- O Globo
A decisão do ministro Eliseu Padilha de se demitir “num gesto político”, que pode ser seguido por outros ministros do PMDB ligados ao vice-presidente Michel Temer, abre uma nova trilha na disputa política pelo impeachment da presidente Dilma.
O cientista político Carlos Pereira, da Fundação Getulio Vargas no Rio, considera que esse é o momento da oposição, evai ser necessário, mais do que nunca, que o PSDB lidere esse processo.
Ele lembra que, de acordo coma literatura sobre impeachment, a consistência e a extensão dos protestos de rua são os aspectos mais importantes para que processos de impeachment sejam bem-sucedidos.
Mas ressalta que outro aspecto também decisivo será aposturado PMDB, poi sesse partido também vive um dilema de difícil resolução. Não sabe se deseja continuar jogando o jogo de coadjuvante (do “legislador mediano”) ou o jogo de protagonista (“majoritário”).
Carlos Pereira acaba de apresentar um trabalho (em coautoria com Samuel Pessoa e Frederico Bertholini) em Tel Aviv, Israel, que exatamente analisa esse dilema. Se, por um lado, o jogo majoritário tem o potencial de gerar os maiores retornos para o PMDB em caso de ser o vencedor, também tem o risco de gerar os maiores custos.
Por outro lado, continuar jogando o jogo coadjuvante do legislador mediano não gera os maiores retornos, mas possibilita retornos suficientes para que as suas principais lideranças continuem sobrevivendo no jogo político.
No momento, o PMDB está dividido, tanto que, na negociação par amontara comissão que vai analisar o pedido de impeachment, ele deve ter quatro deputados favoráveis à saída, e quatro a favor da permanência de Dilma.
Se evoluírem as negociações internas, e outros ministros também saírem do governo, é possível que a maioria da representação do PMDB seja favorável ao impeachment. Segundo o estudo dos especialistas da FGV-Rio, é mais fácil e mais barato para o governo ter um partido forte como o PMDB como coadjuvante na coligação, podendo assim maximizar o apoio político na legislatura com o menor custo possível.
Eles citam estudos recentes que demonstram que aumenta o custode governar comum Ministério heterogêneo ideologicamente e desproporcional no tamanho, comoéo caso do dap residente Dilma, que já teve 39 ministérios, e agora tem 31, abrangendo o largo espectro político que, em teoria, vai da extrema-esquerda à extrema-direita. Se bem que no Brasil não existem partidos extremistas na disputa do poder real, apenas na periferia política, eque surgem na televisão apenas na retórica da propaganda gratuita eleitoral.
No entanto, eé ocaso do PMDB,u mali adopo lítico de seu tamanho leva o governo atermais custos reais e políticos. É mais barato comprar um punhado de pequenos partidos do que um dos grandes. Foi esse raciocínio que levou o presidente Lula a montar seu primeiro Ministério sem o PMDB, e, em consequência, aconteceu o mensalão.
No momento, a presidente Dilma está enfrentando um dilema que os analistas da FGV ressaltam em seu estudo: o presidente enfrentará um risco maior sendo muito próximo e muito dependente de um aliado partidário forte.
Mesmo que, como nos governos de Lula e Dilma eles tenham mantido coalizões partidárias bastante amplas para diluir o poder do PMDB, os pequenos partidos, por sua vez, sugam cada vez mais do governo, sabendo que seu papel é importante, tendo quase sempre desproporcionais compensações.
O Executivo pode também se sentir ameaçado por um partido forte que tenha a capacidade de desafiálo, mudando de posição e oferecendo um candidato à sucessão presidencial, advertem os estudiosos. A situação do PMDB no momento é mais desafiadora do que essa aventada pelo estudo acadêmico.
Ele não apenas já vem anunciando que terá um candidato à sucessão de Dilma, como, coma perspectivado impeachment, começa ase mover para se apresentar como uma alternativa real aos problemas que o governo Dilma enfrenta.
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