Simone Cândida
RIO - O governador Sérgio Cabral disse, em entrevista concedida na inauguração do Centro Vocacional Tecnológico de Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias, que o episódio envolvendo policiais no 'mensalão' do tráfico da UPP de Santa Teresa não suja a imagem do projeto no Rio.
- De jeito nenhum isso macula a imagem do projeto, pois o fato foi investigado pela corregedoria e os culpados foram punidos - explica.
Segundo o governador, o caso foi analisado pela corregedoria, e ele mesmo estava a par da denúncia a cerca de dez dias. De acordo com Cabral, o fato envolvendo os policiais foi um caso isolado, uma falha passível de acontecer em um universo de 40 mil policiais, mas o mais importante é que uma investigação foi feita e os culpados punidos.
No domingo, o capitão Sergio Stoll assumiu o comando da UPP nos morros da Coroa, Fallet e Fogueteiro, depois do afastamento do capitão Elton Costa e o tenente Rafael Medeiros, comandante e o subcomandante da UPP . Em entrevista ao jornal Extra, nesta segunda-feira, Stoll disse que não vai tolerar corrupção . Ele anunciou ainda que 30 policiais se apresentaram nesta segunda para integrar a UPP do Fallet e Fogueteiro, e ficarão no lugar dos 30 agentes que foram afastados.
A decisão de trocar o comando da UPP foi tomada após ter vindo à tona uma investigação sobre o pagamento de propinas a 30 policiais da UPP, revelada pelo jornal "O Dia", para facilitar o tráfico de drogas na região. O esquema funcionaria como um mensalão estimado em cerca de R$ 53 mil mensais. Os traficantes fariam pagamentos fixos aos PMs de R$ 400 a R$ 2 mil.
A Corregedoria de Inteligência da Polícia Militar, que investiga os policiais da unidade de Santa Teresa, teria informações de que os PMs que se recusavam a participar sofriam retaliação dos bandidos. Em junho, três PMs ficaram feridos numa explosão de granada - um deles perdeu uma perna - durante uma emboscada no Morro do Fallet.
Um outro incidente investigado foi a prisão de três PMs da UPP local com R$ 13 mil - em envelopes com nomes de policiais e valores entre R$ 100 e R$ 500 - na segunda-feira da semana passada, quando estavam de folga. A quantia foi achada por agentes da Corregedoria da Polícia Militar escondida no interior do veículo usado pelos PMs, num dos acessos ao Morro da Coroa. Um inquérito já havia sido instaurado na ocasião porque os PMs não explicaram a procedência do dinheiro. Agora, acredita-se que um sargento, que fazia parte do grupo, pode ser o operador da "caixinha" do tráfico. Escutas o teriam flagrado negociando valores para a retirada do policiamento de áreas onde há venda de drogas.
No sábado à noite, num confronto no Morro do Fogueteiro, um policial foi ferido no pescoço e no abdômen depois de cruzar, juntamente com outro PM, com um grupo de dez bandidos, todos armados, numa ronda de rotina . No domingo, a Secretaria de Segurança informou que o soldado Alexsandro Fávaro Rocha Coutinho, de 30 anos, poderá ficar tetraplégico. Formado na turma de 2009 com nota 8,6, ele estava nas ruas há apenas dois anos e meio. Apesar da gravidade da situação, o comandante Mário Sérgio afirmou que se trata de um caso isolado, que nada tem a ver com a realidade de outras 16 UPPs da cidade.
O clima era tenso no domingo nos morros da região, com cerca de 13 mil moradores. Pela manhã, o policiamento era reforçado com homens do Batalhão de Choque e do 4º BPM (São Cristóvão).
- Não há nada pacificado. Está tudo dominado ainda. A diferença é que os traficantes não usam mais fuzis, só pistolas. A gente continua com medo de andar nas ruas - disse uma moradora, que pediu para não ser identificada.
FONTE: O GLOBO
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