaste já é medido em
pesquisas, para além dos discursos de ódio e ameaças a jornalistas que
proliferam no ambiente virtual e também fora dele.
Não é a primeira vez que um político ou um
grupamento político investe contra a imprensa. Ataques acontecem em maior ou
menor grau toda vez que interesses são contrariados por meio de reportagens ou
artigos de opinião.
Mas não há precedentes em termos de
violência, frequência e, sobretudo, protagonismo do poder constituído nesses
ataques.
São muitas as frentes em que as garantias e
direitos fundamentais sacramentados na Constituição estão sendo postos abaixo
por este governo, o mais daninho à democracia desde a abertura. Que a liberdade
de imprensa seja um dos mais visados mostra justamente a importância do
jornalismo como farol a iluminar todas as outras violações. Vamos com a luz
acesa e os olhos abertos, mas a sociedade também precisa saber que quando a
liberdade de imprensa cessa é ela quem padece.
Um comentário:
Adoro a imprensa.
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