O jogo de azar no Brasil sempre ensejou um submundo de grupos criminosos
Os jogos de azar foram banidos do país em 30 de abril de 1946, por decreto do presidente Eurico Gaspar Dutra, satisfazendo um desejo legítimo da sociedade brasileira. Nessas sete décadas, não faltaram projetos de lei propondo a legalização do jogo. Eles florescem essencialmente em épocas de crise econômica, como a atual, quando argumentos como incremento de arrecadação e geração de empregos ganham mais apelo — especialmente num cenário de estados falidos.
Mas os possíveis benefícios da legalização dos jogos de azar não compensariam os inúmeros malefícios. Historicamente, no Brasil, esse negócio sempre esteve atrelado a um submundo de organizações criminosas, que corrompem, matam, lavam dinheiro e agem como autênticos mafiosos nas disputas pelo controle da atividade.
Estão aí os exemplos do jogo do bicho e dos caça-níqueis. Atividades ilegais, mas que são exercidas amplamente, em alguns casos à luz do dia, sob as vistas grossas de autoridades e da própria sociedade.
Em maio de 1993, 14 chefões do jogo do bicho foram condenados pela juíza Denise Frossard por crime de formação de quadrilha. A decisão histórica, além de colocar os bicheiros na cadeia, teve a importância de revelar como agia o “tribunal” da contravenção, em que bicheiros se reuniam para combinar a morte de seus adversários.
Por trás das clandestinas máquinas de caça-níqueis, também se esconde hoje uma rede de criminalidade que se faz notar pelos homicídios decorrentes da disputa pelos pontos de jogo. A julgar pelo histórico de assassinatos, é difícil acreditar que a simples legalização da atividade faria com que os inimigos selassem a paz.
Mas há outros aspectos a serem levados em conta. Está comprovado que jogos de azar aumentam os casos de endividamento das famílias. Já aconteceu no Brasil, no tempo em que eles eram liberados, e ocorre em outros países.
Aqueles que defendem a legalização da atividade apresentam exemplos e números que mostram apenas um lado da questão. A cidade americana de Las Vegas, meca dos jogos, por exemplo, está localizada num país que tem um sistema de controle de lavagem de dinheiro muito mais eficiente do que o nosso.
Além disso, nossas cidades têm outras vocações. Desfrutam de natureza exuberante. Se a questão é aumentar a arrecadação e o fluxo turístico, a discussão precisa ser outra. Deve-se perguntar por que não se trata o turismo de forma profissional, por que não se dá segurança ao turista, por que a infraestrutura é tão precária, por que alguns serviços são tão ruins e por que não se consegue viabilizar economicamente cidades localizadas em cenários paradisíacos.
Cidades que tinham suas economias atreladas ao jogo, como as estâncias hidrominerais do Sul de Minas, certamente sofreram impacto com o fechamento dos cassinos. Mas isso foi há 70 anos. Nesse período, o país mudou, a internet revolucionou costumes, novas vocações surgiram. Deixar-se iludir por uma atividade que há muito foi rechaçada pela sociedade brasileira é apostar na volta de um passado sombrio.
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