O Estado de S. Paulo
Centrão e mercado temem que ministra mantenha
duelo com Haddad e endureça política do governo
O presidente Lula disse que sente saudade de
Flávio Dino. Hoje ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dino não deixava
ataques sem resposta quando era titular da Justiça e fazia a disputa política
com a oposição. Desde que foi alçado ao STF por decisão do próprio Lula, há um
ano, o governo não tem mais quem vista tal figurino.
A escolhida para assumir esse papel, agora, é Gleisi Hoffmann. De saída da presidência do PT, a deputada tomará posse segunda-feira na Secretaria de Relações Institucionais, substituindo Alexandre Padilha, que comandará o Ministério da Saúde.
O que intriga o mundo político é como alguém
com perfil de enfrentamento como Gleisi pode construir alianças para as
eleições de 2026 e pontes com o Congresso.
“Preparem-se para morder a língua!”, disse o
líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT), ao lembrar os acordos firmados
por ela para a campanha de Lula, em 2022. “Gleisi sabe bem em que cadeira vai
sentar.”
Mesmo assim, a dúvida do Centrão e do mercado
persiste: ela vai desencarnar do papel de presidente do PT, cargo que exerceu
por quase oito anos?
No comando do partido, Gleisi sempre foi a
principal voz contra a política econômica do ministro da Fazenda, Fernando
Haddad. Sob sua direção, por exemplo, o PT chamou o ajuste das contas públicas
de “austericídio fiscal”.
O ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva –
cotado para presidir o PT a partir de julho – vai na direção oposta e prega uma
correção de rota no partido. No diagnóstico de Edinho, o PT precisa ter uma
estratégia para pôr fim à polarização no País.
A posição moderada do exprefeito, nome
favorito de Lula para ocupar a vaga de Gleisi, é descrita por aliados da futura
ministra como a defesa de um “PT sem dentes”. Mas, como tudo no Brasil começa
depois do carnaval, há que se ver agora como Lula vai conduzir essa queda de
braço nas fileiras do PT na segunda metade de seu mandato.
Além de fazer o papel de advogada da gestão
Lula e negociar palanques com os partidos nos Estados para o projeto de
reeleição do presidente, Gleisi também terá controle sobre a distribuição das
emendas parlamentares. Não é pouca coisa.
Engana-se, porém, quem pensa que a
ex-ministra da Casa Civil sob Dilma fará algo que Lula não queira. Não fez como
presidente do PT, quando abriu fogo contra Haddad, e não será agora que agirá
assim.
O estilo de Lula é o de estimular conflitos
na equipe para dar a última palavra. Foi assim com José Dirceu e Antônio
Palocci, está sendo com Rui Costa e Haddad e os próximos capítulos prometem
fortes emoções. Nessa novela sem fim, Gleisi é a continuísta que tentará salvar
a trama.
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