Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
As pesquisas ainda não mediram esse dado, mas, se vierem a medir o grau de aprovação ou rejeição popular à vulgaridade de algumas campanhas neste segundo turno, não será uma surpresa se revelarem que, para a maioria, uma grosseria a mais ou a menos tanto faz como tanto fez.
Tendo em vista a estatura do ambiente em geral, o surpreendente - e suspeito do ponto de vista da sinceridade dos pesquisados - seria a revelação de alto índice de repúdio à chamada “baixaria” dos métodos, termos e condutas adotados na aflição da reta final.
Afinal, não há nada muito fora do compasso em relação à “rotina de desfaçatez” - para usar expressão do ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello - já devidamente incorporada ao cotidiano das mais altas esferas da República.
O que há de estranho em panfletos apócrifos distribuídos pelas ruas do Rio de Janeiro ou de questões capciosas para atingir a honra de um adversário em São Paulo, diante de um dossiê com informações de propriedade do Estado produzido dentro da Casa Civil da Presidência da República para intimidar moralmente a oposição numa Comissão Parlamentar de Inquérito? E por que mentiras deslavadas passariam de repente a causar pasmo e indignação, bem como exibições de cinismo, incoerência, contorcionismos vertebrais e outros que tais, se nada de diferente se tem mostrado no cenário nacional nos últimos anos, sob o beneplácito da maioria? E dizer mesmo o que a respeito de palavras chulas? Linguajar arrevesado, sotaques inventados, perfis de populismo bem amoldado à ocasião conveniente? Ora, ora, é só do que tem vivido basicamente a política, é o comportamento de esperteza celebrado aos píncaros da genialidade, desde que se descobriu o reduzido valor dos valores na avaliação dos representantes na hora de escolher e avaliar seus representados.
Quando todos se dobram a qualquer prática desde que rendam bons resultados independentemente dos princípios adotados, tratar a “baixaria” como exceção denota a extinção do senso de realidade. Ou, então, é sinal de que a impudência está de tal maneira agregada aos espíritos que já faz zombaria da autocrítica fantasiada de vestal.
Esquisito seria se diante do aval diário a toda sorte de comportamentos infames, os candidatos no desespero da luta pelo poder optassem por se conduzir a partir da mais pura ética a combater com a elegância de esgrimistas.
Se é a brutalidade do vale-tudo o que produz sucesso, se o dom de iludir é a capacidade mais reverenciada, se as urnas - como se alega por aí - já disseram que essa coisa de moral e comportamento só comove os fariseus, natural que os arquitetos da propaganda política tomem como verdadeira a prevalência da admiração pela vitória sobre o exame da qualidade dos custos.
Quem ganha tem razão, é assim que está posta a equação das coisas brasileiras. Portanto, vale usar grevistas armados, deslocar a polícia da defesa para o ataque, conferir o mesmo tratamento a gente de bem, réus e acusados, atuar como algoz e discursar na condição de vítima, condenar num dia e absolver no outro em nome do interesse, vale qualquer coisa para vencer.
E só há um jeito de não valer: o eleitor revogar a regra e dizer chega.
Mano a mano
No oficial, a campanha de Marta Suplicy anunciava intenção de comparar a administração dela à de Gilberto Kassab. Guerra de obras.
No paralelo, porém, a decisão de partir para o pessoal já estava tomada. Primeiro, porque obra por obra, Kassab conta com a vantagem de falar no presente.
Segundo, como a rejeição à ex-prefeita é à pessoa, não à administração (tanto que em 2004 ela perdeu com ótima avaliação de governo), a única saída era lutar no mesmo campo.
Dia seguinte
Certamente são sinceras as declarações de apreço do candidato a prefeito do Rio Eduardo Paes ao novo aliado e ex-candidato Marcelo Crivella.
Bem como é pleno de franqueza o silêncio do seu padrinho político, o governador Sérgio Cabral a respeito.
Desafeto assumido de Crivella, Cabral fez questão de manter a distância registrada em cartório do Planalto: logo no início da campanha comunicou ao presidente Lula que a sua fidelidade não ultrapassaria aquele limite e, portanto, não atenderia a eventuais pedidos de apoio ao “ex-bispo” senador.
Entre outros motivos porque não tinha razão nem disposição para se indispor com as Organizações Globo, em disputa permanente com a Rede Record do “bispo” Macedo.
Pois bem. Nessa situação, se Eduardo Paes se eleger prefeito, de duas, uma: ou Crivella não leva nada na divisão da administração e isso significa que o apoio foi a leite de pato, ou negociou “parceria de governabilidade” e isso quer dizer que Cabral teve de conceder à circunstância eleitoral o que não pode ceder ao presidente da República.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
As pesquisas ainda não mediram esse dado, mas, se vierem a medir o grau de aprovação ou rejeição popular à vulgaridade de algumas campanhas neste segundo turno, não será uma surpresa se revelarem que, para a maioria, uma grosseria a mais ou a menos tanto faz como tanto fez.
