Liliana Lavoratti
DEU NA GAZETA MERCANTIL
A recondução do senador José Sarney (PMDB-AP) e do deputado Michel Temer (PMDB-SP) para a presidência do Senado e da Câmara, respectivamente, expressa a dificuldade que o sistema político brasileiro apresenta em produzir lideranças novas. Existem várias razões para que isto ocorra. A baixa representatividade social dos partidos e dos políticos é a principal delas. Desta forma, não surgem lideranças autênticas que sejam expressão de setores sociais importantes.
Essa é a opinião do analista político Aldo Fornazzieri, diretor acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp). "As lideranças, via de regra, se formam no âmbito dos aparelhos institucionais e partidários. Mas como esses aparelhos são dominados por oligarquias políticas, ou seja, por um pequeno número de chefes que se perpetuam no comando, o processo de ascensão de novos líderes fica bloqueado", argumenta.
No caso da Câmara e do Senado, esta ascensão de novas lideranças é ainda mais difícil. Segundo Fornazzieri, ocorre ali uma divisão bem clara de papéis e funções. "Por um lado, temos um alto clero que faz rodizio na ocupação dos principais cargos do Legislativo; por outro, existe a massa de deputados e senadores que pertencem ao baixo clero. Para estes sobram migalhas no banquete da celebração política. Somente o alto clero projeta fama, luzes e atenção. Neste contexto, não há nenhum segredo na recondução de Sarney e Temer", critica o analista.
Integrantes da elite
Segundo Fornazzieri, Sarney e Temer "são políticos experientes que há anos fazem parte da elite política da Câmara e do Senado". Os dois ocupam o cargo pela terceira vez. Sarney, um dos políticos mais influentes da política brasileira - foi deputado federal, governador e presidente da República - está no quarto mandato de senador. Temer está no sexto mandato de deputado federal. O analista acredita que, enquanto o sistema político não for capaz de resolver o problema da efetiva representação social dos partidos e dos representantes políticos, o processo de renovação e de projeção de novas lideranças autênticas sempre será sofrível.
Na avaliação do cientista político do Ibmec de São Paulo, Carlos Melo, a crise de lideranças no País se reflete neste momento de desaquecimento da atividade econômica. Hoje, observa, o mercado e os agentes econômicos em geral, que sempre refutaram a interferência dos políticos e do Estado no setor privado, agora precisam de uma instância que coordene as ações e, em tese, quem deveria fazer isso são os governantes e políticos.
Ainda de acordo com Melo, a situação é tão crítica que nem mesmo o presidente Lula - cuja popularidade, de 84%, segundo a última pesquisa CNT-Sensus, é inédita no Brasil recente - consegue exercer uma liderança compatível esse grau de aceitação perante a população. "Pelo contrário, tivemos recentemente a barbeiragem do governo federal na medida que pretendia restringir as importações. Dias depois, a equipe econômica voltou atrás. Isso demonstra falta de rumo", afirma.
"Se houver alguma aceleração das reformas pendentes, como as tributárias e trabalhista, é a própria crise que vai impor, não porque os dirigentes políticos vão encabeçar uma agenda positiva para o momento", acentua Melo, que participa em São Paulo do Grupo Novos Líderes, formado por jovens interessados no tema. "Os jovens românticos das décadas de 60 e 70 não estão mais na política; os partidos renovaram quase nada de seus quadros dirigentes. Quem seriam as novas lideranças do futuro próximo?", questiona.
Melo lembra que da geração de 1964, por exemplo, o único remanescente é o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que tem em 2010 sua última chance de chegar à presidência da República. Da leva de políticos surgidos na redemocratização, a maioria já está com idade avançada ou perto disso, caso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva", afirma o analista."E o pior é que existem exceções, mas elas são engolidas por esse sistema viciado e o que fica para a população é o corregedor da Câmara que não quer corrigir nada", afirma, referindo-se à denúnica contra o deputado Edmar Moreira (DEM-MG), devedor da Previdência Social e que não teria declarado ao Imposto de Renda um castelo de sua propriedade.
