segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Lygia Maria - O governo da Venezuela é uma ditadura de esquerda

Folha de S. Paulo

Quem nega esse fato solapa a ciência política e despreza a crise humanitária que assola o país

O governo da Venezuela é uma ditadura. Não importa que Lula, seu assessor Celso Amorim e o PT afirmem o contrário. O regime de Nicolás Maduro não preenche nenhum dos requisitos de uma democracia, a começar pelas eleições farsescas, como a realizada no domingo (28).

Além de se recusar a divulgar as atas do pleito, o governo interferiu na disputa ao impedir candidaturas da oposição e coagir eleitores.

Como em toda ditadura, o aparato policial do Estado persegue jornalistas e dissidentes. No Índice de Liberdade de Imprensa da ONG Repórteres sem Fronteiras, a Venezuela é a 159ª colocada entre 180 nações.

Estima-se que 125 pessoas foram mortas nos protestos de 2017. O Tribunal Penal Internacional levantou mais de 1.500 denúncias de abusos das forças de segurança, enquanto a ONU computou 122 casos de tortura e violência sexual.

O governo da Venezuela é de esquerda. Não importa que militantes e até parte da imprensa digam que não é —no caso dos jornalistas, solapar dados históricos e princípios básicos da economia e da ciência política desse modo é vergonhoso.

Maduro é cria do chavismo, uma ideologia populista passadista que se apoia no anticolonialismo de Simón Bolívar e no discurso socialista dos anos 1960, como a crítica ao livre mercado e ao imperialismo dos EUA. No Índice de Liberdade Econômica de 2023, a Venezuela está na posição 174 —à frente apenas de outras duas ditaduras de esquerda, Cuba e Coreia do Norte.

Diz-se que seria de direita pois é militarista, tem apoio de evangélicos, não legaliza o aborto, nem respeita homossexuais. Mas tal argumento é um disparate, já que o esquerdismo de Maduro é datado, relativo ao período da Guerra Fria, não o em voga identitário, focado nos costumes.

O governo da Venezuela é uma ditadura de esquerda. Os cerca de 8 milhões de refugiados do país, que escaparam da fome e da violência estatal, a sentiram na pele. Não importa o malabarismo conceitual do PT, da militância e de parte da imprensa.

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Certeza que essa será a última coluna dessa repórter, escancarar a realidade é proibido, ainda mais nesse jornal.....