quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Lula e MEC divergem sobre nova prova do Enem

DEU EM O GLOBO

Diante da confusão no governo, até bancada do PT pede a demissão do ministro da Educação

O presidente Lula e o Ministério da Educação não se entendem sobre o que fazer para reparar os erros no Enem 2010. Em Moçambique, Lula cedeu e disse que se for preciso, o MEC fará outra prova: "Nenhum jovem deixará de cursar a universidade porque teve problema no exame”. Mas, em nota, o MEC insistiu que não há necessidade de nova prova para todos os candidatos, embora o erro no cartão de respostas tenha sido geral. O MEC tentou até explicar a declaração de Lula: "O que o presidente afirmou é que o projeto do novo Enem, como anunciado na implantação, se consolidará com mais de uma edição por ano". Diante de tanta confusão, a bancada do PT na Câmara pediu a cabeça do ministro Fernando Haddad, informa Ilimar Franco no Panorama Político.

Mais desencontros sobre Enem

Lula agora diz que alunos podem ter de fazer outra prova, mas MEC afirma não ser preciso

Chico de Gois* e Demétrio Weber

MAPUTO e BRASÍLIA - Depois da confusão nas provas, ontem foi a vez de o governo não se entender sobre como resolver o problema dos candidatos que fizeram o Enem 2010 no último fim de semana, diante de tantas falhas cometidas pelo Ministério da Educação na aplicação do exame. Ao se despedir de Moçambique, em sua última visita à África como chefe de Estado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que, se for preciso, o MEC fará outra prova do Enem. Lula não explicou, porém, se o novo teste será para todos os 3,4 milhões de alunos ou somente para aqueles que tiveram problemas durante o exame.

Em Brasília, o MEC divulgou nota insistindo em afirmar que não há necessidade de nova prova para todos os candidatos.

Lula disse que conversou anteontem à noite com o ministro da Educação, Fernando Haddad, para saber como estava o andamento do caso. Na conversa, Lula perguntou ao ministro qual a garantia que podia dar para os estudantes. Segundo o presidente, há duas garantias: — Primeiro, nós vamos investigar o que aconteceu efetivamente no Enem e a Polícia Federal já está em campo. Segunda coisa que podemos dar garantia é que nenhum jovem deixará de cursar universidade porque teve problema no Enem. Se for necessário fazer uma prova, se for necessário fazer duas, nós faremos.

O dado concreto é que nós vamos fortalecer o Enem, porque é a melhor coisa que aconteceu até agora.

Horas depois das declarações de Lula, porém, a nota do MEC informou que o ministério não considera necessário aplicar nova prova do Enem. Segundo MEC, o que Lula quis dizer é que o Enem será consolidado com a aplicação de mais de uma edição do exame por ano, como previa o projeto de reformulação do teste, em 2009.

“O Ministério da Educação esclarece que, até o momento, não vê necessidade de realizar uma nova prova do Enem”, diz a nota. “O que o presidente da República afirmou é que o projeto do novo Enem, como anunciado na sua implantação, se consolidará com mais de uma edição por ano.”

MEC quer reaplicar teste para dois mil

Em Maputo, Lula reafirmou que o Enem irá continuar, independentemente dos problemas apresentados nas duas primeiras edições, em 2009 e 2010, e garantiu que os estudantes não ficarão sem entrar na faculdade.

— O Enem é o exemplo de uma coisa bem-sucedida no Brasil — defendeu ele. — Se tem problemas no Enem, a gente vai consertando os problemas e vai fortalecendo o Enem. Primeiro foram dois milhões, agora foram três milhões, daqui a pouco serão quatro milhões, seis milhões.

O MEC mantém a intenção de reaplicar a prova do Enem deste ano apenas para um número restrito de candidatos que receberam cadernos de questões com erros de impressão (prova do modelo de cor amarela), sem que fossem substituídos a tempo, no último sábado. Esse número seria inferior a 2 mil, num universo de 3,4 milhões de participantes no sábado — no domingo, o total caiu para 3,3 milhões.

“As informações que estão sendo apuradas pelo consórcio Cespe/ Cesgranrio (contratado para aplicar e corrigir o exame) e pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, órgão do ministério) dão conta que o número de estudantes verdadeiramente prejudicados é muito pequeno”, conclui a nota do ministério.

Por conta de decisão da Justiça Federal do Ceará, o Enem está suspenso e o MEC não pode divulgar o gabarito oficial da prova nem permitir que alunos recorram para pedir nova correção.

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