Continuidade disfarçada
E qual é a percepção de quem está dentro da política? Para a deputada estadual Maria Lucia Amary (PSDB), de Sorocaba, interior de São Paulo, que está na metade do segundo mandato na Assembléia Legislativa paulista, e uma lideranças em ascensão no partido, os vícios no processo político são de toda ordem. Vice-líder do governo e líder da bancada tucana no Legislativo estadual, ela é relatora de uma mudança na constituição estadual para modernizar o regimento da Casa, feito trinta anos atrás. "As estruturas do sistema político em geral não facilitam uma maior oxigenação do poder, inclusive o surgimento de lideranças", diz.
Embora considere relevante a experiência acumulada pelos dirigentes que ficam um longo tempo nos postos de comando, seja dos partidos, do Executivo ou Legislativo, Amary acredita que alguns vícios podem ser extirpados se houver maior espaço para lideranças comprometidas com uma nova maneira de fazer política. "A reeleição do senador José Sarney e do deputado Michel Temer para o Senado e a Câmara são uma prova de que quase sempre os mesmos se alternam no poder, numa continuidade disfarçada", ressalta a parlamentar tucana.
Segundo ela, dificilmente ocorre uma alternância na condução do poder, inclusive em nível interno das estruturas partidárias. "São os mesmos candidatos que se revezam nos mesmos cargos e dificilmente tem espaço para um nome novo. E não é por menos que existe um estrangulamento de candidaturas, pois as lideranças estão no mesmo patamar. Desse jeito não emerge um nome com força eleitoral para se sobressair naturalmente em relação aos demais", diz a deputada, referindo-se à disputa em curso no interior do PSDB paulista para a definição da candidatura à sucessão do governador Serra.
O ex-governador e recentemente nomeado secretário estadual de Planejamento, Geraldo Alckmin, Aloísio Nunes Ferreira (secretário da Casa Civil), o vice-governador, Alberto Goldman, e o líder da bancada tucana na Câmara, deputado José Aníbal, pleiteiam a vaga. "E se falarmos da situação das mulheres nesse jogo, aí é que o quadro fica dramático", acrescenta Amary.
DEU NA GAZETA MERCANTIL
A recondução do senador José Sarney (PMDB-AP) e do deputado Michel Temer (PMDB-SP) para a presidência do Senado e da Câmara, respectivamente, expressa a dificuldade que o sistema político brasileiro apresenta em produzir lideranças novas. Existem várias razões para que isto ocorra. A baixa representatividade social dos partidos e dos políticos é a principal delas. Desta forma, não surgem lideranças autênticas que sejam expressão de setores sociais importantes.
Essa é a opinião do analista político Aldo Fornazzieri, diretor acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp). "As lideranças, via de regra, se formam no âmbito dos aparelhos institucionais e partidários. Mas como esses aparelhos são dominados por oligarquias políticas, ou seja, por um pequeno número de chefes que se perpetuam no comando, o processo de ascensão de novos líderes fica bloqueado", argumenta.
No caso da Câmara e do Senado, esta ascensão de novas lideranças é ainda mais difícil. Segundo Fornazzieri, ocorre ali uma divisão bem clara de papéis e funções. "Por um lado, temos um alto clero que faz rodizio na ocupação dos principais cargos do Legislativo; por outro, existe a massa de deputados e senadores que pertencem ao baixo clero. Para estes sobram migalhas no banquete da celebração política. Somente o alto clero projeta fama, luzes e atenção. Neste contexto, não há nenhum segredo na recondução de Sarney e Temer", critica o analista.
Integrantes da elite
Segundo Fornazzieri, Sarney e Temer "são políticos experientes que há anos fazem parte da elite política da Câmara e do Senado". Os dois ocupam o cargo pela terceira vez. Sarney, um dos políticos mais influentes da política brasileira - foi deputado federal, governador e presidente da República - está no quarto mandato de senador. Temer está no sexto mandato de deputado federal. O analista acredita que, enquanto o sistema político não for capaz de resolver o problema da efetiva representação social dos partidos e dos representantes políticos, o processo de renovação e de projeção de novas lideranças autênticas sempre será sofrível.
