sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Vera Magalhães - Quando jornalista vira pauta, algo vai mal

O Globo

Assédio deflagrado pelo presidente mostra uma campanha deliberada para minar credibilidade da imprensa

Relatório da ONG Repórteres Sem Fronteiras contou 2,8 milhões de ataques contra jornalistas nas redes sociais no primeiro mês de campanha eleitoral oficial. Dessas investidas, a maioria esmagadora se destina a mulheres e, entre elas, os ataques dirigidos a mim lideram, disparado, o ranking, com a companhia de colegas como Míriam Leitão, Amanda Klein, Andréia Sadi e Mônica Bergamo.

No meu caso, a onda de ataques e agressões, inclusive a mais recente, de assédio presencial do deputado estadual bolsonarista Douglas Garcia, foi deflagrada a partir da investida de Jair Bolsonaro contra mim a uma pergunta feita a Ciro Gomes, com comentário do presidente, no debate de um pool de veículos de imprensa.

— Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro — disse Bolsonaro.

Foi a mesma frase reproduzida num cartaz com minha fotografia, içado num guindaste durante o 7 de Setembro em Copacabana. Também foi a mesma berrada por Garcia a poucos centímetros do meu rosto na última terça-feira, junto à mentira de que eu ganhava R$ 500 mil por ano para atacar o presidente.

Uniu-se ao pelotão de linchamento ontem a ministra Damares Alves, candidata ao Senado pelo Republicanos, que em entrevista à BandNews cometeu a leviandade de dizer que zombei do abuso sexual que ela relatou ter sofrido quando criança, algo que jamais ocorreu.

Esse assédio deflagrado pelo presidente, portanto autorizado, e continuado por seus apoiadores mais fiéis mostra uma campanha deliberada para minar a credibilidade da imprensa. Mais: trata-se de uma campanha de intimidação e acossamento permanente, brutal, violenta, não por acaso concentrada em mulheres, na expectativa de que nós, jornalistas, nos atemorizemos e, assim, consciente ou inconscientemente, nos autocensuremos, adotemos uma contenção ditada pelo medo físico e psicológico de exercer nosso ofício.

Esses expedientes não são invenção do bolsonarismo. Inscrevem-se na cartilha pela qual políticos populistas, com propensões autoritárias, agem para dilapidar a influência da imprensa nas sociedades e, com isso, gerar um ambiente em que o jornalismo profissional é substituído pela propaganda travestida de notícia e difundida por meio das redes sociais, de canais no YouTube e postagens em massa em aplicativos de mensagens.

Iniciativas de coalizões de imprensa, protocolos testados pela Justiça Eleitoral, acordos como o firmado pelo Ministério Público de São Paulo com entidades representativas dos jornalistas para tentar blindá-los de ataques são louváveis e necessários, mas, diante da virulência, da alta profissionalização, da falta de limites e da autorização oficial dos ataques por parte de autoridades, acabam sendo, por ora, uma forma de enxugar gelo.

Algo está muito errado com a democracia quando jornalista vira assunto ou, pior, personagem de uma campanha eleitoral. Somos ensinados, nas faculdades de jornalismo e ao longo da carreira, a reportar, entrevistar, analisar, questionar, sempre em terceira pessoa.

A fulanização de jornalistas, sobretudo mulheres, e dos ataques a eles e elas, a nós, na “pessoa física”, não é casual, é calculada. É muito grave que nossos nomes parem em hashtags acompanhados de palavras como “lixo”, “vergonha”. Uma sociedade que, em qualquer proporção, se regozija de ataques desferidos contra profissionais que apenas exercem seu trabalho está doente, radicalizada, viciada em enxergar a política e o jornalismo como espetáculos sangrentos, nos quais se tem de eleger todo dia “mocinhos” e “bandidos” para amá-los e odiá-los com intensidade.

Somos humanos, profissionais, falíveis, mas agimos segundo preceitos éticos e normas de jornalismo.

 

3 comentários:

Anônimo disse...

É o que eu venho comentando, Hitler quando iniciou sua trajetória maldita enganou muita gente, inclusive o governo brasileiro a época. Esse cara tem a linha de pensamento de quem nunca comeu melado este sobe para a cabeça e aí inicia a loucura . Ganha a confiança para realizar sua fonte inesgotável de maldades Atrai outros da mesma natureza e forma seu exército de sadismo e loucura. Infelizmente, sua capacidade de atrair quem padece de complexo de inferioridade, igual a ele, é muito grande e vai usando essa capacidade para formar o seu exército de Malditos. Esse novo Hitler tem predileção por mulheres em vez de judeus e sabe-se lá o tamanho desse iniciante exército no momento. Vingativos já todo mundo sabe disso, grau de malvadezas também. Só nos resta lutar contra esse poder, muita reza e água benta.


Anônimo disse...

Vera, você é um orgulho para o jornalismo brasileiro!
Jair Bolsonaro é uma vergonha para toda a nação brasileira! Prisão perpétua é pouco para tantos e tão graves crimes cometidos pelo genocida!

ADEMAR AMANCIO disse...

Se eles são agressivos com mulheres e,são mesmo,imaginem com a gente que é gay?