Tendo em vista a estatura do ambiente em geral, o surpreendente - e suspeito do ponto de vista da sinceridade dos pesquisados - seria a revelação de alto índice de repúdio à chamada “baixaria” dos métodos, termos e condutas adotados na aflição da reta final.
Afinal, não há nada muito fora do compasso em relação à “rotina de desfaçatez” - para usar expressão do ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello - já devidamente incorporada ao cotidiano das mais altas esferas da República.
O que há de estranho em panfletos apócrifos distribuídos pelas ruas do Rio de Janeiro ou de questões capciosas para atingir a honra de um adversário em São Paulo, diante de um dossiê com informações de propriedade do Estado produzido dentro da Casa Civil da Presidência da República para intimidar moralmente a oposição numa Comissão Parlamentar de Inquérito? E por que mentiras deslavadas passariam de repente a causar pasmo e indignação, bem como exibições de cinismo, incoerência, contorcionismos vertebrais e outros que tais, se nada de diferente se tem mostrado no cenário nacional nos últimos anos, sob o beneplácito da maioria? E dizer mesmo o que a respeito de palavras chulas? Linguajar arrevesado, sotaques inventados, perfis de populismo bem amoldado à ocasião conveniente? Ora, ora, é só do que tem vivido basicamente a política, é o comportamento de esperteza celebrado aos píncaros da genialidade, desde que se descobriu o reduzido valor dos valores na avaliação dos representantes na hora de escolher e avaliar seus representados.
Quando todos se dobram a qualquer prática desde que rendam bons resultados independentemente dos princípios adotados, tratar a “baixaria” como exceção denota a extinção do senso de realidade. Ou, então, é sinal de que a impudência está de tal maneira agregada aos espíritos que já faz zombaria da autocrítica fantasiada de vestal.
Esquisito seria se diante do aval diário a toda sorte de comportamentos infames, os candidatos no desespero da luta pelo poder optassem por se conduzir a partir da mais pura ética a combater com a elegância de esgrimistas.
Se é a brutalidade do vale-tudo o que produz sucesso, se o dom de iludir é a capacidade mais reverenciada, se as urnas - como se alega por aí - já disseram que essa coisa de moral e comportamento só comove os fariseus, natural que os arquitetos da propaganda política tomem como verdadeira a prevalência da admiração pela vitória sobre o exame da qualidade dos custos.
Quem ganha tem razão, é assim que está posta a equação das coisas brasileiras. Portanto, vale usar grevistas armados, deslocar a polícia da defesa para o ataque, conferir o mesmo tratamento a gente de bem, réus e acusados, atuar como algoz e discursar na condição de vítima, condenar num dia e absolver no outro em nome do interesse, vale qualquer coisa para vencer.
E só há um jeito de não valer: o eleitor revogar a regra e dizer chega.
Mano a mano
No oficial, a campanha de Marta Suplicy anunciava intenção de comparar a administração dela à de Gilberto Kassab. Guerra de obras.
No paralelo, porém, a decisão de partir para o pessoal já estava tomada. Primeiro, porque obra por obra, Kassab conta com a vantagem de falar no presente.
Segundo, como a rejeição à ex-prefeita é à pessoa, não à administração (tanto que em 2004 ela perdeu com ótima avaliação de governo), a única saída era lutar no mesmo campo.
Dia seguinte
Certamente são sinceras as declarações de apreço do candidato a prefeito do Rio Eduardo Paes ao novo aliado e ex-candidato Marcelo Crivella.
Bem como é pleno de franqueza o silêncio do seu padrinho político, o governador Sérgio Cabral a respeito.
Desafeto assumido de Crivella, Cabral fez questão de manter a distância registrada em cartório do Planalto: logo no início da campanha comunicou ao presidente Lula que a sua fidelidade não ultrapassaria aquele limite e, portanto, não atenderia a eventuais pedidos de apoio ao “ex-bispo” senador.
Entre outros motivos porque não tinha razão nem disposição para se indispor com as Organizações Globo, em disputa permanente com a Rede Record do “bispo” Macedo.
Pois bem. Nessa situação, se Eduardo Paes se eleger prefeito, de duas, uma: ou Crivella não leva nada na divisão da administração e isso significa que o apoio foi a leite de pato, ou negociou “parceria de governabilidade” e isso quer dizer que Cabral teve de conceder à circunstância eleitoral o que não pode ceder ao presidente da República.
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