Na avaliação do cientista político do Ibmec de São Paulo, Carlos Melo, a crise de lideranças no País se reflete neste momento de desaquecimento da atividade econômica. Hoje, observa, o mercado e os agentes econômicos em geral, que sempre refutaram a interferência dos políticos e do Estado no setor privado, agora precisam de uma instância que coordene as ações e, em tese, quem deveria fazer isso são os governantes e políticos.
Ainda de acordo com Melo, a situação é tão crítica que nem mesmo o presidente Lula - cuja popularidade, de 84%, segundo a última pesquisa CNT-Sensus, é inédita no Brasil recente - consegue exercer uma liderança compatível esse grau de aceitação perante a população. "Pelo contrário, tivemos recentemente a barbeiragem do governo federal na medida que pretendia restringir as importações. Dias depois, a equipe econômica voltou atrás. Isso demonstra falta de rumo", afirma.
"Se houver alguma aceleração das reformas pendentes, como as tributárias e trabalhista, é a própria crise que vai impor, não porque os dirigentes políticos vão encabeçar uma agenda positiva para o momento", acentua Melo, que participa em São Paulo do Grupo Novos Líderes, formado por jovens interessados no tema. "Os jovens românticos das décadas de 60 e 70 não estão mais na política; os partidos renovaram quase nada de seus quadros dirigentes. Quem seriam as novas lideranças do futuro próximo?", questiona.
Melo lembra que da geração de 1964, por exemplo, o único remanescente é o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que tem em 2010 sua última chance de chegar à presidência da República. Da leva de políticos surgidos na redemocratização, a maioria já está com idade avançada ou perto disso, caso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva", afirma o analista."E o pior é que existem exceções, mas elas são engolidas por esse sistema viciado e o que fica para a população é o corregedor da Câmara que não quer corrigir nada", afirma, referindo-se à denúnica contra o deputado Edmar Moreira (DEM-MG), devedor da Previdência Social e que não teria declarado ao Imposto de Renda um castelo de sua propriedade.
Continuidade disfarçada
E qual é a percepção de quem está dentro da política? Para a deputada estadual Maria Lucia Amary (PSDB), de Sorocaba, interior de São Paulo, que está na metade do segundo mandato na Assembléia Legislativa paulista, e uma lideranças em ascensão no partido, os vícios no processo político são de toda ordem. Vice-líder do governo e líder da bancada tucana no Legislativo estadual, ela é relatora de uma mudança na constituição estadual para modernizar o regimento da Casa, feito trinta anos atrás. "As estruturas do sistema político em geral não facilitam uma maior oxigenação do poder, inclusive o surgimento de lideranças", diz.
Embora considere relevante a experiência acumulada pelos dirigentes que ficam um longo tempo nos postos de comando, seja dos partidos, do Executivo ou Legislativo, Amary acredita que alguns vícios podem ser extirpados se houver maior espaço para lideranças comprometidas com uma nova maneira de fazer política. "A reeleição do senador José Sarney e do deputado Michel Temer para o Senado e a Câmara são uma prova de que quase sempre os mesmos se alternam no poder, numa continuidade disfarçada", ressalta a parlamentar tucana.
Segundo ela, dificilmente ocorre uma alternância na condução do poder, inclusive em nível interno das estruturas partidárias. "São os mesmos candidatos que se revezam nos mesmos cargos e dificilmente tem espaço para um nome novo. E não é por menos que existe um estrangulamento de candidaturas, pois as lideranças estão no mesmo patamar. Desse jeito não emerge um nome com força eleitoral para se sobressair naturalmente em relação aos demais", diz a deputada, referindo-se à disputa em curso no interior do PSDB paulista para a definição da candidatura à sucessão do governador Serra.
O ex-governador e recentemente nomeado secretário estadual de Planejamento, Geraldo Alckmin, Aloísio Nunes Ferreira (secretário da Casa Civil), o vice-governador, Alberto Goldman, e o líder da bancada tucana na Câmara, deputado José Aníbal, pleiteiam a vaga. "E se falarmos da situação das mulheres nesse jogo, aí é que o quadro fica dramático", acrescenta Amary.
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