Os resultados do primeiro turno das
eleições municipais foram construídos nas Redes Sociais, nos Meios de
Comunicação, nos Movimentos Sociais e Suprapartidários da Sociedade Civil,
resultando na eleição de novas lideranças mais comprometidas com as agendas sociais,
culturais, econômicas , ambientais e comportamentais da Cidadania.
Segundo
os resultados da pesquisa do Instituto IDEIA, em parceria com a Revista Exame, realizada recentemente,
no período de 16 a 19 de novembro, 27% dos brasileiros ficaram indiferentes aos
resultados das eleições municipais realizadas no último 15 de novembro. Esta
indiferença está próxima ao nível de abstenção recorde de 23% registrado pelo
Tribunal Superior Eleitoral, refletindo no nível de satisfação do eleitorado:
os satisfeitos com a eleição somam apenas 41% e o nível de insatisfação
registrado é de 31%.
Quais são as causas e as
consequências desta indiferença e não participação da Cidadania no processo
político-eleitoral em curso, sendo o voto obrigatório?
Esta análise deve ser feita, para melhor conhecimento da nossa realidade
política e social. São questões a serem consideradas no caminho de construção
de uma alternativa política democrática para enfrentar os desafios eleitorais
de 2022.
Ao mesmo tempo, nesta eleição municipal houve um maior protagonismo dos movimentos sociais em defesa de uma efetiva participação política das mulheres, dos negros, dos indígenas, dos LGBT+, nas questões sociais e ambientais em geral, traduzido em uma renovação das Câmaras Legislativas e Prefeituras dos médios e grandes municípios, trazendo a voz rouca dos excluídos da Sociedade para o exercício do poder municipal. Ainda, neste cenário, há que considerar a eleição de lideranças religiosas, na maioria evangélicas, o que já vem ocorrendo no Brasil, há muitos anos.
Portanto, a Sociedade colocou para os seus representantes a urgência de superação dos reais problemas do dia a dia da população. Os(as) prefeitos(as) e vereadores(as) eleitos(as) vão enfrentar, desde o primeiro dia dos seus mandatos, a difícil realidade de uma parcela majoritária da população dos municípios brasileiros, que vive em condições precárias de moradia, segurança, educação, saúde, saneamento e mobilidade urbana.
Assim, estes(as) vereadores(as) e prefeitos(as) eleitos(as) devem estar comprometidos(as) com o enfrentamento sistemático desses graves problemas sociais, econômicos e ambientais, agravados com a pandemia que deverá se estender pelo ano de 2021.
A maneira de governar e de se
relacionar com a Sociedade coloca-se, cada vez mais, como a centralidade nas
relações entre os governantes e os governados. Devendo se refletir no processo
de construção de novos conteúdos de uma governança que se quer democrática para
a realização das mudanças necessárias durante e pós-pandemia, em cada município
brasileiro.
Os resultados eleitorais, no
primeiro turno, apontam para o fortalecimento do centro político. A alta popularidade do presidente Bolsonaro
não lhe trouxe os resultados eleitorais almejados. As populações dos municípios
sinalizaram que a polarização da Sociedade não resolve as dificuldades
cotidianas da Cidadania, muitas vezes, agrava, quando trazemos para a realidade
municipal as polarizações políticas nacionais, que não ajudam a enfrentar os
reais problemas da Sociedade.
Naturalmente, os resultados das
eleições municipais não interferem diretamente nas eleições de 2022. No
entanto, o surgimento de novas lideranças municipais e regionais podem mudar a
composição atual das bancadas estaduais e federais, objeto de uma maior
preocupação da maioria dos partidos, frente à nova legislação eleitoral: a
eleição de uma numerosa bancada federal em 2022 vai ser determinante na
existência de cada partido que queira continuar a ter um protagonismo na
política nacional .
Assim, a
população falou nas urnas. Quer mudar, com a urgência devida, a nossa trágica
realidade social, desnudada com a pandemia.
O Brasil
bipolar, dos extremos, não conseguiu e nem consegue enfrentar e construir
soluções para os complexos desafios da realidade brasileira, nem a nível
municipal, muito menos em escala nacional. O segundo turno deve confirmar esta
tendência nas urnas. Os desafios econômicos, sociais e ambientais, históricos e
atuais da sociedade brasileira devem ser enfrentados de uma maneira
propositiva, ampliando a capacidade de diálogo e de construção de pactos políticos
e sociais que avance e consolide a democracia brasileira, no caminho de
transformação da nossa injusta realidade política, econômica e social.
Neste
contexto, todos(as) estão desafiados(as) a ter uma efetiva participação na
construção e na implementação de políticas públicas municipais, colaborando com
o processo de avaliação permanente destas políticas, na busca de atender as
demandas municipais, em sintonia com as outras políticas públicas regionais e
nacionais, no caminho da sustentabilidade econômica, social e ambiental de cada
município brasileiro.
Os(As)
vereadores(as) e prefeitos(as) eleitos(as) estão desafiados(as) a construir
novas relações de Governança entre o Estado, o Mercado e a Sociedade em
geral. As atuais relações não atendem às
demandas da maioria da população dos municípios brasileiros.
A
criação de mecanismos institucionais de acompanhar e avaliar as relações entre
o Executivo, o Legislativo e a Sociedade municipal, desafia a Cidadania e o
poder público à construção de novas relações entre os atores políticos,
econômicos e sociais do município, na busca da sustentabilidade econômica,
social e ambiental da Sociedade.
Considerando
sempre a necessidade de uma visão sistêmica no processo de construção das
políticas públicas em geral. Colocando-se como imperativa a escolha de
prioridades, através de dialogo permanente entre governantes e governados, que
garantam a implementação de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade
municipal, articuladas às políticas regionais, sob responsabilidade estadual e
federal, construindo pactos de cooperação entre o Estado, o Mercado e a
Sociedade Civil, através de redes regionais, nacionais e internacionais, com
foco na melhoria do bem-estar da população.
Estes
são os nossos dilemas a serem superados
para o avanço da democracia brasileira, com a inclusão desta maioria excluída
da população no processo de construção de políticas públicas sustentáveis nas
áreas de educação, moradia, saúde, saneamento básico, segurança, mobilidade,
trabalho e renda, como condições elementares para a dignidade da vida social em
cada município brasileiro.
Portanto,
o exercício pleno da Cidadania, com a participação proativa da Sociedade, é a
práxis que vai criar as condições para uma efetiva transformação da realidade
política, econômica e social de cada município e de toda a Sociedade
brasileira.
São os
desafios permanentes dos prefeitos(as), dos vereadores(as) e da Cidadania
brasileira.
*George
Gurgel de Oliveira, professor da Universidade Federal da Bahia e da Oficina da
Cátedra da UNESCO-Sustentabilidade
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