Uso de servidores pela gestão Crivella para intimidar imprensa precisa de punição
Seguindo o mau exemplo de seu aliado político Jair Bolsonaro (sem partido) de mandar jornalistas calarem a boca, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcello Crivella (Republicanos), resolveu escalar servidores municipais a fim de intimidar a mídia e os próprios cariocas para que não apontem irregularidades em sua administração.
Composto por funcionários públicos, um grupo batizado "Guardiões do Crivella" dava plantão na frente de hospitais municipais para constranger os cidadãos que tentavam falar com repórteres para apresentar suas queixas. Não se trata de casos isolados.
Como mostrou a TV Globo, há um esquema organizado, com escala de serviço, para cercear o trabalho da imprensa. Ao que tudo indica, o "Guardiões do Crivella" e outros dois grupos que atuavam da mesma maneira respondiam a assessores diretos do prefeito.
A desfaçatez com que agem essas milícias de crachá é tamanha que despertou a atenção de autoridades estaduais e dos vereadores.
A Polícia Civil do estado deflagrou a Operação Freedom, em que cumpriu nove mandados de busca e apreensão na investigação de crimes contra a segurança de serviço de utilidade pública, associação criminosa e advocacia administrativa. As penas por esses delitos, somadas, chegam a nove anos.
Já os vereadores não apenas entraram com um pedido de impeachment do prefeito, que já foi considerado cabível pelo presidente da Câmara e deve passar por um primeira votação em plenário nesta quinta (3), como também pretendem instaurar uma comissão parlamentar de inquérito sobre o caso.
É obviamente inadmissível que sejam designados servidores públicos não só para desempenhar uma função não prevista na legislação como uma que contraria o interesse da sociedade. Desmantelar esse esquema é o imperativo imediato, sem prejuízo de sanções políticas e criminais cabíveis.
Não há como deixar de lamentar o triste momento por que passa o Rio de Janeiro. Crivella, há pouco absolvido num processo de impeachment, tem grande chance de responder a uma segunda ação. Isso ao mesmo tempo em que o governador do estado, Wilson Witzel, agora afastado por seis meses do cargo, enfrenta seu próprio processo de cassação na Assembleia Legislativa.
Essas circunstâncias só aumentam a responsabilidade do eleitor carioca no pleito de novembro.
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