quarta-feira, 5 de março de 2025

Será que agora o ano começa? - Vera Magalhães

O Globo

Carnaval, Oscar, eleição das Mesas, acordo das emendas e reforma ministerial já passaram, e país precisa conhecer a agenda para 2025

Passados a eleição das Mesas do Congresso, o Carnaval, o Oscar, o acordo das emendas e a parte da reforma ministerial que diz respeito à articulação, não tem mais desculpa para 2025 não começar. Afinal, qual a agenda para este ano crucial para a economia e para a definição do futuro político do país? Estamos em março, mas a resposta não parece clara o suficiente e, para as coisas deslancharem, ainda há vários entraves no caminho.

Começando pelas questões mais comezinhas da pequena política, porque a composição das comissões permanentes da Câmara e do Senado ainda não está certa, e isso impede que deputados e senadores se dediquem de forma integral àquilo para que são eleitos e pagos: votar propostas que digam respeito à vida dos cidadãos.

Faz mais de um mês que Hugo Motta (Republicanos-PB) foi eleito para comandar a Câmara, mas os partidos seguem disputando espaço nas comissões, sobretudo na de Constituição e Justiça, que o PL pretendia manter para continuar fazendo guerrilha ideológica à frente do mais importante colegiado da Casa — mas que, já ficou claro, irá ou para o MDB ou para o União.

A expectativa é que a confirmação de Gleisi Hoffmann como nova responsável pela articulação política de Lula traga uma disposição renovada do Executivo para resolver esses nós e encaminhar votações como a do Orçamento deste ano, também ela refém de disputa por assentos nos postos-chave e da necessidade de um desfecho para a novela das emendas, que aconteceu em plena segunda-feira de carnaval.

Pessoas próximas a Hugo Motta e Davi Alcolumbre (União-AP) respiravam aliviadas com a solução chancelada por unanimidade pelos ministros do Supremo Tribunal Federal, que permitirá um critério para liberar não só as emendas de 2025 — tirando a proposta de LOA deste ano do cativeiro em que se encontra —, como o que está represado do ano passado, com preciosas obras paradas que agora poderão andar.

Mas ninguém acredita que o tema das emendas simplesmente sumirá no horizonte. Os inquéritos da Polícia Federal se avolumam e se aprofundam em esquemas que se mostraram bastante consolidados e, sobretudo, resistentes a sucessivas tentativas de dar mais transparência à execução das emendas. Isso vai requerer que o STF, aqui e ali, continue dando “incertas” no cumprimento das regras do acordo agora avalizado pelo conjunto dos ministros, e Flávio Dino deverá seguir como esse xerife não tão popular.

Com esse equilíbrio meio precário, algo desconfiado entre os Poderes, será que o ano caminhará para a discussão de projetos que indiquem a empresários, investidores, trabalhadores e demais setores para onde caminhará o barco do Brasil pelos agora menos de dois anos que restam de mandato a Lula?

Nesse aspecto, a sinalização quanto ao compromisso com o ajuste fiscal de Fernando Haddad também é algo que está por vir com o início mais efetivo dos trabalhos no Legislativo. Lula e outros auxiliares deram sucessivas declarações de que o que tinha de ser anunciado em termos de cortes de despesas já foi.

A chegada de Gleisi à Secretaria de Relações Institucionais foi entendida como reafirmação dessa disposição. Tudo isso deve aumentar a responsabilidade do próprio Haddad na condução das conversas para a votação da pauta econômica, que, por mais que seja menos pesada neste ano, ainda tem projetos importantes para ser levados a cabo, entre eles a discussão da reforma do Imposto de Renda, que começou enviesada no fim do ano passado e precisa ser feita de forma menos atabalhoada, já que se trata de promessa de campanha de Lula, e dificilmente o presidente desistirá dela.

Quase um trimestre se perdeu numa espécie de ensaio geral do ano. Não há mais tempo a perder com hesitações. Está na hora de aqueles que foram eleitos ou escolhidos para seus postos empunharem a caneta, arregaçarem as mangas e mostrarem a que vieram.

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