Por André Guilherme Vieira – Valor Econômico
SÃO PAULO - O delegado da Polícia Federal (PF) em Curitiba, Filipe Pace afirmou ao indiciar ontem o ex-ministro Antonio Palocci por crime de corrupção passiva que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o "amigo" relacionado a R$ 23 milhões em planilha de propina que seria paga pelo Setor de Operações Estruturadas da empreiteira Odebrecht. O "amigo" citado no documento teria recebido R$ 8 milhões. A PF afirma ter provado que Palocci, preso preventivamente, é o "italiano" que aparece nas planilhas
"A análise aprofundada da planilha 'Posição-Italiano' revelou que os pagamentos, no total de R$ 8 milhões, foram debitados do 'saldo' da 'conta-corrente da propina' que correspondia ao agente identificado pelo codinome de amigo".
O delegado explica que a alcunha "amigo", quando usada pelo empresário Marcelo Odebrecht, é referência ao fato de Lula ser amigo de Emílio Odebrecht, patriarca do conglomerado de empresas - pai e filho buscam firmar acordos de delação premiada e de leniência com a Procuradoria-Geral da República.
"Luiz Inácio Lula da Silva era conhecido pelas alcunhas de 'amigo de meu pai' e 'amigo de EO', quando usada por Marcelo Bahia Odebrecht e, também, por 'amigo de seu pai' e 'amigo de EO', quando utilizada por interlocutores em conversas com Marcelo Bahia Odebrecht", aponta o relatório policial.
Segundo a PF, as suspeitas sobre Lula têm "respaldo probatório e coerência investigativa".
O relatório afirma que Palocci "foi o verdadeiro gestor de pagamentos de propina realizados pela Odebrecht e materializados nas planilhas 'Posição-Italiano"'.
O delegado pontua que, embora tenha deixado de exercer a função pública a partir da metade de 2011, Palocci continuou, "em virtude de cargos que exerceu e da posição de relevo dentro do Partido dos Trabalhadores, a gerir e a receber recurso de propina da Odebrecht, assim como a interferir em seu benefício". De acordo com a Operação Lava-Jato, entre 2008 e o fim de 2013, foram pagos pela Odebrecht mais de R$ 128 milhões ao PT e a agentes políticos, incluindo o ex-ministro, que também é suspeito de lavagem de dinheiro.
Além de Palocci, foram indiciados por corrupção seus ex-assessores Branislav Kontic (também preso preventivamente) e Juscelino Dourado, Marcelo Odebrecht e os marqueteiros João Santana e Mônica Moura.
Marqueteiro das campanhas presidenciais de Lula (2006) e de Dilma Rousseff (2010 e 2014), Santana e a mulher dele respondem a processo por corrupção e lavagem e confessaram ter recebido pagamentos por serviços à campanha da presidente por meio de caixa dois em contas no exterior.
Em nota, a defesa de Palocci afirmou que, "assim como acontece com a prisão, o despacho de indiciamento não se apoia em fatos concretos". A defesa de Kontic disse que não há justificativa nem para a prisão, nem para o indiciamento dele. Os defensores de João Santana alegaram que os recursos movimentados por ele "são fruto de trabalho efetivamente realizado". Os advogados de Lula afirmaram que "a Lava-Jato não apresentou qualquer prova que possa dar sustentação às acusações formuladas contra o ex-presidente Lula", e que essas acusações são "frívolas".
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